Compartilhando a solidão
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
"Nossos
sonhos são os mesmos há muito tempo, mas não há mais muito tempo pra
sonhar"
Em 2009, escrevi uma plaqueta, em forma
de artigo, comentando a tese que defendi no Doutorado em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Urbano, na UFPR, em Curitiba, no início deste milênio, no final
do ano da graça de 2000.
Descobri que a tese defendida
encontrava-se (e ainda encontra-se) surpreendentemente atual. Mas, constatei
também que ela despertou pouca atenção dos gestores, urbanistas, técnicos do
planejamento e
Nele, o livro, falo de questões sociais,
miséria e riquezas mal empregadas, educação insuficiente, fronteiras
invisíveis, urbanização acelerada, espaços desiguais e uso injusto e inadequado
do solo urbano. Questões que, em geral, não são enfrentadas com eficácia pelos
órgãos de “planejamento”.
As autoridades municipais,
invariavelmente, justificam o caos estabelecido como consequência do
“desenvolvimento” da cidade. Subitamente, a metrópole subdesenvolvida passou a
padecer dos desconfortos das grandes cidades. Obra do acaso? Estamos condenados
a crescer cercados de desigualdades? Usurpados de serviços mínimos de saúde e
educação? Com infraestrutura inadequada? Permaneceremos vitimados por problemas
de ordem ambiental causados pela falta de saneamento básico e drenagem, pelas
ocupações indevidas e descontroladas? Atormentados pelo trânsito cada dia pior?
Não é novidade que o nosso espaço urbano
foi e continua sendo apropriado à margem da legislação, dos planos diretores,
das leis de uso e ocupação do solo e isto não apenas nas áreas periféricas, mas
também nos bairros ditos nobres.
O texto da tese por mim defendida
esclarece que sofremos as consequências de abordagens puramente “técnicas” que
se pautam, sobretudo, pela “produtividade individual”, modelo historicamente
determinado de gestão urbana que resulta no atual quadro de insustentabilidade
das nossas cidades.
Minha luta é tentar provar que, por trás
das nossas improvisadas cidades, não existem acasos. Existe, isso sim, uma abordagem
“técnica” que não dá conta da diversidade socioambiental urbana, aliada à
fragilidade institucional das nossas prefeituras.
O que propomos é que o planejamento seja
fundado no critério da “Produtividade Social”.
A formulação dessa tese, desse conceito
integrador, conduziu-me a reflexões sobre o nosso tempo.
Lembro uma vez que um aluno
perguntou-me: - “Professor, por que o senhor escreve?”
Recuperado do susto, porquanto nunca
havia pensado nessa questão, respondi que escrevia para fugir à minha própria
solidão.
Por que será que, como se fora um “gênio
incompreendido” (nem sou gênio, nem escrevo em aramaico), continuo solitário em
minhas elucubrações sobre a vida e o futuro?
Outra pergunta que me vem à mente: “para
onde vai, ou já foi, o ‘livre pensamento crítico”?
A resposta imediata emergirá a mente do
sarcástico: “Sei lá!”
Além de não ser uma resposta
academicamente aceitável, esta resposta pode sugerir que o sarcástico é também
ideologicamente um reacionário, contrário a qualquer mudança.
Há também lugar para os ressentidos, os
desalentados e os oportunistas de última hora.
O fato é que o mundo gira, e os
fantasmas do passado assaltam as mentes dos que vivem o presente.
Teimosamente, como queria Agostinho (354
a 430 d.C), permaneço com a Esperança (e suas duas filhas lindas: a Indignação
e a Coragem) de capturar leitores críticos, até porque a tese foi escrita com a
consciência de que pensar uma cidade é inscrever-se em um movimento histórico,
receber a carga de uma continuidade, com a responsabilidade de compreender o
presente para aumentar as chances do futuro.
Todavia, no que me diz respeito, já com
a certeza de que “não há mais muito tempo pra sonhar”.
*Rinaldo Barros
é professor - rb@opiniaopolitica.com
Compartilhando a solidão
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/21/2015 04:48:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário