Congresso abre a caixa preta e começa viabilizar projetos ignorados
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Estamos no ápice do espanto com o que foi conseguido pelos movimentos
das ruas nas últimas duas semanas. O elevado grau de complexidade pela ausência
de uniformidade das causas levantadas, e levadas como bandeiras no desejo
coletivo não resta dúvidas que os resultados foram extraordinários. Nossa
juventude turbinou, de forma inconteste e num ritmo célere, os trabalhos no
executivo e legislativo nacional, fazendo que projetos prioritários e relevados
à segundo plano, antes engavetados, fossem colocados em pauta para as
providencias cabíveis e com a devida importância de cada um, apesar do atabalhoamento
dos congressistas, na tentativa apenas de agradar aos seus eleitores, sem,
entretanto, procurar enfocar seus trabalhos numa forma de consenso e mostrando
novos rumos ao destino da nação, como é o anseio de todos. Por enquanto há muito correria com produção de papéis, regulando
situações e promovendo reformas localizadas, sem, no entanto, o lado prático
ser colocado em ação, em outras palavras, muita fumaça e pouco fogo.
O recado dado pela juventude foi objetivo e
direto, e conseguiu seu
intento, aquilo que inicialmente parecia uma insatisfação por um aumento nas
passagens dos ônibus urbanos das grandes cidades, por vota de 20 centavos, era
apenas o gancho de anseios maiores. Constituiu-se no início de uma manifestação
provocada pelas demandas imprimidas pelos atos praticados pelos políticos que
comandam os destinos do nosso país. O resultado está nas reações imediatas
dessa classe.
Podemos verificar a situação desconfortável que ficou os nossos
congressistas, principalmente após a Presidente da República, Dilma Vana Rousseff,
ter sugerido reformas, com um plebiscito específico para tratar da reforma
política, desistindo dessa ideia logo em seguida aos conselhos contrários ao
seu pensamento, de pessoas e grupos importantes para a história atual da nossa
nação, como a OAB e outras entidades de classes. A presidente manteve suas
sugestões e posições positivas com investimentos prioritários nas áreas da
saúde, educação e mobilidade urbana, fundamentos básicos constantes nas
reivindicações dos manifestantes.
Os senhores senadores e deputados se viram forçados pelas circunstancias
a colocar em prática uma atuação mais dignificante aos cargos que ocupam,
sacando dos seus arquivos projetos que viessem trazer respostas favoráveis aos
anseios populares. De imediato, a câmara coloca em votação a PEC 37, mais
conhecida nas ruas e pelo brado do povo como PEC da impunidade, tendo
definitivamente sepultado por 430 votos favoráveis ao seu arquivamento com
apenas nove votos favorável.
O Senado Federal, colocando em prática uma agenda positiva, aprovou
quarta-feira (26) o projeto de lei que altera o código penal, aumentando a
punição para corrupção e tornando esse tipo de delito como crime hediondo,
considerado o de maior gravidade, aplicação tanto na corrupção ativa como
passiva, incluído também foi nesse crime a concussão (ato de exigir benefício
em função do cargo ocupado).
O relator do projeto, senador Álvaro Fernando Dias (PSDB/PR), incluiu no
texto original, de autoria do senador José Pedro Gonçalves Taques (PDT/MT), uma
emenda parlamentar, do mesmo autor do projeto, mais um tipo de crime envolvendo
recursos públicos, o excesso de exação (quando o servidor público cobra
indevidamente imposto ou contribuição social), alteração de pena, aumentada de
dois para quatro anos de reclusão além de ser considerado hediondo, com pena
máxima permanecendo em 14 anos. O senador José Wellington Barroso de Araújo
Dias (PT/PI) teve uma emenda de sua autoria aprovada aumentando em um terço o
período de reclusão da pena para peculato, nos casos em que o crime for
cometido por agente político ou membro de carreira de estado.
Outra emenda também aprovada, como carona no mesmo projeto, de extrema
necessidade, e que assim o fosse, foi de autoria do senador José Sarney de
Araújo Costa (PMDB/AP), o homicídio simples e as suas formas qualificadas
também como crime hediondo, na tentativa de baixar o índice de criminalidade no
país que ostenta o primeiro lugar entre todos os países pesquisados. O projeto
segue à Câmara Federal para apreciação e votação.
Outro projeto de fundamental importância, para todos os Estados e
municípios, esse projeto, aprovado no plenário da Câmara dos Deputados, por 344
votos favoráveis e 13 contra, é o 288/13, do Senado, estabelecendo novas regras
para a distribuição dos recursos do FPE (Fundo de Participação dos Estados),
com vigência a partir de 2016. Como o texto foi aprovado com modificações, deve
voltar ao senado para a revisão e enviá-lo à sanção presidencial.
Lamentamos apenas que as providências tomadas foram apenas pelas ações
dos movimentos que levaram os políticos a se moverem, caso esses mesmos
movimentos não tivessem surgidos, a caixa preta do nosso congresso estaria
fechada a cadeado, os projetos colocados em pauta para votação estaria ainda no
esquecimento, certamente não haveria nenhum interesse político para viabilizá-los.
Outro fato lamentável é o governo aproveitar o momento, depois de
abortar uma ideia sua de nova constituinte, e impor um plebiscito (consulta de
projetos com perguntas elaboradas previamente e colocada para a opinião pública,
através de votação) em detrimento ao referendo (ratificação do povo de projetos
ou projeto elaborado pelo Congresso). Essa ideia lembra o bolivarianismo
chavista, tão em evidência no nosso continente, América do Sul, nos últimos
tempos e de profundo retrocesso no sistema político do regime democrático de
uma nação. É o petismo e aliados tentando acomodar seu sistema dentro de um
quadro de extrema tensão das massas, o executivo impondo vontades com a
subserviência do congresso, com um agravante, a renúncia dos presidentes das
duas casas, Senado e Câmara, estão na pauta de reivindicação do movimento do
povo, sem causar constrangimento aos seus ocupantes, José Renan Vasconcelos
Calheiros (PMDB/AL) e Henrique Eduardo Lyra Alves (PMDB/RN) respectivamente. Esse
mesmo movimento que agora é encorpado indevidamente, gesto disjuntivo, pois não
lhes cabe, UNE e centrais sindicatos, como se eles não fizessem parte de um
governo cujo sistema administrativo é visivelmente rejeitado pelo povo
*Escritor e Poeta
Congresso abre a caixa preta e começa viabilizar projetos ignorados
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/29/2013 06:18:00 AM
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