MARINGÁ
Por Verneck Abrantes*
Maria de Ingá era uma linda cabocla que viveu na antiga
cidade Pombal, no sertão da Paraíba, do lendário e glorioso Nordeste, que
acossada pelo flagelo da seca partiu numa leva a caminho de outras paragens,
onde o céu fosse mais justo e a terra menos desditosa.
Ela deixou um vazio enorme na alma saudosa e apaixonada dos
pombalenses que ficaram. MARINGÁ Uma Canção que Homenageia a Cidade de Pombal
Maria é um nome comum nos sertões nordestinos. Ingá, uma cidade do agreste
paraibano. A junção de Maria com Ingá deu formação à palavra Maringá, por
exigência métrica de composição.
MARIA DE INGÁ Maria de Ingá, entre tantas outras Marias, com
certeza existiu e seria mais uma anônima retirante, entre centenas de outras
retirantes, dos tempos passados, se não fosse por lembrança do Ruy Carneiro.
Acredita-se que ela morou no sertão da Paraíba nos idos da seca de 1921, mais
precisamente em uma das ruas periféricas da então pequenina e graciosa cidade
de Pombal, e depois de ali viver por indeterminado tempo, partiu numa leva de
retirantes a caminho de outras paragens, onde o céu fosse mais complacente e a
terra menos desventurada.
A juventude em flor, dona de uma beleza encantadora, corpo
bem feito, pele morena, cabelos negros e olhos fascinantes, Maria deixou um
vazio enorme na alma apaixonada e saudosa dos pombalenses que ficaram, segundo
informações de Ruy Carneiro, na época um jovem seresteiro de 20 anos de idade.
A verdade é que, na recantada Pombal de antigamente, Maria de Ingá, por sua
singular beleza, chamou a atenção de Ruy e de outros seus conterrâneos.
Comenta-se que o nosso futuro senador manteve, de forma
sutil, uma inclinação afetiva pela cabocla, para depois guardar, durante muitos
anos, no íntimo do coração, os sentimentos da saudade pela retirante que se fora.
As particularidades dessas recordações foram narradas de uma forma
descontraída, momento de uma conversa informal, ocorrida no Rio de Janeiro em
1932, quando ali dialogavam um consagrado músico e um saudoso político, a
comentarem amenidades da região sertaneja, a exemplo da incidência das secas,
as levas de retirantes, a música popular brasileira, composições poéticas,
entre outros assuntos, verificando-se, assim, parte da história:
Jaime Távora era secretário do Ministro da Aviação e Obras
Públicas, José Américo de Almeida, também amigo comum do médico e compositor
Joubert de Carvalho. Em um encontro casual num ônibus, que se deslocava pelas
ruas do Rio de Janeiro, Jaime e Joubert, ao se depararem, surpresos,
mostraram-se alegres, contentes mesmo, já que há muito tempo não se viam.
Diante das muitas novidades que tinham para conversar, as
horas se mostraram poucas para discorrerem sobre música, poesias, amigos e
outras lembranças, o que motivou o secretário a sugerir um novo encontro na
casa do compositor, agora com a presença do Ministro e outros convidados, o que
foi aceito de imediato pelo poeta, mas antes, sem acreditar na proposta do
amigo e para surpresa de Joubert, à noite lá estava em sua residência: o
Ministro José Américo de Almeida, o chefe de gabinete Ruy Carneiro, o próprio
Jaime e outros convidados. Alegres e descontraídos, cantaram e ouviram os
grandes sucessos compostos e gravados por Joubert de Carvalho, a exemplo: Pra
Você Gostar de Mim (Taí), De Papo Pro Ar, Zíngara, Pierrô, entre outros; depois
dessa noite, Joubert de Carvalho tornou-se freqüentador do Gabinete do
Ministro, até porque queria um trabalho de médico no Instituto dos Marítimos,
onde terminou conseguindo o emprego e sendo mais tarde diretor desse hospital.
Nessas visitas, por afinidade musical o poeta sempre
procurava conversar com Ruy Carneiro - que foi um grande seresteiro pombalense,
sabia cantar e tocar violão muito bem – momento em que o futuro senador
instigou o poeta a compor uma música que falasse sobre a seca no Nordeste.
Inicialmente, Joubert pensou na cidade do Ministro José
Américo, mas ponderou, achando que o nome da cidade de Areia não dava boa rima,
sabendo também que ali não ocorriam as prolongadas faltas de chuva, quando
comparada à região sertaneja; então, voltou-se para Ruy e perguntou: - Onde
você nasceu? - Nasci em Pombal, sertão da Paraíba. Dai começou a relatar as
ocorrências das secas na região, a tristeza da devastação, a dispersão das
famílias, os retirantes e, em meio a tudo isso, o encantamento de Maria de
Ingá, que ali viveu e depois partiu deixando saudades... – Onde a seca foi mais
rigorosa? Ruy citou vários lugares da Paraíba, entre outros falou da cidade de
Pombal e de Ingá, por lembrança de Maria. - Então é Maria de Ingá.
Pensando assim, Joubert ali mesmo fez a junção das palavras
que poeticamente se tornou Maringá e, para deslumbramento de Ruy, ele cantou
pela primeira vez a canção, que logo se tornou um verdadeiro hino para a cidade
de Pombal e que a faz conhecida, em grande parte do País, como a Terra de
Maringá. Há quem diga que Ruy Carneiro colaborou na letra e música.
A CANÇÃO MARINGÁ Foi numa leva Que a cabocla Maringá Ficou
sendo a retirante Que mais dava o que falar E junto dela Veio alguém que
suplicou Pra que nunca se esquecesse De um caboclo que ficou Maringá, Maringá
Depois que tu partiste Tudo aqui ficou tão triste Que eu garrei a maginá
Maringá, Maringá Para haver felicidade É preciso que a saudade Vá bater noutro
lugar. Maringá, Maringá Volta aqui pro meu sertão Pra de novo o coração De um
caboclo assussegar
Antigamente Uma alegria sem igual Dominava aquela gente Da
cidade de Pombal Mas veio a seca Toda a chuva foi simbora Só restando então as
águas Dos meus olhos quando chora.
A GRAVAÇÃO A gravação original foi feita em disco RCA Victor,
por Gastão Formenti e orquestra sob a regência de João Martins, em 13 de julho
de 1932. Carlos Galhardo, um dos melhores cantores da época, fez uma gravação
em 1939 e outra de 1957, com a orquestra RCA Victor Brasileira, com grande
sucesso de público e venda de discos; a música consagrou de vez o compositor.
Canção concebida em estilo regionalista, Maringá, segundo
pesquisadores, é uma criação pioneira, a primeira a tocar no tema seca;
posteriormente, tão decantada no Nordeste e demais solos brasileiros. É
considerada a mais expressiva das composições de Joubert de Carvalho, seu
sucesso em rádio e disco foi tão grande que acabou por fornecer o nome a uma
cidade do Estado da Paraná.
A CIDADE Uma empresa denominada Companhia Melhoramento Norte
do Paraná, com fins de desenvolvimento agropecuário do Estado do Paraná,
decidiu construir uma cidade, loteando todo o território maringaense, cujos
operários, em sua maioria nordestinos, trabalhavam cantando sempre a mesma
canção: Maringá, isoladamente ou em grupos, instantes em que se reuniam durante
a noite para amenidades do trabalho, lazer ou por lembrança da região de onde
haviam partido. Quando esses homens terminaram sua missão, a cidade estava
pronta para receber seus habitantes e suas leis.
As terras da região com seus solos profundos, fertilidade
natural, topografia suave, plana e, especialmente, com chuvas regulares e bem
distribuídas no período do inverno, estavam prontas para receber as sementes de
café, trigo, arroz, milho etc., destinadas ao plantio, aos trabalhos de tratos
culturais, colheitas e comercialização desses e outros produtos ligados ao
setor agropecuário.
O NOME Uma cidade que homenageia a canção Maringá. Estavam em
reunião os Diretores da Empresa para escolha do nome da nova cidade; eram várias
sugestões, inclusive nomes que traziam denominações de vilas ou cidades da
Inglaterra, uma forma de querer homenagem os fundadores do lugar. Diante das
discussões, e verificando que não se chegava a um consenso, então a senhora
Elizabeth – inglesa, mulher de Henry Thomas, Presidente da Companhia – começou
a falar: - Estão procurando um nome para a cidade? Pois existe de uma canção
brasileira lindíssima, denominada Maringá. E quando terminou de falar foi
aplaudida demoradamente.
A cidade já tinha um nome. A reunião dos diretores da
Companhia Melhoramentos Norte do Paraná, por unanimidade logo batizou a cidade
com a designação de Maringá. Um distrito criado em 10 de maio de 1947 e elevado
a município pela Lei nº 790, de 14 de novembro de 1951, com área desmembrada do
município de Mandaguari, no Paraná.
CONCLUSÃO A canção Maringá foi uma magistral inspiração
poética, que homenageia, com exclusividade, a cidade de Pombal, na Paraíba. O
poema diz respeito à seca no sertão nordestino, sua gente, a saudosa retirante
que partiu deixando saudades, poeticamente transformada em uma belíssima canção
que o povo pombalense tem no coração como verdadeiro hino, momento em que
sempre é cantada quando ocorrem os grandes encontros dos filhos da terra.
No Estado do Paraná nascia, tempos depois, uma cidade onde os
homens trabalhavam cantarolando a música, para mais tarde ser batizada com esse
mesmo nome, ficando as duas cidades irmanadas pela mesma canção. Primeiro, a
cidade de Pombal, que ofereceu a história para inspiração poética; segundo, a
cidade de Maringá, pelo brilhantismo da adoção do nome, apesar da grande
distância que a região tem com a realidade do sertão nordestino.
Joubert Gontijo de Carvalho Nasceu no dia 6 de março de 1900,
na cidade de Uberaba, Minas Gerais, filho do casal Tobias de Carvalho e
Francisca Gontijo de Carvalho. Até os 13 anos de idade viveu ligado ao campo,
quando se mudou para São Paulo com toda a família e fez o curso ginasial. Em
1920, Joubert seguiu para o Rio de Janeiro, a fim de estudar medicina. Na
bagagem de seus 20 anos de idade iam também 20 músicas. Com uma mesada do pai
de 500 mil réis e 600 mil réis que recebia das editoras de música, Joubert
viveu como estudante rico. Formou-se em medicina em 1925, casou-se com Elza
Farias de Carvalho em 1927, nascendo um único filho: Fernando Antonio. Joubert
de Carvalho foi médico, excelente músico e também escritor. Faleceu em
20/09/1977.
Ruy Vieira Carneiro Nasceu no dia 20 de agosto de 1901, na
cidade de Pombal-PB, filho do rábula João Vieira Carneiro e Márcia Carneiro,
conhecida como Sinhá Carneiro. Vindo para a capital, estudou no Liceu
Paraibano. No ano de 1925 casou-se com Alice Almeida; não tiveram filhos. Foi
Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do
Recife-PE, em 1927. Alguns cargos que exerceu: Diretor do Jornal Correio da
Manhã, Oficial de Gabinete do Ministro da Aviação e Obras Públicas, Deputado
Federal–1935 a 1937, Advogado do Banco do Brasil, Interventor Federal do
Governo da Paraíba–1940 a 1945, Senador eleito em quarto mandatos consecutivos:
1950, 1958, 1966 e 1974, estabelecendo um caso único na história da República
Brasileira.
Ruy Carneiro faleceu no dia 20/07/1977; foi sepultado no
cemitério da Boa Sentença, em João Pessoa-PB, sendo acompanhado por mais de 50
mil pessoas, entoando a canção MARINGÁ.
UMA COINCIDÊNCIA
Quando se observa a data do falecimento do
senador e do poeta, 20/07/77 e 20/09/77, respectivamente, verifica-se que, em
um intervalo de dois meses, a canção Maringá ficou duplamente órfã; no entanto,
essa canção, considerada o mais comovente hino à saudade do homem sertanejo,
agora e por todos os tempos, será eternamente uma lembrança no coração do povo
pombalense e maringaense, graças a Ruy Carneiro e Joubert de Carvalho.
Fonte:
Nossa História, Nossa Gente N° 03
Verneck Abrantes.
*Escritor e Pesquisador
de nossa história
MARINGÁ
Reviewed by Unknown
on
6/10/2007 05:57:00 AM
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8 comentários
Toda vez que entro no Blogger do meu amigo Clemildo, me sinto menos saudosa, daquela terra , que eu não sabia, que amava tanto.Só estando distante, é que medimos o tamanho da saudade, das pessoas que lá vivem e as que estão noutra esfera. Clemildo, continue nos deixando informados e atualizados de tudo que diz respeito a essa Mãezona POMBAL....
caraagio.
Parabéns Clemildo, seu blog está excelente. Sempre que puder, visite meu site. www.aguinaldomota.com Um abraço do amigo
Oi Clemildo, sou neta de Zuca...
Sônia estava certa, seu blog está de parabéns...
pode comemorar!!!
acho muito bom ver essas coisas da cidade de meu pai, que é Zé Filho(Zuca)
fico orgulhosa da cultura desta terra, que gosto tanto!!!
Sônia Severo (Zuca) Clemildo a cultura da comunicação pombalense tem que se orgulhar por ter em voce um pai dedicado que tudo tem feito pelo crescimento da mesma, como filha de Pombal lhe digo OBRIGADO por isso, o blog esta lindooooooooooooooooo. PARABÉNS. Sônia Maria. João Pessôa 30 Agosto 2007.
Olá Clemildo!
Eu e minhas filhas tomamos conhecimento das homenagens prestadas ao nosso inesquecível Zeilto(25/08). Jamais o esqueceremos, ele está sempre em nossos corações e pensamentos. Quanto mais o tempo passa, mais vivas ficam as lembranças em nossas memórias.
Agradecemos de coração a você, toda a imprensa(principalmente aqueles que o lembram), ao Professor Piragibe e demais conterrâneos Pombalenses(07/09), aos amigos que deixamos, como ele dizia: na minha linda Cajazeiras.
Você Clemildo, faz parte de nossa estória. A verdadeira amizade deixa marcas positivas que o tempo não pode apagar.
Um abraço fraterno
Francisca(viúva) e Filhas.
Pombal em Festa
1º Encontro dos Filhos de Pombal
A FeedBack, Empresa de Comunicação e Produção de Eventos, está organizando o 1º Encontro dos Filhos de Pombal. O evento acontecerá no dia 20 de setembro na Boate da Caixa Econômica no Altiplano. A expectativa é de reunir mais de 700 conterrâneos da cidade de Pombal, sertão paraibano. A atração musical da festa é a Banda de Aleijadinho de Pombal. Esta festa vai matar as saudades dos pombalenses e vem pra ficar na história. Aguardem novidades.
FEEDBACK
Comunicação & Eventos
Contato: 3221-3507 / 8853-6337 (Karla Alencar)
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