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POMBAL: PITADINHAS DE HUMOR

Prof° Francisco Vieira
Francisco Vieira*

Por mais que pareça redundante continuarei afirmando: Pombal é um lugar suigeneris.

Nasceu sob a égide da fé, sentimento manifestado pelos seus habitantes na devoção a Nossa Senhora do Bom Sucesso e do Rosário - a mesma Mãe de Deus – ambas igualmente veneradas como santas.

Sua maior riqueza natural é o Rio Piancó, curso de água perene e sabor incomparável, presente da mãe natureza. Extenso oásis em meio ao solo tórrido vitalizando a aridez de seu leito.

Seu passado composto de fatos marcantes construiu uma história ímpar, orgulho para seus filhos e enlevo para os visitantes.

Berço de grandes vultos. Ostenta com orgulho seus filhos ilustres como Rui e Janduy Carneiro, Celso Furtado, Leandro Gomes de Barros e outros igualmente notáveis.

Pombal foi palco de conflitos contra nativos severamente perseguidos em nome da “civilização” e de sangrentas lutas à custa de vidas humanas que marcaram a presença do cangaço na região. Em contrapartida, levada pelo sentimento nostálgico, cultua a Cabocla Maringá, lenda que se tornou a maior referência do lugar.

A história de Pombal é ampla e diversificada. Na sua imensidão quase infinita é evidente seu lado cômico e pitoresco, recheada de casos e estórias protagonizadas pelos próprios moradores. Geralmente são pessoas comuns que se fizeram famosas com piadas, anedotas e respostas de efeitos, frutos da acentuada presença de espírito que deram a história ares de graça e beleza.

É impossível contá-la sem fazer referência a personagens como: João Lindolfo, Bizeu, Saturnino Santana, Godor, Ciço de Erice, etc. Omiti-las seria negar a própria história. No mínimo estaria incompleta se não contasse com a participação dessas e outras pessoas que a sua maneira se tornaram personagens construindo seu lado jocoso.

Tendo vivido a época, sinto-me cúmplice dessa história, portanto no dever de recriar os fatos, resgatar personagens e mantê-los vivos para a posteridade.

A propósito, enfoco Zezinho Sapateiro e Pedro Corisco, trazendo à tona algumas de suas proezas. Ambos foram figuras emblemáticas que se despontaram pelo espírito lúdico, proporcionado momentos de alegria e descontração.

Lembro com reverência a figura inestimável de Zezinho Sapateiro, cujo apelido está intimamente ligado ao trabalho no conserto de calçados, além de músico, profissões exercidas com muita dignidade, através das quais, manteve-se e educou sua família. Um exemplo de fé e perseverança. Deixou como legado a simplicidade, humildade, mansidão e honestidade, qualidades que orgulham seus filhos. E, como se não bastasse, mostrava-se extrovertido e brincalhão, um espirituoso, gracejador. De sua verve profunda afloravam repentes capazes de causar risos nas multidões. Enfim, histórias e estórias que merecem ser relembradas.

Como profissional zeloso, Zezinho primava pelo bom atendimento e a boa aparência da sapataria. Suas paredes recheadas de calendários multicoloridos apresentavam fotos de modelos femininos que exibiam corpos esculturais e pernas bem torneadas, despertando a atenção, desde os mais ávidos até os mais displicentes. Ao longo das paredes, a uma altura de uma pessoa, havia um espelho de no máximo um centímetro de largura, que de tão diminuto mal refletia qualquer objeto, o que intrigava a todos. Certa vez um cliente levado pela curiosidade fizera a pergunta que não podia calar: “para que serve esse espelho tão fino e estreito” no que Zezinho prontamente respondeu: “serve para tirar remela” – secreção que se forma nos cantos dos olhos.

Outra que merece ser contada ocorreu entre ele e Pio Caetano, comerciante local, de quem aceitara uma carona já que moravam próximos. A viagem, embora feita num desconfortável Jeep Willis, desenvolveu desabalada carreira pela via pública. Preocupado e querendo advertir o motorista do perigo que corriam Zezinho lhe perguntara qual o motivo de tamanha disparada no que Pio respondera: “para carregar a bateria”. Coincidência ou não, logo no dia seguinte e no mesmo horário Pio fizera o mesmo convite no que foi recusado por Zezinho que lhe respondera: “Agradeço. Não sou solução prá carregar bateria de carro”.

Enfim, outra interessante. Zezinho que costumava fazer uma fé na loteria viu certo dia a sorte bater sua porta. Após comprar um bilhete por apenas 13 cruzeiros – moeda da época –foi sorteado, valendo como prêmio um fusca O Km e mais 20 mil cruzeiros aproximadamente. A propósito foi procurado pelo Dep. Chico Pereira que lhe parabenizara satisfeito. Além de manifestar sua alegria o deputado sugeriu ao novo milionário trocar o carro por um usado, pois lhe renderia mais dinheiro para instalar um negócio. Embora válida a idéia, o parlamentar foi infeliz na forma de dizer, quando assim se pronunciou: “Zezinho, porque você não vende esse carro e compra um mais barato”. Ironicamente respondeu Zezinho: “como Seu Chico, se eu não acho”.

Outro igualmente espirituoso foi Pedro Corisco. Como Zezinho, detinha privilegiado estado de ânimo evidenciando-se na arte de fazer piadas. Também como Zezinho era simples, pacato e honesto. Na luta pela sobrevivência exerceu diversas atividades comerciais tendo se destacado na fabricação de malas, ataúdes e feirante, trabalho com o qual manteve sua família composta de oito filhos de dois casamentos.

Seu Pedro tinha respostas para todas as ocasiões. Até mesmo nos momentos de infortúnio manifestava seu alto grau de humor, a exemplo do que aconteceu com uma pessoa que fora comprar um caixão para sepultar seu pai. Indagando sobre o preço o indivíduo assim se pronunciara: “Seu Pedro faça um menor preço no caixão”. Indisposto a qualquer redução o comerciante assim respondeu: “só se você me comprar dois”. Reforçando o pedido disse o cliente: “Seu Pedro me ajude”, no que lhe respondera: “só se for a chorar”.

Eis outra historinha que deve ser contada. Seu Pedro fora procurado por uma mulher que necessitara dos seus serviços de marceneiro para colocar fundo numa lata. Conduzindo uma peça de madeira assim indagou: “Seu Pedro, por quanto o senhor bota um fundo numa lata”? Cinco cruzeiros – moeda em vigor – respondeu. Tentando baratear o trabalho, referindo-se a madeira que trazia, perguntou: “E eu dando o fundo”? Em resposta disse Seu Pedro: “boto de graça e ainda carrego dois galões d!água prá senhora”.

Enfim, a sua máxima. Deu-se numa feira livre onde vendia fumo de rola. Certo freguês - como de costume – cheirou todos os tipos de fumo expostos para comprar o que mais lhe agradasse. Tendo irritado suas narinas de tanto cheira-cheira, o indivíduo soltou forte espirro que veio acompanhado de sonoro “peido”, que foi ouvido pelos presentes. Insatisfeito com a qualidade do produto perguntara: “o senhor tem um mais forte”? A propósito, teve de Seu Pedro a seguinte resposta: “Não. O de “cagar” já acabou”.

Bem, é melhor parar por aqui. Apenas uma pausa. Continuarei depois com novos “casos”, pois a fonte é inesgotável.

O presente artigo retrata uma época vivida, porém nunca esquecida. No seu contexto está expressa a variedade cultural e histórica de Pombal, aspectos difundidos pelo amor telúrico de seus filhos. São recordações fortes e inabaláveis que resistiram ao caráter implacável do tempo que não conseguiu destruir.

Assim, espero estar proporcionando um despertar para o aprofundamento da história que eu gostaria fosse eterna. Pelo menos uma coisa é certa: os fatos narrados foram protagonizados por mentes privilegiadas, que construíram a parte hilariante da história.

Enfim, com simples PITADINHAS DE HUMOR aqui descritas, reflete-se a certeza de que em Pombal a disposição do espírito sempre esteve presente.

Pombal, 01 de fevereiro de 2012.
*Professor, ex-Diretor da Escola Estadual João da Mata e ex Secretário de Administração do Município de Pombal -PB.. 
POMBAL: PITADINHAS DE HUMOR POMBAL: PITADINHAS DE HUMOR Reviewed by Clemildo Brunet on 2/04/2012 07:10:00 AM Rating: 5

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