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EURIVO DONATO, O RÁDIO E A BOLA!

MACIEL GONZAGA*(Foto) Tem sido uma das preocupações de Clemildo Brunet solicitar sempre daqueles que escrevem neste Blog para nos ater prioritariamente a escritos sobre o Rádio Pombalense. E não podia ser diferente, em se tratando desse intrépido homem de comunicação. Mas, na ciência do direito é salutar para a boa defesa de uma tese se encontrar as brechas na lei ou, em outras palavras, os caminhos jurídicos. E é isso, data vênia, o que eu vou procurar fazer neste artigo ao buscar meios de contrariar a norma. Mas, tudo por uma boa causa. Quero falar hoje de uma figura que, na verdade, foi preponderante no nosso rádio da época: Eurivo Donato. Tinha um amor profundo pelo rádio e pelo futebol. Foi talvez, a mais mordaz e espirituosas das pessoas que eu já conheci na minha vida. O seu espírito brincalhão chegava ao extremo, mas ninguém tinha raiva dele. Muito pelo contrário, quando encerrávamos o horário da “Voz da Cidade”, ficávamos todos até altas horas da noite sentados, uns no banco da Praça do Relógio, outros ao chão, para ouvir as conversas e estórias de Eurivo. Era conhecido pelo apelido carinhoso de “Mixuruca”, que ele mesmo definia o termo como: “insignificante, pequeno, de má qualidade, de pouco ou nenhum valor”. Era natural de Campina Grande e chegou a Pombal como funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Casou-se com uma pombalense e teve dois filhos. Aparentava ter experiência no rádio, embora havia entre nós alguém que contestasse isso. Mas, confesso, todos nós aprendemos muito com o velho “Minxa” como era carinhosamente chamado por todos os seus amigos íntimos. Era o mais velho de todos e o nosso orientador maior. Lembro-me de um colega nosso – Clemildo sabe quem – que, por inocência, dava o prefixo da rádio nos seguintes termos: “Os senhores OUSSEM a Voz da Cidade”. “Mixuruca” caia ao chão e ficava se esperneando, ria até cansar, mas tinha o cuidado de, depois de fazer toda a gozação, procurar em tom sério o dito cujo e orientá-lo para que falasse o português correto. Mas, na ausência, não deixava de tirar a sua casquinha. Depois, se transferiu para Cajazeiras, a convite de Zeilto Trajano, e foi trabalhar na Rádio Alto Piranhas, onde lá ficou até o fim da sua vida. Portador de uma úlcera estomacal, Eurivo Donato estava sempre se alimentado de leite, que era preparado no restaurante de “Cabina”, e que ele se referia como “leite de onça”. As estórias de Eurivo eram muitas. Contava ele que, quando jogador de futebol, disputava uma partida no estádio Presidente Vargas, do Treze Futebol Clube, em Campina Grande, época que ainda nem era cercado e estava em obras. Ao tentar bater um escanteio, o árbitro da partida mandou que ele (o jogador) colocasse a bola no lugar certo. Ao repetir a determinação pela terceira vez consecutiva, “Minxa” pegou a bola, colocou debaixo do braço, subiu numa “caieira de tijolos” que tinha nas proximidades e perguntou para o árbitro: “Posso bater daqui de cima?”. Fica claro o exagero! Mas, como já disse em artigo anterior, Genival Severo não perdoava ninguém com os seus apelidos. Eurivo Donato era chamado de “a Bola”, numa referência à sua paixão pelo futebol. Não há a menor dúvida de que o futebol da cidade de Pombal deve muito a Eurivo. Foi ele quem, no início da década de 60, deu um impulso impressionante ao “esporte rei” na nossa terra. Era presidente do São Cristóvão Futebol Clube, diretor de esportes, treinador, massagista, “babá” de jogador e até, na falta de um juiz, apitava os jogos amistosos do seu time. Imaginem só! O treinador apitando o jogo do seu próprio time. Ocorre, que toda vez que Eurivo apitava o jogo, o São Cristóvão perdia, pois ele roubava para o time de fora e, ainda chamava os nossos jogadores de pernas-de-pau. Lembro-me de alguns nomes que marcaram época no futebol pombalense, sob o comando de Eurivo: os goleiros Zé Canário, Menininho e Nego Aderson, Perequeté, Zaqueu, Carrinho de Doutor Lourival, João Rapadura, Chico Sales, Tuzinho, Lacon, o maior de todos eles, Carlos César (o “Meu César” de Severino Pedro) e tantos outros. Era voz corrente na cidade, que “Minxa” pedia ao delegado Tenente Marcílio – leia-se, coronel Marcílio Pio de Queiroz Chaves – para prender Nego Aderson, o goleiro do time, no sábado à noite, para que ele não fosse se embriagar na Linha do Trem (“o cai pedaço” do bairro dos Pereiros). Na manhã do domingo, o homem forte do time ia todo poderoso soltar e reclamar da prisão do seu goleiro, em seguida levava-o para sua própria casa e mantinha-o em regime de total vigilância até a hora do jogo. Aliás, essa história me foi confirmada por um pombalense, Mané Preto (irmão de Carmino e Anselmo), um funcionário do ex-DNER, em Campina Grande. Pois é! No jogo que podia ser contra o Corintians (a grafia é assim mesmo) de Caicó, o Caicó Esporte Clube, o Centenário de Parelhas, a Sociedade de Souza, o time de Coremas, de Itaporanga, de Piancó, de Conceição, Malta ou de qualquer outra cidade, Nego Aderson fechava o gol e nós ganhávamos sempre o jogo. É que claro, com a ajuda da arbitragem do tenente Marcílio e os gols de Tuzinho e “Meu César”. Certa época houve uma cisão no São Cristóvão e surgiu o Pombal Esporte Clube. O bicho pegou quando houve o desafio para um jogo entre as duas equipes. A partida foi marcada com direito a muita divulgação, mas com um único objetivo: desmoralizar “Mixuruca”. O Pombal Esporte levou os melhores jogadores do time alvi-negro, inclusive o goleiro Nego Aderson, o artilheiro “Tuzinho”, Carlos César, entre outros. “Minxa” não contou conversa. Na calada da noite foi até Campina Grande e de lá conseguiu importar alguns grandes nomes do Galo da Borborema – é verdade que, alguns, em final de carreira – entre eles o goleiro Elias, um dos maiores goleiros que eu já vi atuar na minha vida, o meio-campo Géu, ambos com passagem destacada pelo futebol pernambucano, entre outros que não lembro o nome agora. Esses jogadores chegaram à cidade, ficaram escondidos no Grande Hotel de Chicó, sob a proteção total de “Cabina” e só se apresentaram na hora do jogo. Campo lotado, muita expectativa. O São Cristóvão entra em campo, com “Mixuruca” à frente, apresentando as caras novas do time. A torcida do São-Cri-Cri, ansiosa, queria saber quem eram aqueles jogadores. São Cristóvão x Pombal Esporte foi um grande jogo de futebol que, no final, apresentou o placar de 1 x 1. Após o jogo, “Mixuruca” foi comemorar na Praça do Relógio, cercado de amigos e desafetos, não o resultado do jogo em si que ele dizia que não gostou, mas, a sua “não-desmoralização” pois o São Cristóvão não perdeu como a diretoria do adversário apregoava. Deu uma demonstração de ser uma “raposa”, o que hoje é comum se chamar de “cartola experto” no futebol. Certa vez, pelas mãos de Eurivo Donato, o São Cristóvão enfrentou o Milionários de Campina Grande. Lá estava o grande ponteiro-esquerdo Rinaldo, ex-Treze, ex-Palmeiras de São Paulo, e ex-Seleção Brasileira convocado para a Copa de 66, e o ponteiro Direito Miruca, ex-Treze, ex-Náutico e ex-São Paulo. Mané Cego e Mané Preto, que eram os maiores entendidos de futebol nessa época faziam sempre questão de dizer: “Rinaldo esteve aqui em Pombal”. Na minha concepção, tanto no Rádio como na “Bola” “Mixuruca” foi grande pela sua coragem, obstinação, sagacidade e, principalmente, pela sua alegria e presença de espírito. Morreu por volta das 21h (uma quinta-feira), dia 18 de junho de 2005, no Hospital Regional de Cajazeiras. Trabalhou em várias emissoras de rádio de Cajazeiras e da Paraíba, marcando época na radiofonia e nos deixando um grande legado. Que o Deus o tenha em bom lugar *JORNALISTA, APRESENTADOR DE TV, ADVOGADO E PROFESSOR.
EURIVO DONATO, O RÁDIO E A BOLA! EURIVO DONATO, O RÁDIO E A BOLA! Reviewed by Unknown on 9/28/2007 06:32:00 AM Rating: 5

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