SAUDADES DO SÃO CRISTOVÃO!
Maciel Gonzaga (Foto)
MACIEL GONZAGA*
Conta-nos o nosso respeitado historiador Verneck Abrantes, que o São Cristóvão Esporte Clube de Pombal foi fundado em agosto de 1951. Mais ou menos da segunda metade dos anos cinqüenta até a segunda metade dos anos sessenta, o São Cristóvão se destacou como uma das principais equipes de futebol não só de Pombal, mas de todo Alto Sertão da Paraíba. Seus jogos eram realizados no Estádio Vicente de Paula Leite, um campo de terra batida todo cercado de aveloz, situado nas proximidades dos fundos da Escola Normal Josué Bezerra. Era um clube de futebol que empunhava respeito. Formou grandes esquadrões.
Na administração do Eurivo Donato, o nosso inesquecível "Mixuruca", o São Cristóvão importou jogadores de Patos – a exemplo dos goleiros Menininho e Zé Canário – e até de Campina Grande, como Géo (ex-Sport Recife) e o goleiro Elias (ex-Treze). Chegou a vencer por várias vezes o Esporte de Patos, a Sociedade de Sousa, o Coríntians de Caicó, o Caicó Esporte Clube, o Atlético de Cajazeiras e muitos outros clubes de cidades da região como Coremas, Piancó, Itaporanga, Conceição, São José de Piranhas, Uriaúna, Antenor Navarro, Catolé do Rocha, Brejo do Cruz, etc.
Tínhamos craques da qualidade de Agnelo, do goleiro Nego Adelson – de quem fui fã incondicional – Zaqueu, Perequeté, João Rapadura, Chico Sales, Tuzin de Jubinha, Natal Queiroga, Luiz Camilo, Nenzinho, Verneck, Bosco Alencar, Mago Zequinha, Geraldo Gergelim, Cléber de Bandeira, Ridney e o maior de todos eles - Carlos César ou "Meu César" de Severino Pedro.
Quando menino, fazia de tudo – até fugir de casa – para não perder um jogo do São Cristóvão. Aliás, comecei ir ao estádio quando tinha menos de 9 anos de idade. A minha mãe – Roza Gonzaga – só permitia que eu assistisse aos jogos do São Cristóvão resguardado sob tutela de Mané Preto (Manuel Deolindo), um jovem e elegante funcionário do DNER, responsável por levar o primeiro rádio de pilha para o estádio pombalense, onde ouvíamos, numa roda de bate-papo liderada por Mané Maluco, o locutor Fiori Gigliotti (Rádio Bandeirantes de São Paulo), transmitir jogos do Santos de Pelé & Cia., Palmeiras e Corinthians. Foi nessa época mesmo que eu me apaixonei pelo Sport Clube Corinthians Paulista. Hoje, Mané Preto, com mais de 80 anos, mora em Campina Grande, onde sempre o visito quando vou à Rainha da Borborema, unicamente para a conversarmos sobre a Pombal da nossa época e relembramos as façanhas do São Cristóvão.
Nunca esqueci a minha revolta em determinada manhã de domingo, quando tomei conhecimento que o jogo do São Cristóvão contra um time de Piancó havia sido cancelado em razão da morte do presidente Kennedy (John Fitzgerald Kennedy) dos Estados Unidos. Muitas vezes "furei" aveloz para entrar no estádio e, ao adentrar, ser perseguido por Cabina, para me botar para fora do campo. Tinha entre 10 e 12 anos idade. Servi de roupeiro para Perequeté e Chico Sales. Como o estádio não tinha vestiário, os jogadores do São Cristóvão se vestiam no Grupo Escolar João da Mata e seguiam perfilados, sob os aplausos de seus fãs, até o campo. E nós, meninos traquinos e apaixonados por futebol, para entrar de graça no estádio, segurávamos as roupas dos nossos ídolos.
Há muitas histórias e estórias sobre as proezas do nosso velho e bom São Cristóvão. Uma delas é a do murro firme e certeiro que Carrinho de Doutor Lourival deu em Botijinha. Carrinho, com idade mais avançada em relação aos demais companheiros de equipe, insistia em jogar. Era uma espécie de "dono do time". Como jogador de defesa, era madeira de dar em doido. Dizem até – embora isso nunca tenha sido comprovado – que ele jogava com um revólver no bolso do calção.
Pois bem, Botijinha jogava de ponta-direita e era considerado o "Mané Garrinha do Sertão", a principal atração da Sociedade Esportiva de Sousa, que levava público aos campos de futebol por onde passava. Infernizava seus marcadores. Durante toda semana, nos treinos do São Cristóvão, o pessoal do Maracatu (o time B que servia de “sparing” para os jogadores considerados titulares) começou a malhar com Carrinho, dizendo que ele ia ser “desmoralizado” por Botijinha.
Carrinho se afobou e reagiu afirmando que estava para nascer ainda um homem para lhe desmoralizar. Chega o dia a e hora do jogo. Estádio lotado, gente por cima do muro do Colégio das Freiras, todos querendo ver a atração maior, Botijinha. A turma do Maracatu, com certeza, inflamando o jogador sousense. O abusado ponta-direita, sem saber em que roça estava pisando, engoliu a corda, pegou uma bola na lateral do lado da Rua de Baixo, e partiu para cima de Carrinho, que jogava de lateral-esquerdo, tentando aplicar-lhe o “drible da vaca" (aquela jogada criada por Garrincha, onde o jogador passa a bola por um lado do adversário, vai pelo outro e consegue recuperá-la).
A reação não poderia ser outra: Carrinho segurou Botijinha pela camisa, deu-lhe um murro tão seguro no pé do ouvido, que o raquítico jogador caiu sentado no chão desfalecido. Meu irmão Massilon Gonzaga conta com convicção – só não faz juramento – que estava na lateral do campo e ouviu o grito de gemido de dor de Botijinha. Naquela época, não existia cartão amarelo e expulsão era coisa muito difícil em futebol. O juiz da partida, que era nada mais nada menos do que o nosso “Mixuruca”, apitou a falta, mas nem ao menos chamou a atenção do jogador faltoso. Com medo, é claro!
Do São Cristóvão, teríamos muitas coisas a falar. Mas, hoje, distante de Pombal há exatos 40 anos, só me resta lembrar. Ai que saudades do São Cristóvão!
=.=.=.=.=.
Foto: Arquivo de Verneck Abrantes
Legenda da Foto:
Em pé: Carrinho de Doutor Lourival, Bebé, Nego Adelson, Nenzinho, Werneck e Bosco Alencar; Agachados: Geraldo Gergelim, Tuzin de Jubinha, Cleber de Bandeira, Meu César e Amauri.
*JORNALISTA, ADVOGADO E PROFESSOR NATAL - RN.
SAUDADES DO SÃO CRISTOVÃO!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/08/2009 05:15:00 AM
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