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Gritos de desencantos

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

No segmento da medicina geriátrica a terceira idade tem seu inicio aos 75 anos, enquanto, uma pessoa é considerada da terceira idade aos 60 anos, dependendo da sociedade e cultura do seu meio. Para atingir essa fase o ser humano passa por várias etapas, elas vão se transformando na proporção que vamos saindo da infância, adolescência, juventude, e a fase adulta, essa sendo uma longa fase, indo dos 20 até os 60 anos. Desembocando na velhice, ou terceira idade.

Todas essas etapas têm suas peculiaridades, a infância é o período quando o ser humano passar a conhecer o meio em que vive, descobrindo tudo que lhe diz respeito; a adolescência é a fase do autoconhecimento e a transformação do corpo. A fase adulta é a da estabilidade, realizações, construções, como família, carreira e prestígio. Finalmente chega-se a velhice, essa seria a fase do aproveitamento, compensação por ter atingido tantos anos e acumular tanta experiência, ledo engano, é o começo da fase mais difícil para muitos seres humanos, malfadada nesse termino de vida, por tantos motivos!

Quando somos jovens não temos muita preocupação com o futuro, somos fortes, sadios, o mundo nos favorece, ficamos preocupados com as realizações sem medir as conseqüências da falta do cuidado com a estabilidade futura e o bem estar.

Quando conseguimos construir patrimônio, e economizar e fazer reservas, em termos de poupança, formar família, estabilizar essa família, com certeza a vida continua a nos sorrir. Infelizmente esse não é o destino da grande maioria dos nossos velhos. Principalmente os menos favorecidos financeiramente, os que não tiveram oportunidades, ou mesmo não criaram essas oportunidades, por razões outras, a velhice passa a ser um verdadeiro castigo.

Muitos são largados em quartos de fundos de pouco quintal, tratamento dado pelo tamanho da sua aposentaria, sem carinho e sem afeto, ausente de calor humano, tão necessário nessa fase crucial. com um pouco de sorte é internado num asilo administrado por profissionais dotados de sentimento humanitário. Para aqueles que carregam as doenças crônicas inerentes à sua idade, muito embora os medicamentos prescritas por médicos, são fornecidas pelo sistema de saúde, entretanto, quando na necessidade de um exame complementar, para diagnóstico de problema mais complexo, a situação torna-se vexatória, os prazos passam a ser de uma desumanidade sem parâmetros, casos de “ressonância magnética”, como exemplo, dependendo da cidade onde o paciente esteja, ultrapassa 540 dias, na fila de espera. Para quem está convalescente isso representa, muitas vezes a própria morte, ou acentuação da gravidade da doença no paciente.

Tratando de aposentadoria a situação é mais grave, com a implantação do fator previdenciário, uma formula inventada e implantada no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, uma verdadeira injustiça para a classe dos aposentados ou pensionistas, do nosso país. O pior é que não existe quem lute contra essa aberração do sistema, apenas um único defensor, dentro do congresso nacional, continua a tentar eliminar essa nódoa, de um ex-governante, sociólogo que se intitulava defensor dos pobres e oprimidos. O. Senador Paulo Renato Paim (PT) RS, esse sim, carrega uma bandeira, hoje representada como uma marca da sua atuação no senado, sem muito sucesso, infelizmente seus pares, tanto da situação, partidos da base aliada, ou oposição, se omitem da co-responsabilidade nessa luta tão necessária para eliminar um pouco a falta de recursos, de uma gente sofrida.

No geral, o poder executivo através do INSS, órgão que administra os recursos assistências, nada faz para minimizar essa dor e esse sofrimento, que atinge essa classe, enquanto fecha os olhos para os escândalos e sangrias de valores nunca repostos. O legislativo faz de conta que o assunto não é de sua competência, e assim os idosos continuam a viver na marginalidade do submundo, dos desprovidos de recursos materiais, vivendo na segregação humana, sem ter nem mesmo um órgão que possa ouvir seus murmúrios, lamentos e gritos de desencantos, na espera de uma morte que venha, ou seja, provocada pelo próprio sistema, ou ausência dele, o mais rápido, para eliminar esse sofrimento.

Esse é o Brasil que existe, mas, poucos têm coragem de falar a respeito, preferem conviver com ele, atuando como coadjuvantes, sem esboçar reação, ou levantar bandeiras, nem mesmo ajudar a gritar, no sentido de sensibilizar os ouvidos competentes, para que retire desse pesadelo toda essa gente que um dia foi criança, adolescente, adulto produtivo (quando, hoje esquecida, vivendo com ajuda da caridade humana, pois, o pouco que recebe não lhe assegura viver com a dignidade merecida.

*Escritor pombalense e empresário em Navegantes - Santa Catarina
Gritos de desencantos Gritos de desencantos Reviewed by Clemildo Brunet on 4/19/2012 08:09:00 AM Rating: 5

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