VELHOS CARNAVAIS
Onaldo Queiroga |
ONALDO QUEIROGA*
Falar em carnaval é recordar uma tradição que vem sendo esquecida e apagada das páginas do nosso carnaval. Refiro-me aos bailes carnavalescos realizados em clubes.
Numa viagem ao passado, recordo-me das matinês repletas de crianças acompanhadas de seus pais. No período noturno, o baile era dos adultos. Os foliões caprichavam nas fantasias e usavam apitos, confetes e serpentinas. Nos bailes, assistíamos a chegada dos blocos, formados por grupos familiares que se reuniam para brincar o carnaval. Era um carnaval familiar. Porém, até o final dos anos 2000, essa tradição ainda lutava para se manter viva, mas chegou o tal de carnaval de praia que, aos poucos, foi aniquilando, infelizmente, os bailes carnavalescos.
Eu tive a felicidade de viver um pouco desse tempo. Em João Pessoa, participei de algumas matinês no Esporte Clube Cabo Branco e da famosa e saudosa prévia denominada de “Vermelho e Branco”. Mas, foi em Pombal, minha querida terra, que vivi intensamente essa tradição. Nos anos 1980, na companhia do meu irmão Cacá, de primos e amigos de infância, tive a oportunidade de não só participar dos matinês do Pombal Ideal Clube, como também viver as quatro noites de carnaval. Recordo-me de que, sob a presidência de Pereira, o Pombal Ideal Clube realizava, organizadamente, o carnaval pombalense. Mas, vale destacar uma fase do carnaval de Pombal que eu não vivi, mas fora vivido pelos meus pais, falo do carnaval da Sede Operária que nas décadas de 1950 e 1960 reunia multidões, que brincavam sob o som de Manoel Donária, Eliseu, Admastor, Zezinho Sapateiro, Tié e Saturnino.
BLOCO URSOS 1985 |
Não cheguei a participar desse momento carnavalesco, pois foi um período que contou com a participação de meus pais, contudo, Os blocos davam um tom especial e harmônico à alegria dos foliões. Eram eles: O Formigão (de Chiquinho Formiga), Bloco do Sujo, Fuleragem, Brasinha, Descarados, Eternamente, Os Chorões, Antártica, Dragões, Os Ursos, etc. Cada um tinha seu próprio hino, que era executado na hora da entrada triunfante no salão do Pombal Ideal Clube. Ainda ouço o som metálico do piston do gordo de Cabine e do sax de Teinha. Lembro-me de que, quando o Brasinha desfilava no salão, todos cantavam: “Brasinha, brasinha, é raça e cachaça é povão / Não é o maior bloco do Brasil / Brasinha é o melhor bloco de Pombal..” E o bloco do Sujo, fundado por Manoel Bandeira, trazia em seu hino: “Olhe o bloco do sujo / que não tem fantasia / Alegria barata / Carnaval vai chegar...” O Bloco “Os Ursos”, de sua vez, brincou apenas o carnaval de 1985, tendo sido seu hino composto por Luizinho Barbosa, e dizia: “Vem chegando os ursos abrindo alas no carnaval / todos vem alegres que não tem igual / tem mel, tem mel no meio do salão / são quatro dias de folia...”. Em Pombal, o carnaval começava no sábado logo cedo, quando, pela manhã, as pessoas já saiam pelas ruas com colorau, maisena e fubá, no chamado mela-mela.
Já no domingo, era a vez do molha-molha, onde Dr. Avelino, acompanhado de Joãozinho, Zé de Bu e Valderi, colocava um tambor cheio d'água em cima do seu Jeep e percorria as residências dos amigos, molhando-os. Lembro-me de um domingo de carnaval no início dos anos 1970, estávamos na residência do meu avô Antonio Rocha, Rua João Pessoa, eu, meus pais (Antonio Queiroga e Onélia), Eufrásio, Des. Plinio Leite Fontes, minha avó Raimunda, meu avô e Tio Olavo, quando de repente chega Tio Avelino com seu Jeep. Todos correram, uns se trancaram no banheiro e outros pelos quartos. Mas como se sabe, menino é bicho danado, eu tinha meus oito anos de idade, então, tratei logo de dizer que Eufrásio estava debaixo da cama do quarto da frente. Tio Avelino não contou conversa, juntamente com Valderi, Joãozinho e Zé de Bu, tiraram Eufrásio debaixo da cama e o molharam. Depois foi a vez dos meus pais, Des. Plínio e tio Olavo. Meus avós também não escaparam do banho. Era uma festa só, tudo sem contratempo, pois fazia parte da tradição carnavalesca.
Mas quem não se lembra de Zé Preto, fantasiado de Zorro, montado em sua moto com três pinicos amarrados na motocicleta, sendo arrastados pelo calçamento fazendo um barulho enorme. Ele vinha lá da Rua da Cruz ou Rua da Rodagem acompanhado da família Espalha, e, pelas ruas de Pombal faziam a festa.
Era o ponto alto do momento momesco pombalense. Mas não podemos esquecer do corso, onde no final das tardes dos dias de carnaval vários carros enfeitados, levando pessoas fantasiadas, subiam e desciam desfilando pela Rua Nova. Não podemos esquecer o Fôiará, bloco de rua criado e comandado por Mastõe, que nas terças-feiras de carnaval arrastava foliões pelas ruas da Terra de Maringá. Como diz Clemildo Brunet, era o carnaval das famílias, onde a brincadeira corria solta, sem riscos de drogas e violência.
Velhos carnavais que não voltam mais!!!
João Pessoa, 06/03/2011
*Pombalense, Juiz da 5ª Vara Cível da Capital
VELHOS CARNAVAIS
Reviewed by Clemildo Brunet
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3/06/2011 06:47:00 PM
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