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JAIR DE DONA LÍDIA.

Paulo Abrantes (foto)
POR PAULO ABRANTES DE OLIVEIRA*
O rio Piancó passa pela cidade de Pombal, também pela Outra Banda, conhecida como a Roça de Ana. Ali perto fica o Poço da Panela, nome dado por lembrar vários formatos de pedras imitando panelas. O rio segue seu caminho margeado por frondosas árvores de marizeiras, oiticicas, canafístulas, trapiás, mufumbos entre outras essências vegetais, que descem suas galhas para beijar a água limpa e doce. No Poço da Panela tinha um remanso enorme, em águas profundas que deixava o precioso líquido escuro e temeroso para quem não sabia nadar.
Lugar pitoresco que exercia uma atração medonha na meninada da Rua Nova, Rua da Cruz e da Rua de Baixo. A pedra alta, onde saltavam os banhistas para dentro do Poço ficava sob as sombras de dois pés de ingazeiras já seculares, frondosos, onde se abrigavam os urubus, todos os dias, quando o sol se despedia da terra, à hora bendita do Ângelus. A água, naquela parte do rio, não recebia o calor solar; era fria, acariciante, gostosa, atrativa. Os meninos se deliciavam aos domingos ou quando gazeteavam aulas, nadando, brincando de galinha-gorda, jogando sapatadas, mergulhando, pescando. Nós vadeávamos essa piscina da natureza, displicentes, alheios a tudo, em nossos devaneios, como se fossemos donos do mundo.
Era a adolescência que nos fazia esquecer muita coisa: os estudos, as ordens emanadas de casa, os cuidados maternos e até o medo de perecermos afogados, como era costume sempre acontecer. Desse tempo retive na memória uma passagem que nunca me saiu da lembrança e a recordo quando ás vezes dou as minhas pinceladas no passado. Há poucos dias, em Pombal, estive conversando com o Professor Vieira, recordamos de nosso amigo Jair de Dona Lídia, que foi sempre, durante a nossa infância, um menino pacato, que falava pouco, que não era de briga, mas que estava pronto a defender qualquer colega que, por ventura, se achasse em apuros. E disso deu prova inúmeras vezes.
Certa ocasião estávamos todos tomando banho do outro lado do rio Piancó e nada nos prendia a atenção a não ser a água fria ou algumas baronesas que passavam, bem lentas, carregando a melancolia das suas flores roxas. Em dado momento surge o Geraldo Aquiles, menino bem informado trazendo a infausta notícia: “Jair morreu no Poço da Panela - Bateu com a cabeça na pedra – Antes de morrer ele disse: “Esse vai ser meu último salto” – arrematou. Assombrados com a notícia, todos nós voltamos correndo para casa, pensativos, perplexos e atordoados com o acontecido. E, ali estava à margem do Rio Piancó, a adolescência perdida de Jair, o nosso companheiro retirado inerte das águas profundas por Chico de Ernesto.
O Menino Jair (Foto)
Jair se despedia dessa vida, deixando para trás o Poço da Panela, o lendário Piancó, a correnteza das águas que tanto se banhou, os colegas atônitos... Indiferente, o rio seguiu serpenteando por suas margens o verde escuro da sua vegetação nativa. Levou o sorriso e a alegria de uma juventude em flor. Uma morte prematura marcou para sempre, em nossos corações joviais, o nome do nosso querido Jair de Dona Lídia. Um dia fatídico, que por muitos anos vivemos, não esqueceremos, jamais.
*Escritor pombalense e Engº Civil.
JAIR DE DONA LÍDIA. JAIR DE DONA LÍDIA. Reviewed by Clemildo Brunet on 3/11/2010 04:39:00 PM Rating: 5

Um comentário

Novo disse...

Que viagem no tempo, caro Paulo! Era ainda pequeno quando estava com minha mãe Helena na calçada de nossa casa na Rua do Comércio e dois irmãos meus, o Nenem(Chico Maniçoba)e Cacau(Cláudio Maniçoba) chegaram em prantos noticiando a morte do saudoso Jair, posto que estavam tomando banho juntos. Lembro que minha mãe repreendeu os dois por terem ido à parte mais perigosa do rio Piancó. Todos nos comovemos e choramos na ocasião. Foi uma grande perda pela capacidade criativa do Jair, como bem descreve seu maravilhoso artigo. Continue a nos brindar com essas lembranças de nossa infância.
Um fraterno abraço conterrâneo.
Antonio Dantas Maniçoba

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