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POLITIZADO OU NÃO?







Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

A cidadania, o voto, a alternância do poder, o ser politizado são fontes primárias do regime democrático. Logo vem um questionamento: você realmente é um ser politizado, apesar de ser o homem definido como um animal político por natureza? Uma vez que vive em sociedade.
Uma análise profunda do conflito de ideias por meio das redes sociais nós percebemos que o ser é político, no entanto, está muito longe de ser politizado no sentido lato da expressão por que não coloca na prática os ditames da democracia. Agressividades mútuas de ordem pessoal, adesão sistêmica às ideias criadas e
inventadas pela cúpula partidária, compactuação com os crimes praticados pelos adeptos, isto é ser politizado? Acusações levianas as outras instituições e autoridades que estão distantes das falcatruas, aceitação inarredável dos erros cometidos, apoio incondicional às mentiras deslavadas, isto é ser politizado? Parece um rebanho de tolos sendo levado para o abate no matadouro. Olhar os erros dos outros e esquecer os próprios, criar enganações cavilosas, o uso de expressões intolerantes, chulas, rasteiras, como urubólogo, burro, coxinha, reaça, etc, isto é ser politizado? Todos os adversários são burros e não pensam, e quando pensam, pensam errado? Onde ficam o debate e a defesa das questões sociais? Não! O alinhamento partidário é mais importante do que o bem da coletividade. Ninguém alerta para o erro? Que é isso companheiro? E como é que eles pensam? Só pensam o politicamente correto?
Lembramo-nos do diálogo entre Sócrates e Alcebíades, narrado por Platão sobre o ser politizado: Quando jovem Alcibíades disse a Sócrates que desejava ser um líder de homens, um dos que pudessem falar na Ágora e encaminhar os negócios da cidade. Sócrates lhe disse que essa tarefa demandava conhecimento. Alcibíades retrucou afirmando que, perto dos homens de destaque na Ágora, o que ele sabia já era até mais que o suficiente. Criando uma narrativa sobre a preparação de príncipes na Pérsia e outros reinos do mundo antigo, Sócrates o fez ver que ele sabia bem menos do que imaginava saber para poder ser o que desejava. O que ele desejava, afinal, era ser um político. O filósofo tentou mostrar lhe, talvez por meio de uma exposição muito mais imaginativa do que pudesse admitir, que ele não tinha que pensar em suas necessidades objetivas a partir de seus pares, mas a partir das necessidades de Atenas diante do exterior. Alcibíades era sobrinho do grande Péricles. Apesar de Sócrates frequentar a casa de Péricles, e de dizer que recebia aulas de dialética da esposa estrangeira do governante, a bela Aspásia, ele estava longe de ser um admirador de políticos. Decididamente, Sócrates não os achava inteligentes. Muito menos acreditava que, para poder tocar os negócios da cidade como eles vinham sendo levados adiante, era mesmo necessário algum conhecimento digno de nota. Na verdade, Sócrates não tinha lá em alta conta o saber político”.
A ideia de um saber político não veio dos gregos, mas dos romanos. Quando as cidades reemergiram nos tempos finais do feudalismo, o saber burguês de organização dos burgos não tinha onde beber senão em novos teóricos que, por sua vez, só tinham como exemplos práticos o modo de governo dos diversos locais que haviam sido, um dia, centralizados pelos césares. A própria Revolução Francesa e a Americana se travestiram com roupas romanas. Todavia, elas inauguraram o novo apreço pela cidade e criaram um saber político diferente. Elas geraram a ideia da política como ligada a classes sociais, a grupos dos burgos e, principalmente, às divisões entre ricos e pobres, entre direita e esquerda.
A diferença existente entre o ser politizado e o despolitizado encontra-se no patamar da alienação, ou seja, a falta de consciência da relação entre nós e o mundo. Alienar é entregar o que é nosso para o outro, como diz na definição jurídica em relação aos bens. Ser alienado é não perceber a presença do sujeito e vice-versa, sua vinculação indissolúvel.
Na verdade, aqueles que se consideram ser politizado tornou-se um imperativo para aqueles que gostam de ser chamados de intelectuais, de pessoas inteligentes. Pois bem! A caricatura do intelectual é que deu a marca do ‘politizado’, que se transformou no protótipo do homem inteligente. A versão pobre disso tudo, se é que se pode descer mais, são os estudantes que, filhotes de professores universitários de pouca capacidade se entronam no papel desses inteligentes por serem politizados. Eles sabem só uma coisa: devem ter uma posição “coerente” à esquerda ou à direita. Assim, os da direita acham que ser inteligente é ser de direita e os da esquerda acham que ser inteligente é ser de esquerda. Será que eles leram Platão? E a resposta a perguntas que não lhe agrada vem imediata: machista, elitista, racista, homofóbico, coxinha. Estas palavras de efeito é resultado de uma magoa pessoal, o medo do fracasso, a incompetência.
Não acredito que o povo brasileiro (pelo menos sua maioria) seja politizado. O povo brasileiro só se lembra de política nos meses de julho, agosto, setembro e outubro no ano de campanha eleitoral, por ocasião do famoso horário eleitoral gratuito. Pergunte: em quem você votou para deputado federal e estadual na última eleição? Não se lembra. Agora pergunte a uma dona de casa qual o final de uma novela na década de 1990, ela descreve a cena com riqueza de detalhes. O pior de tudo isso é que os enriquecimentos ilícitos de nossos representantes, a cada dia que passa, desestimulam ainda mais a crer que a política tem solução.
A Politização é uma doutrina cuja meta principal é as urnas eleitorais. A politização é fundamentada na razão não na emoção, ou seja, votar com razão não com a emoção, trazendo como pano de fundo uma visão de bem coletivo. Para isso o eleitor precisa entender o que é ser politizado verdadeiramente. Assim sendo, vamos resumir em três aspectos essa concepção que lhe é imputada e que não basta mais para acharmos que somos o suficiente politizado. Para que isso aconteça precisamos entender, primeiro: que não basta ser político; segundo: que não basta entender de política; terceiro: que não basta saber das atribuições constitucionais de um parlamentar (vereador, deputado e senador), bem como, do presidente da república, dos governadores e dos prefeitos. O conceito atual de politização vai além desses três pontos de vista, é mais abrangente, bem como, mais consistente. Consiste em não aceitar mais as demagogias dos políticos e o assento no PODER A TODO CUSTO. Suas hipocrisias. Suas mentiras. Suas farsas. Suas faltas de caráter. Suas faltas de civilidade. Suas canalhices. Suas incursões pelo mundo da corrupção. Suas convivências, conivências e anuência com o jogo sujo e rasteiro da política. Suas uniões e parcerias com políticos corrosivos advindas, através das combalidas alianças ou coligações partidárias. Suas impunidades advindas de crimes do colarinho branco (roubo do seu dinheiro pago com seus impostos). Suas ganâncias por salários milionários. Suas falsidades como inquisidores das CPI (comissão parlamentar de inquérito) brasileiras. Suas roubalheiras através de verbas a fundo perdido, sem controle contábil do seu destino, endereçados as suas concubinas, esposas - ou parentes - empossados em cargos de cunho social com esse objetivo. Suas riquezas advindas de obras superfaturadas. Suas corrupções ativas e passivas etc. etc. etc. Portanto, quando se vota, vota-se nessas ilicitudes comuns a essa classe, ou, então, assume-se como conivente. É sabido que a politização nesses termos não poupa ninguém. Ela é madastra e atinge todas as camadas sociais e intelectuais, desde analfabeto até o mais graduado. A politização não é fruto de conhecimento, sim de sabedoria e discernimento.
O bem comum deve ser observado em todos os aspectos de abrangência nos programas, ações e atos governamentais.
João Pessoa PB, 14 de abril de 2015.
 *Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa-PB.

POLITIZADO OU NÃO? POLITIZADO OU NÃO? Reviewed by Clemildo Brunet on 4/14/2015 03:51:00 PM Rating: 5

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