DEZEMBRO EM POMBAL NA DÉCADA DE 1960
Jerdivan N. Araújo (Foto) |
Quando chegava o final do ano a cidade de Pombal ganhava novos ares. Eram os jovens que estudavam em João Pessoa e Campina Grande, que retornavam para as férias escolares, trazendo todo tipo de modismo, como toca disco portátil, gravadores de fita cassete, calças boca de sino, sapatos e cintos cavalo de aço, além de outras novidades que só eram vistas através das páginas da Revista Cruzeiro.
Os encontros dos jovens regressos eram sempre nas duas praças centrais, onde ouvíamos as "românticas" histórias, de fatos acontecidos na Capital.
Para os que ainda batalhavam no curso secundário, ralando nas cadeiras do Colégio Estadual, sob a batuta do Diretor Arlindo Ugulino, ouvir aquelas façanhas era como viajar para lugares distantes, sonhando sonhos alheios, mas, alimentado a certeza, que um dia eles seriam também protagonistas daquelas histórias.
Eram as histórias dos festivais de músicas; as prisões e exílio de militantes perseguidos pela Ditadura Militar. Eram os que traziam o último LP de Chio Buarque e tentavam interpretar suas letras de protestos nas suas sub-linhas e os que traziam as piadas subversivas de Juca Chaves e até exemplares do proibido Jornal “O Pasquim”, que era lido em rodas de amigos, onde se confabulava e filosofava a respeito do destino “Deste pais que vai para frente” ou do “Ame-o ou deixe-o” que era ostentado no vidro traseiro do fusca de seu Ubaldo. Lembro-me que um estudante trouxe um adesivo que dizia: “Já o deixei há muito tempo” e que, segundo ele, era usado em carros de brasileiros que circulavam nas ruas de Quito.
Para ser igual a “turma de universitários de Pombal” era preciso estudar muito e esperar o resultado do vestibular, que era aguardado com muita ansiedade por todos da cidade. Dos aprovados, os pais recebiam os louros da luta travada contra tudo e contra todos para “formar” um filho.
Era honra maior que se tinha ter um primogênito estudando na capital ou nas escolas agrícolas de Areia ou Bananeiras. Ter um filho que retornaria a Pombal com um “canudo” nas mãos, enquanto que os filhos das oligarquias sequer conseguiam concluir o fundamental, era uma vitória para àqueles homens simples da terrinha.
Nesta época, as casas se “vestiam” de amarelo ou azul nas pinceladas de pintores como Natércio, Chico de Tinane, Pixico e outros mestres pintores das Rua da Cruz e Rua de Baixo, para quem, por serem bons, nesta época não lhes faltavam trabalho. Era indispensável o “rodapé” em toda a sala e corredor, sempre na cor “vermelho telha'. Em Pombal, quando o sujeito é de baixa estatura ainda hoje costumam chamá-lo de “pintor de rodapé, mas, os mais jovens sequer sabem do que se tratava o tal de rodapé.
Era dezembro. Nos lares das famílias mais afortunadas, onde o piso era de ladrilhos feitos na “Fabrica de mosaico” de Chiquinho Formiga, ali de frente a casa de Joaquim Cândido, onde Negro Crushe rodava a prensa a tração humana, para fazer os ladrilhos, um a um, brilhavam belas árvores de Natal com dezenas de lâmpadas coloridas piscando, sempre expostas em local que pudesse ser vista por quem passava na rua.
Já nas residências dos mais desassistidos, destas “escrito em cima que era um lar”, a Árvore de Natal era feita com galhos secos, envoltos em algodão, com caixas de fósforos, que eram juntadas durante todo o ano e embrulhadas feito presentes com papel laminados de cigarros, dependuradas e balançando ao vento. Quem podia comprava na loja de Pio Caetano ou Bazar Imperial de Zuza Nicácio, belas bolas coloridas, o que era uma raridade.
E assim todos, ao seu modo, eram felizes, esperando que o ano vindouro trouxesse dias melhores ou que, pelo menos fosse igual ao quê chegava ao seu final.
Quem sabe no ano que vem um filho na Universidade!
*Escritor Pombalense.
DEZEMBRO EM POMBAL NA DÉCADA DE 1960
Reviewed by Clemildo Brunet
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1/07/2011 10:41:00 PM
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