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Uma estrela se apaga

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

Os anos 60 começaram com o homem invadindo o espaço, o soviético Iuri Gagarin (1934/1968) é o primeiro homem tripulante de uma nave espacial. Inicia-se o uso da informática na área comercial, a juventude dar seu grito de independência com a contracultura, movimentos importantes surgem, os hippies protestando contra a guerra fria, o racionalismo e a guerra do Vietnã.

A televisão passa a ser o meio de comunicação de massa com transmissões de TV em cores em todo mundo, no Brasil surgiu posteriormente, em 1972, com a transmissão da festa da uva no RS.

No cinema Frederico Felini (1920/1993) lança o clássico La Dolce Vita (A Doce Vida); Brigitte Bardot surge como o símbolo sexual da década; o diretor brasileiro, Anselmo Duarte (1920/2009 aparece com o filme o pagador de promessas, de Dias Gomes (1922/1999), e recebe a Palma de Ouro do Festival Internacional do Filme de Cannes, França.

Em 21 de abril de1960 Brasília é inaugurada, pelo Presidente Juscelino Kubitschek (1902/1976) levando o progresso e toda administração federal para o centro-oeste. Em 25 de agosto de 1961 o presidente Jânio Quadros renuncia a Presidência da República com inicio de uma grave crise política no Brasil, culminando com o golpe militar e a queda do Presidente João Goulart.

John F. Kennedy Presidente dos EUA é assassinado dia 22 de novembro de 1963; 9 de outubro de 1967, o líder revolucionário, Che Guevara (1928/1967) é executado na Bolívia; e em 4 de abril de 1968 é assassinado, também nos EUA, o líder negro norte –americano, Martin Luther King (1929/1968); com surgimento de guerras e revoluções regionais a década de 60 tornou-se uma das mais violentas, pós guerra.

Na música tivemos o surgimento de várias estrelas, os Beatles, Bob Dylan, Rolling Stones, o grupo The Jackson 5 e o Festival de Woodstock, todos, e outros tantos, mudaram o comportamento musical mundial.

No Brasil os festivais tiveram sua importância musical na década de 60, com o surgimento de grandes compositores e interpretes, destaque para Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto, Tom Zé, Os Mutantes, fizeram a cabeça de uma juventude com desejo de mudanças no plano sócio-político no Brasil.

A MPB se mantém mais sólida com a manutenção da Bossa Nova, movimento surgido na década anterior. Nomes como Tom Jobim (1927/1994), Vinicius de Moraes (1913/1980), Roberto Menescal, Carlos Lyra, João Gilberto, Nara Leão (1942/1989), Leny Andrade, e uma quantidade enorme de compositores, cantores e músicos, responsáveis pela sobrevivência do movimento maior dentro da MPB que é a Bossa Nova.

Nesse conjunto de astros surge uma estrela, em 1960, lançou seu primeiro disco, e sua primeira composição, Não Devo Insistir, na voz de Dora Lopes (1922/1983). Respaldado na sua cultura musical, Pery Oliveira Martins (1937/2012), adotou o nome artístico de Pery Ribeiro, nasceu artista, filho de Herivelto Martins (1912/1992) e Dalva de Oliveira (1917/1972), nomes que dispensam comentários, dentro da MPB.
Pery Ribeiro carregava sobre os ombros uma responsabilidade musical muito grande, não podia falhar na sua carreira artística, assim sendo, deu continuidade ao seu trabalho e em 1961 grava um disco com clássicos, com destaque para Manhã de Carnaval e Samba de Orfeu, ambas de Luiz Bonfá(1922/2001) e Antonio Maria (1921/1964), O Barquinho, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli (1928/1994), dentro tantos outros sucessos, todos em 78 rpm.

Foi em 1962 que lançou o seu primeiro LP, Pery Ribeiro e seu Mundo de Canções, com interpretações inesquecíveis como Caminhemos, composição do seu pai, Herivelto Martins, Esquecendo você, de Tom Jobim, e Meu nome é Ninguém, uma parceria de Haroldo Barbosa(1915/1979) e Luiz Reis(1926/1980). Pery é Todo Bossa, é o nome do seu disco de 1963 com a música Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, mundialmente famosa. Foi em 1964 que o Pery Ribeiro lança o disco Pery Muito mais Bossa, destaque para a composição de Carlos Lyra e Geanfrancesco Guarnieri (1934/2006).

Continua lançando seus discos, em 1965 o Gemini V, 1966 vem o Bossa 3, e em 1967 lançou no México o Gemini V e Pery. Foi em 1968 que suspende uma excursão aos EUA e Europa, em decorrência do estado de saúde da sua mãe, Dalva de Oliveira, retorna ao Brasil e grava o LP Pery Ribeiro, onde consta as composições, Pra Você, de Silvio Cesar, e Coisas, do Taiguara (1945/1996).

Em 1972, apesar da morte da sua mãe, Dalva de Oliveira, lança dois discos, o Gemini 5 anos depois, e Pery Ribeiro.

Em 1974 volta ao México e grava o disco Abre Alas. Em 1975 é editado o disco Herança, composição título, de Francis Hime e Paulo Cesar Pinheiro. Em 1976 que é lançado o disco Bronzes e Cristais, música título de Alcyr Pires Vermelho (1906/1994) e Nazareno de Brito (1925/1981), um dos melhores discos da MPB. Encerra a década de 70 com o disco Alvorada, composição título de Cartola (1908/1980), Hermínio Bello de Carvalho e Carlos Cachaça (1902/1999).

Inicia a década de 80 com dois discos, Os Grandes Sucessos da Bossa Nova, e Pery Ribeiro Sings Bossa Nova Hits. Em 1981 lança o Brasileiríssimo, com o sucesso Agonia, música do Osvaldo Montenegro. Foi em 1986 que lançou o disco Pra Tanto viver, música título de sua autoria.

Em 1991 grava um disco independente com música título Ave Maria no Morro, de Herivelto Martins. Em 1992 vem novamente com Cartola, na composição As Rosas não Falam, e Bom dia Tristeza, a belíssima parceria de Adoniran Barbosa (1910/1982) e Vinícius de Moraes. Em 1995 faz uma homenagem ao compositor Adelino Moreira, lançando o CD Pery Interpreta Adelino Moreira. Em 1997 grava o CD A Vida é Só Para Cantar, e três CDs com participação de vários cantores.

Retorna aos EUA e grava um disco em 1999, Tributo a Taiguara. 2004 participa do DVD da sinfônica paulistana, de Billi Blanco (1924/2011), em homenagem a SP. Em 2006 em participação no DVD sinfonia do Rio de Janeiro, parceria de Billi Blanco e Tom Jobim.

Pery Ribeiro faleceu no último dia 24, deixando na MPB uma lacuna que será sentida por muito tempo, principalmente pela sua capacidade de escolher boas músicas para o seu repertório, bons músicos para gravar seus discos, e seus parceiros musicais. A Bossa Nova perde um dos seus maiores representantes, principalmente no mercado internacional, aonde ele tinha um valor reconhecidamente maior que o prestigio que teve, em vida, dentro do Brasil.

Obrigado Pery Ribeiro pelo profissional competente e responsável que você foi.

*Escritor pombalense e empresário em Santa Catarina.
Uma estrela se apaga Uma estrela se apaga Reviewed by Clemildo Brunet on 2/27/2012 05:03:00 AM Rating: 5

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