Homenagem a uma mulher nordestina - A mulher que fez seu próprio caminho
Walter Medeiros*
Walter Medeiros |
A humanidade tem certas figuras que se
sobressaem pelas oportunidades de viver experiências - boas ou más - mas as
vivem de forma tão intensa, que depois torna-se difícil até entender como
conseguiram viver tanto em uma só vida. Pessoas de tão profunda vivência em
épocas e lugares próprios, e respostas capazes de impulsionar com força
hercúlea as aspirações que cultivam, pelas quais lutam e se responsabilizam
como causas inarredáveis.
Refiro-me a uma mulher que viveu ainda
no Império brasileiro, no tempo em que as pessoas do sexo feminino tinham
direito apenas de cuidar das casas e dos filhos, e o dever de obedecer aos
homens: maridos, pais, etc. Que foi entregue em casamento aos 13 anos, como
resultado de negócio de família, que vivia sob as leis de adultério e
Naquele tempo - primeira parte do Século
XIX, enquanto Karl Mark e Friederich Engels redigiam o Manifesto do Partido
Comunista e conclamavam: "Trabalhadores de todos os países ,
uni-vos", ela escrevia ali bem perto que as mulheres deviam ter direitos
iguais aos dos homens. Algo de significado imenso, numa época em que n'alguns
lugares as mulheres não tinham permissão legal nem mesmo para aprenderem a ler,
enquanto n'outros podiam ler e contar, mas não podiam entender de negócios nem
de política.
Destoando do que previam as leis e os
costumes, aquela precursora do movimento feminista rompeu o casamento arranjado
e teve a sorte de ser aceita de volta em casa. Casou novamente, porém em sua
trajetória de estudo, trabalho de educadora e lutas, ficou viúva. Ao mesmo
tempo em que firmava suas ideias e via crescer o respeito pela forma destemida,
inteligente, clara e inquestionável com que argumentava por mudanças no
tratamento da questão da mulher.
Na Europa, no Brasil e demais regiões do
mundo, aquela mulher foi dedicando sua vida a escrever, falar e lutar por
melhores dias para as mulheres. Deixo os lugares, fatos, datas e casos aos
estudiosos do feminismo, para trazer aqui apenas a minha homenagem fervorosa a
nossa conterrânea, a potiguar Nízia Floresta, que foi importante precursora do
feminismo no mundo e precisa ter seu nome e sua história cada vez mais
destacados por todos os que defendem e lutam por uma humanidade mais justa.
Que sua obra continue inspirando ações
mundo afora, a partir da interpretação do seu escrito do século XIX:
"Todos sabem que a diferença dos
sexos só é relativa ao corpo e não existe mais que nas partes propagadoras da
espécie humana; porém, a alma que não concorre senão por sua união com o corpo,
obra em tudo da mesma maneira sem atenção ao sexo. Nenhuma
diferença existe entre a alma de um tolo
e de um homem de espírito, ou de um ignorante e de um sábio, ou a de um menino
de quatro anos e um homem de quarenta. Ora, como esta diferença não é maior
entre as almas dos homens e a das mulheres, não se pode dizer que o corpo
constitui alguma diferença real nas almas. Toda sua diferença, pois, vem da
educação, do exercício e da impressão dos objetos externos, que nos cercam nas
diversas circunstâncias da vida." (FLORESTA, 1989a, p.47. [Do livro
“Direitos das mulheres e injustiça dos homens”]).
Viva Nízia Floresta! Viva o 8 de Março!
*Jornalista
Enviado pelo o Professor da Uern José Romero Araujo Cardoso.
Homenagem a uma mulher nordestina - A mulher que fez seu próprio caminho
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/08/2017 08:41:00 AM
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