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AINDA FALANDO DO TEMPO DOS CIRCOS...

Maciel Gonzaga
Maciel Gonzaga*

O meu mano Massilon sempre me sugere alguns temas para artigos. Um deles era sobre os circos que visitavam Pombal na década de 60. Antecipando-me, em tão boa hora, o mestre Inácio Tavares publicou recentemente a pérola “No Tempo dos Circos”. Uma maravilha! Sempre fui apaixonado por circos e aprendi a gostar vivenciando muitos dos circos citados pelo professor Inácio.

O circo é um dos mais importantes produtores e disseminadores da arte e da cultura no mundo. Encontramos suas raízes nas artes marciais desenvolvidas na China há 5.000 anos, no Egito, nos jogos Olímpicos da Grécia antiga, no Circo Máximus em Roma. Quando a arena transformou-se num espetáculo de horrores com a perseguição aos cristãos, os atletas buscaram refúgio para suas atividades em Constantinopla. Na Idade Média, na Europa saltimbancos acrobatas apresentavam-se nas praças e
feiras, driblando a perseguição da Igreja. No final do sec. XVIII, um militar Inglês, Philip Ashtley, cavaleiro exímio, para popularizar as exibições eqüestres, deu-lhe o formato atual, com picadeiro, cuja circunferência facilitava a execução de acrobacias sobre os cavalos. Na América do Norte ganhou a cobertura de lona e as novas técnicas de sustentação. No Brasil, aportaram no final do século XVIII e século XVIII. O circo é detentor de um rico patrimônio cultural imaterial de origem milenar que vem sendo transmitido de pai para filho, através dos tempos, por tradição oral.                                      

Destarte, gostaria de dizer que a minha mãe Roza Gonzaga – que também gostava muito de circos e não perdia um que chegasse à cidade, levando seus filhos, é claro – sempre dizia: “O melhor circo que veio a Pombal foi o Nerino”. Não tive a oportunidade de vê-lo, pois, acredito que ele tenha passado por aí na década de 50 e eu ainda era muito pequeno. Mas, cabe aqui um pouco da sua história. Foi fundado pelo casal Nerino e Armandine Avanzi, em Curitiba, no primeiro dia de 1913, e apresentou seu ultimo espetáculo em 13 de setembro de 1964, na cidade paulista de Cruzeiro. Durante quase 52 anos, percorreu todo o país por diversas vezes. Viajou de trem, navio, barcaça, jangada e, por fim, de caminhão, em estradas de terra que na época eram de terra mesmo. E numa época em que o circo era o maior quando não o único espetáculo das terras do Brasil. Era circo-família porque a família era seu principal esteio. E como autêntico representante desse modo de produção circense, tinha como principal estrela, o palhaço, no seu caso, o Picolino.

Agora, eu presenciei grandes circos em Pombal, que estão no rol dos melhores do País. Armavam inicialmente no campo de futebol da Rua de Baixo (por trás do Posto de Puericultura). Depois, os circos passaram a armar no campo de futebol ao lado do Ginásio Diocesano, em frente ao conjunto dos Bancários... Ali estiveram o Gran Bartholo Circus, Circo Orfey (comandado por Orlando Orfey), Circo Tihany (comandado por Franz Thiany), o Circo Romano Garcia (seu proprietário Antolim Garcia considerado "o Rei do Circo"), entre outros.
Cabe destaque aqui para o Gran Bartholo Circus, que era o dos Elefantes... Foi fundado na primeira metade dos anos 60 por José Ruy Bartholo (o Bartholo velho), casado com Zizinha Bartholo, ambos oriundos do Circo Nerino. Com o encerramento das atividades do Nerino, “Seu” Bartholo, como era conhecido, baiano de Vitória da Conquista, resolveu seguir carreira solo. Não era propriamente Anão, mas um homem tronco. Tinha o torso normal. Mas suas pernas, pés e braços eram atrofiados. Nasceu assim, ara ágil no trapézio, sustentando o corpo com os antebraços. Sempre andava bem vestido, terno de linho branco e chapéu Panamá. Gostava de sinuca e quando jogava era atração... Tornou-se um empresário competente no ramo e seu circo chegou a ser um dos maiores do Brasil, sendo administrado posteriormente poro seus filhos – Ruy Bartholo Júnior (domador de elefantes), Valter, Vicente, Toninho e Vilma. Tinha muitos animais, inclusive elefantes que eram levados para se banharem no Rio Piancó, passando antes pelo tradicional “corredor” da Rua de Baixo. A molecada fazia a festa... Diziam até – ninguém conseguiu provar isso – que o Bartholo oferecia ingressos aos moleques que levassem gatos para alimentar os leões... Há informação, embora não confirmada oficialmente, de que uma dos filhos do casal José Bartholo-Zizinha teria nascido em Pombal, quando da passagem do circo por aí na década de 60.

Em 1981, o Circo Bartholo serviu de palco para o cineasta J. B. Tango rodar o filme “Saltibancos Trapalhões”, com Renato Aragão, Dedé, Mussum e Zacarias, além da participação de Chico Buarque de Holanda. No início da década de 2000, o Circo Bartholo encerrou suas atividades, não suportando as campanhas contra o uso de animais. Ruy Bartholo Júnior passou a trabalhar no famoso Parque Temático Beto Carrero Word. Seu pai - “Seu” Ruy – montou um hotel em Camburiu-SC, ficou adoente depois de três derrames e morreu.
Uma das grandes qualidades do ser humano é a gratidão. Foi o que Ruy, filho do velho Bartholo, demonstrou no livro “Respeitável Público” que escreveu, mostrando a magia do circo. Aqui presto uma homenagem ao Gran Bartholo Circus em nome de todas as companhias que visitaram Pombal. Atualmente, as atrações circenses são mais modernas e trazem muitas novidades tecnológicas. Que viva, sobreviva o circo, o riso, a cordialidade, a hospitalidade, a solidariedade e, principalmente, a família.

*Advogado e Jornalista.

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AINDA FALANDO DO TEMPO DOS CIRCOS... AINDA FALANDO DO TEMPO DOS CIRCOS... Reviewed by Clemildo Brunet on 6/30/2013 06:17:00 PM Rating: 5

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