POMBAL DE ANTIGAMENTE: DE "GATO PRETO" E "ESPERANÇA"...
Maciel (Foto)
Maciel Gonzaga*
A tradição cultural é algo que jamais pode ficar para trás e não deve ser reverenciada apenas por respeito e memória. O passado é imprescindível na criação do novo. É de onde se tira inspiração de muitos elementos para se moldar o novo. Na Academia, tem sido árdua a luta de educadores para fomentar a elaboração de estratégias que possam trabalhar arte e cultura junto às crianças e adolescentes, cujas “mentes e corações” estão ocupadas com ritmos, sons e costumes que estão na moda. Não se trata de forçar os adolescentes a abandonar os gostos próprios ou “impostos” pelos meios de comunicação de massa mas, de conhecer e valorizar a história da sua terra, da sua gente.
É isto que me estimula a participar de iniciativas que buscam resgatar o passado e tudo aquilo que possa oferecer ao presente um mundo de justiça e felicidade. Penso que seja um bom papel que todos devemos desempenhar em um país que consegue, sabe Deus como, conviver lado a lado com tanta beleza e com tanta feiúra. Ajudar a olhar o que das tradições que herdamos merece ser preservado, o que deve ser jogado fora. Ajudar a olhar o que alimenta as nossas esperanças e os nossos sonhos, e o que nos faz deixar de acreditar e de lutar por eles. Ajudar a olhar o que nos torna diferentes e originais, ao contrário daquilo que nos confunde e que nos deixa bastante parecidos com os demais.
Importante seria que nossas crianças soubessem valorizar a nossa história, que elas tivessem historia para contar, para que também não fossem futuramente jovens desregrados, e para que esses jovens não se tornassem adultos sem criatividade e fossem vozes de protesto contra o que a mídia joga aos seus filhos. Tudo isso, para que não se construam pessoas sem objetivos.
Dentro desse parâmetro, desejo abordar um tema que faz parte da história da nossa querida cidade nos anos 60. Pombal era animada, cheia de festejos. Pela inspiração de “Pedrão” Adonias surge na então estrada de terra para Serra Negra, precisamente em frente à propriedade de Chico Benigno, as “Corridas de Prado”. Era uma nova perspectiva de lazer. O Prado que chega ao Brasil através do imperador Dom Pedro II, era um esporte que não exigia força e desempenho das pessoas, mas, sim, dos animais. A população comparecia apenas como espectadores, apostadores e admiradores do "esporte" e das corridas dos cavalos. Era uma festa. O cavalo “Gato Preto” – de “Pedrão Adonias” - era a grande sensação. Imbatível e admirado por todos nós.
Idealizador e homem de visão, Natal Queiroga então planeja ir mais além. A princípio, comprou o cavalo “Esperança” ao maior vaqueiro e aboiador da Região Nordeste, o pernambucano conhecido por Zé Vaqueiro. “Esperança” chega a Pombal para desbancar “Gato Preto”. Porém, a sua especialidade não era o Prado, mas, sim a Vaquejada. Foi quando Natal Queiroga começou a idealizar o seu Parque de Vaquejada, na Fazenda Rogério. E Vaquejada surge em Pombal com uma visão mais ampla, não só da derrubada do boi, mas, também, como geração de renda, de parque de lazer para a população. Talvez, em poucas cidades do NE estava nesse contexto, com premiações vultosas e, principalmente, a participação popular.
Foi assim que surgiu a Vaquejada de Pombal, tendo o primeiro grande evento ocorrido no Centenário da Cidade. Lembro-me do cavalo “Esperança” desfilando pomposo, carregando Natal Queiroga que, em certo local descia do animal e este saía seguindo-o por onde ele andasse, sem que o dono ao menos pegasse no cabresto. Era algo que atraía muita gente para ver a proeza de “Esperança”. Eu vi, ninguém me contou.
Lembro-me de Zé Vaqueiro, que corria, comprava e vendida cavalos, aboiava e ainda montava no boi sem a “cia”, ou seja, sem segurar em nada, diferente do que ocorre com os peões de rodeio de hoje. Depois, Manuel Adonias também entrou nessa mesma linha e passou a montar e correr no boi sem a “cia”. De Zé Vaqueiro, nunca esqueci este aboio: “Menina me dê um beijo / Só não quero no pescoço / Quero no bico do peito / Que é lugar que não tem osso / Que é pra quando eu ficar velho / Me lembrar que já fui moço”.
A “Difusora do Brack” (LORD AMPLIFICADOR) de propriedade do intrépido Clemildo Brunet de Sá transmitia todo o evento. Em recente conversa com o meu irmão Massilon Gonzaga, chegamos à conclusão que Clemildo Brunet foi, talvez, o pioneiro no Nordeste em transmissão de vaquejadas. A Barraca Universitária era a mais chic atração da festa. Menino, eu ficava olhando Waldemir Martins, Ghandi, Valdecir Silva, Mibel Silva, Ugo Ugulino e tantos outros sentados às mesas conversando, debatendo os problemas do País.
E eu, meu irmão Massilon e tantos outros meninos pobres ali próximos, todos a espera que alguém jogasse fora o coco gelado para comer a “raspa” – com gosto de whisk, é claro. Mas, sempre pensando comigo mesmo: um dia eu vou ser universitário igual a eles. Esta era a Pombal de antigamente, lembranças que não esqueço jamais...
*Natural de Pombal, Jornalista, Advogado e Professor. Natal - RN
POMBAL DE ANTIGAMENTE: DE "GATO PRETO" E "ESPERANÇA"...
Reviewed by Clemildo Brunet
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6/26/2009 06:22:00 AM
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