Mossoró, 27 de maio de 2015 Conterrâneos amigos, saudações sertanejas! (1)
J. Romero Araújo Cardoso |
José
Romero Araújo Cardoso (2)
Venho recordar-lhes um grande herói das
veredas da terra do sol, um personagem ímpar da nossa história que marcou
indelevelmente nosso imaginário, pois cantou e decantou com invulgar perfeição
o estilo de vida, a natureza e as coisas mais belas que podem existir na face
da terra.
Encourado, vestia-se como um rei, pois na
verdade ele o era, sua coroa era inigualável, feita da mais pura e autêntica
matéria-prima que, sem sombras de dúvidas, assinala a autenticidade de uma
cultura forjada sob a égide dos cascos das boiadas que outrora palmilharam
céleres pelas trilhas tortuosas dos adustos rincões sertanejos.
O gibão que ostentava servia para
enfatizar a essência de um povo forte que não mede distância em se aventurar
pelos perigos das caatingas bravias, buscando no mato cerrado o gado que se
perdia e
A estética armorial incorporada pelo
nosso grande rei fê-lo original em todos os sentidos, pois com tenacidade
agregou valores ao nosso processo de afirmação, imortalizando variedade
impressionante de temas que enriqueceram formidavelmente a nação sertaneja em
todos os sentidos.
Digo-lhes sem titubear que amo nosso grande
rei encourado por que foi na superação de provações e obstáculos que colocou em
panteão dos mais altos nosso povo e nossa terra, não faltando-lhe humildade
para se declarar um devoto apaixonado das coisas ligadas à terra que tanto
amou.
Nosso rei tinha a pele crestada de sol,
muitas vezes vítima de preconceitos, pois era o registro biológico da
miscigenação de três raças impávidas que não hesitaram em formar uma
civilização singularíssima que se firma bravamente diante dos desafios da
contemporaneidade, muito devido ao legado de sua suprema e divina arte.
Esse rei elegeu o acordeon, a nossa
sanfona, como instrumento musical por excelência da ruralidade que marca a
essência da sertanejidade que deve estar presente em nossas veias, em nossas
mentes e corações, pois devemos defendê-la com todo ardor, tendo em vista que
se trata do retrato de nossas vidas e das memórias dos nossos antepassados.
Harmonia e melodia de suas canções fazem
despertar a identidade de um povo que luta bravamente e nunca esquece o torrão
natal, por mais distante que esteja, por mais longe que possamos estar sempre
há espaço para recordações quando seus imortais registros musicais ecoam pelas
quebradas estranhas.
Esse rei, adornado em tradições
imorredouras, fez vibrar de emoção o mais belo pedaço de chão que Deus em Sua
Divina Providência criou para alegria daqueles que sabem valorizar um processo
de construção coletiva marcado pela firmeza de conduta.
Samarica Parteira, Assum Preto, Asa
Branca, Xanduzinha, Riacho do Navio, Mossoró, pois Lampião não era besta, não,
vozes da seca, enfim, uma infinidade de assuntos dialogados e tratados pelo
grande rei encourado das caatingas do sertão devem servir de exemplo às
gerações presentes e vindouras a fim de valorizar a terra mãe, esse pedaço de
chão cheio de percalços e desafios, mas que oferece vantagens incomparáveis àqueles
que o ama.
Termino aqui esta carta recomendando que
mirem-se no exemplo de telurismo que o grande rei deixou-nos enquanto signo
maior de um tributo exemplar às raízes sertanejas.
(1) Concorrente
ao I Prêmio A CARTA, ano de 2015, promovido pelo Grupo União São Francisco –
Parque Cultural O Rei do Baião – São João do Rio do Peixe - Paraíba.
(2)
Não
obteve classificação entre os três primeiros colocados.
(3) (2) José Romero
Araújo Cardoso. Geógrafo. Escritor. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial e
em Organização de Arquivos. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Sócio da
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do
Oeste Potiguar (ICOP).
Mossoró, 27 de maio de 2015 Conterrâneos amigos, saudações sertanejas! (1)
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/15/2016 03:08:00 PM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário