O estupro coletivo e os crimes paralelos
João
Costa*
João Costa |
O
estupro coletivo ocorrido no Rio de Janeiro não é fato ou bizarrice isolada,
propagada inclusive pelos criminosos na internet. O estupro foi coletivo, mas o
sentimento criminoso é um só: o estupro não é crime e seus apologistas vão pro
MEC. E ocorre num momento de singular significado na vida nacional. Não
esquecer, nunca, o estupro promovido em Queimadas por jovens de classe média,
como forma de presentear um dos convivas.
Tais fatos (o de Queimadas e o do Rio)
só são possíveis em momentos de ruptura social. Falta pouco, muito pouco, pouco
mesmo, para as forças políticas e
Estabeleceu-se que a desfaçatez tomasse conta dos procedimentos jurídicos, onde as instituições precisam construir uma negação sistemática da realidade dos fatos. Vai chamar de crime aquilo que não é crime: as ações de Dilma Vana no governo, por exemplo. Apontar loucura o que é razão: a inclusão social ocorrida na última década, pois esta desnuda a classe média que pensa ser o que não é: rica tanto quanto o Donald Trump.
Este estado psicótico tenta se instalar
em métodos para criminalizar quem se mantém ou mantiver firme pelo estado
democrático de direito. Daí a necessidade da mídia nativa e do governo
provisório do Temer em conquistar corações e mentes. O apelo nacionalista do
slogan do governo títere é apenas um esforço inicial.
Porém (tem sempre um) o problema é que o
enredo, que vinha sendo escrito pelos barões da mídia, indústria e partidos
derrotados nas urnas, também tem estrofes do Stanislaw Ponte Preta – o impagável
radialista Sérgio Porto, autor do “Samba do Crioulo Doido”. E este enredo, que
já era perceptível, toma corpo pelas gravações do senador Romero Jucá com o tal
Sérgio Machado. Na conversa telefônica Jucá desnuda tudo, mas é tão de difícil
dar crédito? Até agora ninguém aparteou o enredo que fala do papel dos
militares, do aumento do Judiciário que a presidenta brecou, e sobre “alguns”
da Suprema Corte; dos impolutos e inimputáveis do PSDB.
As revelações do Machado expõem as
vísceras da República, desta feita em conversa com o presidente do Senado,
Renan Calheiros, sobre o procurador que saltam em frases teatrais
nelsonrodriguianas. Eis uma delas.
- Mau caráter, mau caráter, teria dito
Renan, enfaticamente.
Então, pelo enredo de Stanislaw Ponte
Preta o detetive é o criminoso e o que a Nação assiste é um assassinato
judicial da democracia, perfeitamente dentro da lei e da ordem, com as bênçãos
do fundamentalismo evangélico.
- No Brasil, que não é canalha na
véspera, é canalha no dia seguinte, diria Nelson Rodrigues. E ainda não acabou.
*João Costa é
radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
O estupro coletivo e os crimes paralelos
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/27/2016 08:34:00 AM
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