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NAS GALERIAS DO JOSUÉ BEZERRA.

Prof. Vieira (Foto)
POR FRANCISCO VIEIRA* Não resistindo à sugestão da professora Cessa Lacerda, reabri o baú das reminiscências. De forma imaginária fiz uma viagem ao passado e adentrei ao extinto Colégio “Josué Bezerra”. Circulando entre suas extensas galerias de robustas colunas em série, observei mudanças, algumas até radicais. Foram tantas que a escola sequer existe mais. É mudança ao extremo ou o extremo da mudança. O que antes fora uma escola de ensino médio de renome – uma referência – deixara de existir e o prédio se transformara em unidade da UFCG. Durante o passeio ilusório, muitas lembranças vieram à tona. A propósito, reporto-me ao período de 1978 a 1991, época de minha permanência naquela escola como professor.
Alunas do Josué Bezerra 1957 (Foto)
Percorrendo suas dependências encontrei um vazio inexplicável. A princípio não vi meus alunos, com os quais convivi durante quase duas décadas. Senti falta e lamentei. Eles são a razão da nossa existência, pois sem aluno, não há professor – nem escola. Com carinho lembrei-me de todos, iniciando pelos mais peraltas. Eles atraiam mais a nossa atenção, como: João de Zé de Bú e seus irmãos Clodomiro e Rahim, Antonimar Bandeira, Alcides Batista (filho de Ascendino), Romero Freitas e outros. Com o mesmo sentimento recordei-me de Dr. Hélder Rocha – Juiz de Direito, Dr. Beto Lacerda – Médico, Dr. Alberg Bandeira – Advogado, Dr. Cesário de Almeida – Professor – PHD, Aparecida Calado – Professora e Secretária Adjunta de Educação Municipal e muitos outros nas mais diferentes profissões. Folgo em saber que todos são hoje cidadãos de bem. Com certeza o trabalho não foi em vão.
Surpreso com o silêncio foi à diretoria onde não encontrei Ivonildes Bandeira. Desagradável notícia, pois havia partido para a eternidade, contudo, deixou um exemplo de vida dedicada à educação. Deixou-nos como legado exemplos de honestidade, ética e dignidade. A ela reputo: a maior administradora escolar do município, além de exímia professora de história. Com saudade lamentei a ausência de Padre Sólon. Na verdade, uma saudade aliviada, pois não corria o risco de vê-lo desabafar seu estresse. Vez por outra, na condição de diretor, vinha à escola dar vasão ao seu temperamento explosivo, aterrorizando alunos e funcionários. Sua visita era causa de intranqüilidade – um misto de pavor e gracejo.
Assim, Padre Sólon foi protagonista de muitas histórias hilariantes entre as quais há uma que se destaca, por isso merece ser contada. Lembro-me: numa dessas visitas inesperadas, irritado, impedia que alunos sem farda assistissem às aulas. Nesse ínterim, enquanto muitos o evitava, eis que uma aluna que trajava preto por está de luto pela morte de seu pai, dirigiu-se até ele, tentando em vão justificar. Depois de várias explicações, o que lhe irritara ainda mais, ele irredutível, prontamente respondeu: “não, não e não: de preto aqui eu só quero Seu Chico”. A título de informação, referia-se a um antigo funcionário da escola. Brincadeiras a parte, asseguro que Padre Sólon merece toda minha reverência. Para ele eu tiro o chapéu.
Continuando, fui até a cozinha. Lá não havia ninguém. Lá não estava Celina, Ana Macedo, Ivanise, Tica de Zé de Bú, responsáveis pela limpeza da escola. Mesmo assim, senti o cheiro inconfundível do irresistível café preparado por Celina.
Fachada do Josué Bezerra (Foto)
Ansioso, caminhando a passos largos, me dirigi até a sala dos professores na esperança de reencontrar os velhos colegas. Lá havia apenas uma antiga e longa mesa em volta da qual nos reuníamos para trabalhar, em meio a brincadeiras. Era o exemplo de um ambiente saudável. Uma família unida, cuja união se firmava no respeito e amor ao semelhante. Parece até que a solitária mesa esperava como eu, a chegada dos professores que nunca mais voltaram. Além de mim, não havia mais ninguém. Por alguns minutos pensei que voltariam. Aí aguardei Olivaldo com seu jeito expansivo e brincalhão. Esperei por Gildenor, Zé Almi, Bibia, Zé Lúcio e Toinho Queiroga. Aguardei ainda Cessa Lacerda, Estela, Romélia, Idalicinha, D. Elisabete, Mavis, Edianete, Francinete Nunes e Bruno, esta com suas inconfundíveis gargalhadas.
Ainda curioso dirigi-me a secretaria onde também não havia ninguém. Estava deserta e silenciosa. Lá não encontrei Paula Aneide (filha de Arrudinha), Livaldina e Maria Batista, que juntas formavam um trio perfeito em termos burocráticos.
Relutante não desisti. Propositadamente, fui até a sala na qual ministrei minha primeira aula, iniciando assim minha carreira profissional. Parei emocionado por alguns instantes e recordei. Lembro ainda: dia 07/03/78, quarta-feira, 7ª série, turno tarde, 3º horário. Visivelmente nervoso e voz embargada estreava na carreira da qual sinto orgulho. Foram 45 minutos que pareciam horas intermináveis.
Preocupado com inexplicável vazio, ainda assim renovei as esperanças. Lembrei-me que na portaria, Seu Chico Daniel, poderia me explicar o motivo desse silêncio. A tentativa foi inútil, pois Seu Chico não estava de prontidão, assim como esteve durante anos, exercendo com responsabilidade sua função e atendendo as necessidades da escola. E, aqui vale um destaque: suas qualidades lhe conceituam um funcionário modelo e lhe assegura o respeito de todos. O que poderíamos chamar de operário padrão. Honesto, vigilante, atencioso e educado. Era tudo, menos professor. Sua ausência era mais sentida que a de qualquer outro profissional. Em suma, insubstituível.
Aí sim, desolado e sem alternativa, retirei-me cabisbaixo e pensativo, procurando uma explicação convincente ou algo que justificasse aquele estado de abandono. A ausência de Seu Chico havia me subtraído a última esperança. Respirei profundo tentando em vão evitar que as lágrimas escorressem os rios da face. Minha reação não podia ser outra, pois é impossível aceitar com indiferença cruel realidade, por isso, a certeza de que esta saudade não vai me largar, haverá de me perseguir a vida inteira.
Meu intuito é exaltar nossa história e torna-la perpétua através dos tempos. No entanto, lamento ao mesmo tempo, o triste fim de uma escola que se tornou marco na educação do município. É sentir saudade, mesmo sabendo que este sentimento jamais vai me deixar. É que estamos intimamente ligados, pois nela iniciei a carreira e vivi os melhores momentos profissionais.
Seu valor para mim é imensurável. Impossível descreve-lo. As palavras por mais sábias que sejam não equivalem a sua grandeza e valor histórico. Nem mesmo o discurso mais erudito e eloqüente não traduziria a sua importância. Há sentimentos que as palavras não explicam. Num misto de revolta e desengano cheguei a triste conclusão: a escola não mais existia. Suas portas fecharam numa ação contrária ao desenvolvimento da cultura e do saber. Triste realidade. Gostaria, fosse apenas mais um sonho, nada mais que um sonho, sonho nunca concretizado.
Ainda Chamado "Arruda Câmara" no início da construção (Foto)
Deveras lastimável, porém verdade. A escola que fora construída em 1949, com a denominação de Arruda Câmara, funcionou por muitos anos sob a administração e normas rígidas estabelecidas pelas Irmãs Carmelitas. Era semelhante uma clausura, onde a reclusão e o retraimento denunciavam um método educacional repressor. E, em suma, retrógrado, por isso, contrário aos conceitos dos dias atuais. Pode-se comparar ao “Clube do Bolinha” Que anos depois, em 1965, ampliando sua área de atividade pedagógica passou a chamar-se Colégio “Josué Bezerra”.
Hoje, a escola que fora no passado uma referência histórica na educação do município, nossa riqueza maior, cerra suas portas e se esvai inexplicavelmente, enquanto nossos políticos assistem indiferentes.
Hoje, dela lembramos com orgulho e saudade. O orgulho se justifica pelos relevantes serviços prestados na formação dos nossos jovens e a saudade que se intensifica ao percorrer AS GALERIAS DO JOSUÉ BEZERRA.
*Professor, Ex-Diretor da Escola João da Mata e Ex Secretário de Administração Municipal. Fotos Arquivos Verneck Abrantes.
Pombal, 08 de outubro de 2009.
NAS GALERIAS DO JOSUÉ BEZERRA. NAS GALERIAS DO JOSUÉ BEZERRA. Reviewed by Clemildo Brunet on 10/10/2009 02:44:00 AM Rating: 5

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