Matuto, vida e sabedoria
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Para muitos desinformados, o matuto não
passa de um ser bocó, abestado, analfabeto e integrante de um submundo.
Ledo engano. O matuto tem vocábulos,
expressões próprias e sabedoria que os “intelectuais” das metrópoles
desconhecem. Aliás, por possuir essas expressões típicas de seu mundo, o
matuto, às vezes, é discriminado, recebendo, inclusive, um forte preconceito.
Sua fala, seus trejeitos e vestimentas servem de personagens do humor
brasileiro. Os humoristas, em cena, mostram a sabedoria do matuto. Lamentavelmente,
por trás de alguns risos está uma ponta de preconceito.
Quando falo de matuto, refiro-me mesmo
ao homem nordestino, embrenhado no mato, vivente do Cariri, do Brejo, do Seridó
e
O matuto é essência da cultura
nordestina. Seu modo de viver, sua poesia, seu artesanato, sua cantoria,
simplicidade, pureza e fé constituíram e ainda constituem inspiração para
muitos escritores e artistas brasileiros. O mestre Jessier Quirino, por
exemplo, em sua obra, mostra-nos, com humor e lirismo, a sabedoria da vida do
matuto. Ninguém menospreze esse ser. Quem assim o fizer, está fadado a se
surpreender com a vivacidade e autoridade do seu agir e de suas respostas.
Com a expansão tecnológica e a incursão
do tráfico de drogas, presentes no mundo interiorano, começa a pairar o temor
pelo desaparecimento das características intrínsecas dessa figura emblemática
da cultura de um povo chamado Nordeste.
Podem falar que matuto é sinônimo de
sofrimento, o que, de fato, procede. Matuto sofre, sim, mas, apesar disso, é
alegria, fogão a lenha, uma varanda, uma rede a balançar em noite de lua e de
céu estrelado.
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB
onaldorqueiroga@gmail.com
Matuto, vida e sabedoria
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/17/2015 08:17:00 AM
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