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Pai, uma saudade sentida

Genival Torres Dantas
 
Quando se aproxima a data do dia dos pais tenho a sensação de uma cantilena aziaga, pois qualquer lembrança que me traga a imagem do meu velho pai sinto presságios de momentos passados e nunca mais repetidos. Não que ele seja a memória de coisas ruins, pelo contrário, ele é autorreferência da mais pura dignidade entre os mortais que convivi.
Falar do seu caráter humanitário é ser redundante, foi o ser mais próximo do protótipo da honradez e
paradigma da extrema bondade, que já convivi, uma espécie de São Francisco de Assis, fora do tempo e espaço, mal compreendido e interpretado. Ele tinha na família o seu “mare nostrum”, era o seu porto seguro, enquanto que os filhos representavam todos os motivos da sua luta diuturna, tenta fazer que esses não tivessem a desdita que permeou seu destino enquanto cidadão e um quase analfabeto que admirava a arte da rima e da proza, qualidades que herdei do seu bom gosto, e o tirocínio comercial dele nunca foi o meu ponto forte, muito embora tenha me ocupada na área empresarial por um longo período da minha vida.
Tinha uma filosofia relevante, muito embora não soubesse nenhum fundamento filosofal, com senso em consonância com a responsabilidade para com seus pares, aplicava uma teoria profunda: “après moi le déluge”, depois de mim, o dilúvio. Assim era ele, Sr. Chico, como carinhosamente era chamado pelos mais íntimos, viveu uma vida para a simplicidade do seu mundo, sempre vivido no interior paraibano e no entorno e dentro do sertão nordestino, tanto é que acostumou com a sofreguidão dos habitantes da terra seca e a escassez dos tempos de seca. Sempre se mostrou como um forte como todo sertanejo. Uma forma especial de observar as coisas que fugiam ao trivial do dia a dia, se douto fosse, certamente seria um hermeneuta, profundo defensor da justiça, pois, foi sempre um justo quando solicitada a intermediar uma peleja.
Por tudo isso, acima exposto, é que tenho o dever de reconhecer que jamais serei um pai tal qual foi o meu pai, por mais que eu me esforce e me esmere, na tarefa para com os meus filhos, sempre faltará aquele algo mais que sempre sobrava nas atitudes e gestos do meu saudoso pai. Só quem teve ou tem um pai com as qualidades do meu é que pode perfeitamente avaliar o meu sentimento; não é pieguice, apenas procurando ser justo para com quem tão justo viveu e conviveu com os filhos que sentem sua ausência, e sabem da sua importância na nossa formação e nosso caráter. Obrigado pai, desculpe-me se não fui o filho que você desejou que eu fosse.
*Escritor e Poeta
Pai, uma saudade sentida Pai, uma saudade sentida Reviewed by Clemildo Brunet on 8/09/2015 04:53:00 AM Rating: 5

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