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Chaminés da História

Genival Torres Dantas*
Meu caro Carneiro Arnaud,

Suas palavras foram motivo de emoção e até sentimento de culpa. Emoção pelo pedido do amigo, sentimento de culpa por não ter feito, até hoje, algo de substancial pela cultura da minha terra. Confesso que fui remetido ao passado, lembrei-me da minha infância, das caminhadas em direção as escolas que freqüentei, desde o Jardim da Infância, Escolinha da Dona Anita e Dorna Hermelinda, Grupo Escolar João da Mata, Colégio Diocesano e o Colégio Estadual.

Todas elas locadas em prédios históricos para nossa cidade, agrega-se a esses prédios, estabelecimentos de ensino, outros tantos que fazem parte da arquitetura urbana da cidade, verdadeira ternura sertaneja, tão ilustre e saudosa Pombal.

Lembro-me da estação ferroviária, com seus embarques de passageiros e cargas, ainda com locomotivas a vapor, alimentadas com lenha, puxando vagões que levavam e traziam esperanças e sonhos nas pessoas que buscavam em outras terras um novo alento.

O Castelo que representava, para as crianças da cidade, mistérios e fantasias, na sequência o açougue público com o comercio das carnes verdes, como era falado na linguagem popular, o grande hotel na espero dos seus hóspedes, o conjunto de lojas, formadas na grande maioria pelo comercio de tecidos, contemplado pela lateral sul do mercado municipal.

O nosso bar centenário, quantas emoções sentidas, durante o inicio da minha juventude, sentado nas cadeiras vendo o circular das adolescentes em busca de um olhar correspondente.

A praça Getúlio Vargas, com seu busto num pedestal imponente a olhar o final da rua onde ficava o inesquecível Cine Lux, com sua tela panorâmica e o som estereofônico. A catedral ostentava suas torres apontadas para o céu azul com suas nuvens passageiras em tardes escaldantes.

Do outro lado da cidade ficava a Brasil Oiticica, uma fabrica com produção sazonal, em função da matéria prima, o fruto da oiticica, que era colhida numa determinada época do ano. A cidade observava o período de produção pelos trabalhadoress que eram contratados e, principalmente, pela sua chaminé a lançar ao céu a fumaça resultante de uma época farta para os que de lá tiravam seus sustentos.

Hoje sou informado da intenção da demolição de mais um patrimônio histórico da nossa terra natal. É profundamente lamentável que uma administração pública e toda sua comunidade permita tal atrocidade ao que há de mais sagrado para um povo que é sua cultura, imortalizada pela sua história nos seus usos, costumes e monumentos.

Mais uma referência, da nossa gente, querem amputar do nosso corpo e da nossa mente. É chegada a hora de mostrar nosso verdadeiro valor e não permitir que se cometa mais um crime histórico em nossa cidade.

Apenas para lembrar que a chaminé da Brasil Oiticica não é apenas os restos de uma unidade fabril demolida pelo fracasso do seu mercado, abrindo espaço para novas habitações, numa cidade de 889 km², e apenas 32.000 habitantes (em números redondos).

Em Campo Bom/RS, está localizada uma chaminé, de uma antiga cerâmica, tombada na década de 90 do século passado, com apenas 29 metros de altura, mas dignifica toda uma população de 60 mil habitantes em apenas 60 km² de área.

Lá em volta Redonda/RJ está conservada parte de uma usina, construída em 1903, sua chaminé, de apenas 40 metros, foi tombada em 1985, pelo patrimônio histórico, em homenagem as primeiras fábricas do município.

Na capital do Amazonas, Manaus, há o Teatro Chaminé, construído em 1910, como área de tratamento de esgoto e depois tombado e transformado em teatro, belo exemplo cultural para uma cidade.

A Usina do Gasômetro em Porto Alegre/RS construída em 1928, movida a carvão, usina de gás de hidrogênio carbonado, fornecia gás para iluminação pública e abastecimento de fogões. Sua chaminé de 117 metros de altura e o conjunto arquitetônico foram tombadas em 1970 e conservados, depois de recuperação da deteorização causada pela exposição e o tempo. Hoje se constitui verdadeiro monumento, além de ser uma área turística preserva a orla do rio Guairá que banha aquela Capital.
 Com 360 metros de altura a chaminé Trbovlje, foi construída em 1972 na Eslovênia, cidade de mesmo nome.
No município de Copper Cliff, Canadá, está localizada a chaminé Inco Superstack , com 385 metros de altura, é a 10° mais alta do mundo e um verdadeiro monumento turístico.
Em Ekibastus, Cazaquistão há duas usinas geradores de energia elétrica, geradas a carvão, com capacidade de 5000MW, sua chaminé é de 419.7 metros, se constituindo na mais alta do mundo gerando divisas para seu pais como monumento histórico.
Esses são alguns exemplos que temos que seguir, dando um espaço cultural a nossa modesta, porém histórica chaminé, para nossa terra.
Quem sabe um monumento com os nomes dos nossos imortais filhos, que tanto deram para fazer de Pombal uma cidade inesquecível. Talvez um anfiteatro lateral, ou mesmo um teatro para uso dos nossos meios culturais.

Até mesmo a associação comercial e industrial possa desenvolver um projeto para sua sede e dependências. O poder judiciário com seu fórum possa ocupar o espaço antes reservado para a indústria seja objeto de decisões no nosso município.

Tantas sugestões podem ser dadas, é uma questão de observação e direcionamento, só não podemos permitir que parte da história seja derrubada por um simples desejo comercial.

Mantenhamos, portanto, meu caro amigo, a chaminé da história de Pombal sempre acesa no coração, olhos e mentes da nossa gente.

*Escritor Pombalense e empresário em Navegantes SC.
Chaminés da História Chaminés da História Reviewed by Clemildo Brunet on 5/08/2012 06:26:00 AM Rating: 5

2 comentários

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Magnífico o apelo. Alguém vai ouvir? Acho que de Pombal, não. Não tenho mais nenhuma vontade de voltar a terrinha. Esse pó que sobe das demolições, em contato com o meu rosto endurece como cimento armado. Estou preferindo manter em mim a cidade que há dentro de mim. A Pombal que me recebi com seus casarios e com a velha chaminé da Brasil Oiticica.
Ainda me atrevo a suplicar:: Salvem esta chaminé, se não por nós mas pelos que viram depois.
Jerdivan Nobrega

Anônimo disse...

Bom dia

Espero que as autoridades e políticos atendam ao apelo.
Um país se faz de sua historia, com o passado apreendemos a fazer o presente e melhorar nosso futuro.
Alem de ser um patrimônio da cidade, poderia sim até ser um cartão postal, divulgando a cidade e atraindo turistas com sua historia, como acontece em outras cidades e até outros países.
Bela iniciativa, parabéns
Não deixem a historia do Brasil morrer

Um ótimo dia a todos

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