XÔ CORRUPÇÃO!

Ignácio Tavares

Ignácio Tavares*

Só existe corrupção porque há corruptores, não é? Isso mesmo, os historiadores registram que a corrupção entrou no Brasil logo após o descobrimento, quando chegaram os primeiros agentes da Coroa a fim de legitimar a posse das terras que Portugal julgava lhe pertencer. A colônia tinha que gerar riquezas para poder cobrir as despesas com a presença dos prepostos do reino e ainda gerar superávit a fim de ser enviado para o tesouro português.

O primeiro produto comercial da colônia foi o Pau Brasil que era vendido em larga escala par a Europa cuja finalidade era servir de matéria prima para extração de tinta para tingir os tecidos da época. Foi a partir daí que apareceram as primeiras manifestações de desvio de conduta, pra não dizer de corrupção, no incipiente território brasileiro. As coisas aconteciam de forma rudimentar, seja as primeiras guias de exportação registravam apenas cinquenta por cento do que realmente era exportado. O restante era rateado entre os funcionários graduados a serviço da Coroa.

Isso foi apenas o inicio. Mais adiante, quando o ouro abundou na província de Minas Gerais, ser corrupto era a regra e

ser honesto era a exceção. A coisa toma corpo quando foi a implantado o regime de produção escravocrata que impulsionou o tráfico de escravos da África subsaariana. Foi a partir daí que se oficializou o contrabando de seres humanos de forma desumana ignorada pelos prepostos da Coroa Portuguesa.

A corrupção prosperou por todo período colonial, bem como continuou no Brasil independente. Com o advento de república os notórios pensadores moralistas cobravam a adoção de um novo marco administrativo fundamentado na Ordem e no Progresso (os positivistas) amparado num ambiente constitucional de regras claras a envolver os bons costumes da honestidade, da moral e da ética.

Foi uma tentativa para criar condições para que o País se desenvolvesse livre da corrupção que se alastrava por todo País. Não há registro de que alguma coisa tenha mudado. O célebre discurso de Ruy Barbosa, no qual afirmou que sentia vergonha de ser honesto num Pais de desonestos soa como denuncia de que a corrupção naquela ocasião continuava viva, firme e forte, em pleno regime republicano.

O velho e irrequieto tribuno estava certo. Nas primeiras décadas do século passado, ascenderam ao poder nacionais grupos oligárquicos que se revezavam a cada cinco anos. Esse conluio possibilitou a degeneração cada vez mais dos bons costumes políticos/administrativos. Este período caracterizou a chamada República Velha cujo ciclo terminou com Revolução de Trinta que catapultou o sargentão Getulio Vargas a presidência da republica.

A corrupção tomou corpo nos anos subsequentes chegando aos dias de  hoje. Pra ser mais claro pode-se dizer que a corrupção brasileira teve inicio com o pau Brasil e culminou com o escândalo do mensalão. Desse modo, são mais de quinhentos anos de corrupção ao longo de toda nossa história. Com efeito, não é fácil erradicar do dia pra noite essa terrível excrescência ética e moral que existe há mais de quinhentos anos. Noutras palavras o Brasil nasceu e  ainda vive sob o signo da corrupção.

O pior é que as coisas se agravam na medida em que o tempo passa. Nunca foi tão fácil apropriar-se do dinheiro público bem como livrar-se dos processos quando os corruptos são pegos com a mão na boca da botija. Neste domingo que passou, dia 23 de junho, um jornal do estado alardeou sobre o levantamento feito no Estado da Paraíba por auditores do TCU, a envolver o período 2002 a 2013, cujo resultado foi a descoberta de 494 milhões de reais que devem ser devolvidos aos cofres públicos por suspeita de terem sido desviados de suas verdadeiras finalidades.

O que nos deixa perplexos é que esses recursos são originários do Ministério de Integração Nacional, do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação Básica, (Fundeb), da Funasa, entre outros órgãos da administração federal. Pasmem meus senhores esses recursos  deviam se destinar ao atendimento dos reclamos dos municípios mais pobres do estado.

Isso é uma pequena amostra do que se passa em todo País. Há outras formas de corrupção impostas pelos habituais corruptores. Quero dizer que a corrupção não circunscreve apenas o desvio de dinheiro público. A praga de compra de votos em época eleitorais talvez seja a pior forma de corrupção porque envolve milhares de pessoas que ingenuamente vendem os votos como se fosse uma mercadoria qualquer sem ao menos tocarem-se de que este dinheiro que está a receber será ressarcido dos minguados recursos do tesouro do ente administrativo o qual se digladiam os grupos políticos em contenda.

Há corrupções e corruptos que se multiplicam com o passar do tempo. Como exterminar essa praga se no momento não existem remédios eficazes? Somente agora que o povo invadiu as ruas é que se fala em tomar medidas duras para combater os desvios de conduta na administração pública. Será que estas medidas que estão por vir serão capaz de extirpar esse tumor maligno enraizado em todo organismo da administração pública nacional? Tenho lá  minhas dúvidas.

Quero encerrar este texto com a reprodução de um cartaz bastante original para o momento que vivemos que diz o seguinte: “SORRIA PORQUE VOCE ESTÁ SENDO ROUBADO”. Xô Corrupção!

João Pessoa 27 de Junho de 2013

*Economista e escritor.