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FRUSTRAÇÃO

Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

A vida humana, quando não há interrupção cedo da existência, segue o seu percurso natural. A vida passa pelas suas fases existenciais: nascimento, infância, adolescência, juventude, adulto e talvez senilidade. As mudanças no comportamento ocorrem paulatinamente de forma inconcebível quando o ente vai se introduzindo mais no meio social, dando forma a real índole e formatando a sua personalidade.
O comportamento humano tem as oscilações de acordo com cada fase, como se cada fase brotasse uma força latente que precisa de exteriorização. Neste labirinto obscuro da vida, nós sabemos o passado, identificamos o presente e o futuro sempre será incerto. Cada um tem sonhos, desejos, vontades, frustrações e realizações. Os ramos de escolha são diversos, as atividades variadas e
o campo espaçoso onde o olhar mede a distância: recua ou segue? O dilema cada um carrega no âmago do seu ser.
Neste espaço de tempo consta no caderno de anotações: sonhos realizados e vontades frustradas. Eis a questão!
O ser humano já é muito complicado. Mais intrigantes são as suas próprias criações psicológicas, por isso, existem casos que nem Freud explica, esta é sempre a nossa resposta quando vivemos no meio de fatos complicados.
O maior tormento que uma pessoa carrega na cachola craniana chama-se o peso da frustração. O pior de tudo isso é que não sabemos a causa. É aquele velho ditado: “cada pessoa com seus problemas”. Vem da feiura à não conclusão de um curso superior, passando pelo desencanto da não realização profissional. E por aí em diante a guerra começa por si mesmo e termina vingando-se nos outros. A insatisfação interior se manifesta de forma generalizada e concretiza-se fazendo o mal a terceiros. É como se fosse uma transferência de magoas e ressentimentos. Neste caso, não encontra almofada de apoio no divã do psicólogo.
A frustração é um pecado inconfessável, o indigente conduz o fardo na parte mais íntima do seu ego, não revela para ninguém neste mundo, que por não ter sonho realizado, um desejo impedido e um ideal não perseguido, descarrega o sentimento frustrado em cima da virtude alheia por um fato mais banal que sucede na vida cotidiana. É contra tudo e contra todos e vive isolado pensando no erro dos outros. Observa atentamente o erro que está no quarto do vizinho, mas não vê a sujeira no tapete de sua sala.
A mente funciona a todo vapor pela incapacidade de afugentar os desgostos sofridos, não consegue ultrapassar os obstáculos e não tem ideia para alcançar um desejo pessoal. A mente só não procura funcionar em favor do bem. O bem permanece no seu ego truncado, na usa mente enviesada e no seu calculo desproporcional. O exagero mental não encontra a solução na simplicidade da lógica. Vive de fantasia imaginária, achando-se o fanfarrão, o bonachão, o sabe tudo. Ledo engano!
Cria uma redoma tão frágil dentro de sua mente que o menor redemoinho deixa os cacos esfarelados no terreiro de seu cristal predileto que nunca mais junta os pedaços. A mente é tolhida pela ausência de pensamentos verdadeiros.
Não busca o caminho que traga sonhos de esperança. Na verdade, não sonha, vive num pesadelo de horrores mentais e um ego de profunda tristeza.
Tenta todos os dias, com uma espada afiada, derrubar a árvores do homem mais justo e desfazer a carreira bem sucedida do amigo mais íntimo. Em contrapartida, não olha para dentro de si próprio, no entanto, o carma do frustrado emite a sua reação como recompensa: decepção, desapontamento, desencanto, desilusão, insucesso etc. O seu objetivo de vida foi jogado na sarjeta. Não teve força suficiente para conhecer a si próprio.
O frustrado é muito parecido com o invejoso, o grau de parentesco é muito próximo, não vibra com as vitórias alcançadas pelos amigos. Se puder bota terra no negócio com um palpite mais fajuto do mundo somente como óbices que fogem da realidade e levá-lo à queda.
Já li uma sentença fabulosa para aplicação da pena a um invejoso nas palavras do poeta italiano Dante Alighieri, na sua obra o ‘Purgatório’, o segundo dos três cantos da Divina Comédia, define a inveja como “amor pelos próprios bens pervertidos ao desejo de privar a outros dos seus”. O castigo para os invejosos era ter seus olhos fechados e costurados de arame, para que eles não vissem a luz (porque haviam tido o prazer em ver os outros sofrerem).
É por isso que o invejoso, ao invés de aceitar suas carências, perceber seus desejos e criar capacidades e assim desenvolvê-los, odeia e deseja destruir todas as pessoas que, como um espelho, lembre-no da sua privação. Em outras palavras, a inveja é a raiva vingadora do impotente que, em vez de lutar por seus anseios, prefere eliminar a concorrência. Digamos que o frustrado não passa de um invejoso mal resolvido e que infla seu ego com a não realização de pessoas que lhe estão próximas. Os torpedos são atirados para todos os lados, entretanto, vive sem escudo, pois o retorno vem para si. O tiro sai pela culatra, observe no dia-a-dia da vida.
O frustrado não atrapalha a vida da pessoa/vítima de seus caprichos pessoais. Pelo contrário, mais cedo ou mais tarde, ele se entrelaça nas teias emaranhadas que a vida lhe montou, não encontrando uma saída fácil. Enquanto que a vítima de suas maldições continua pisando na leveza do seu caminho construído pelo o esforço e a perseverança.
O nosso conselho: não seja um criador de caso. Não atrapalhe. Viva e deixe viver! Mas, se o frustrado tenta colocar “pelo em ovo” e “chifre na cabeça de cavalo”, o problema é seu. A vida lhe ensinou, você é que não aprendeu!
João Pessoa, 18 de novembro de 2015.

*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB 
scoelho@globo.com
FRUSTRAÇÃO FRUSTRAÇÃO Reviewed by Clemildo Brunet on 11/18/2015 10:24:00 AM Rating: 5

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