VERSOS PARA NENZINHA
Onaldo Queiroga |
Onaldo Queiroga*
Era infinito o amor que o poeta
Ronaldo Cunha Lima tinha por sua mãe. Relatam amigos que ele conversava todos
os dias com dona Nenzinha, pessoalmente ou por telefone. Onde estivesse, sempre
encontrava tempo para pedir a benção, externar em versos o seu amor, ao tempo
em que lhe pedia conselhos.
O
amigo José Afonso Gayoso Filho contou-me que numa certa ocasião, no mês de
julho de 1988, o poeta Ronaldo estava na cidade de Piancó, acompanhado do
saudoso Babá Gayoso. Faziam visitas políticas, quando, ao cair da tarde, saíram
em direção a Campina Grande. Ao passarem pela cidade de Santa Terezinha,
resolveram fazer uma parada no bar “Rubacão do Heriberto”. Tomaram umas
cervejas e, de repente, Ronaldo lembrou-se de que, naquele dia, não havia
falado com sua mãe, então, deixou Babá no citado bar e foi até
ao Posto da antiga TELPA. Lá solicitou uma ligação para o nº 321-4666. Após algumas tentativas, o atendente informou que ninguém atendia a ligação. Foi, então, que o poeta lembrou de que sua mãe havia falecido dias antes (13 de junho de 1988). As lágrimas correram rosto abaixo. O poeta agradeceu ao atendente e retornou ao bar.
ao Posto da antiga TELPA. Lá solicitou uma ligação para o nº 321-4666. Após algumas tentativas, o atendente informou que ninguém atendia a ligação. Foi, então, que o poeta lembrou de que sua mãe havia falecido dias antes (13 de junho de 1988). As lágrimas correram rosto abaixo. O poeta agradeceu ao atendente e retornou ao bar.
Lá
chegando, Babá percebeu que os olhos do poeta marejavam. Então, indagou: -
"o que aconteceu, poeta?" No mesmo instante, Ronaldo replicou: -
"esqueci, amigo, de que minha mãe já havia rompido os umbrais da
eternidade, por isso, o seu telefone chamou e ninguém atendeu. Consiga-me um
papel, uma folha do caderno de anotações do fiado desse bar, pois d'alma emerge
o nascimento de uma poesia que preciso registrar através da escrita".
Babá,
diligentemente, extraiu algumas folhas do caderno do fiado do bar e as levou ao
poeta, que pediu silêncio e começou a escrever os seguintes versos: “Peguei o
telefone / E de repente / Liguei para o 3214666 / Como sempre fazia na hora da
ceia / E quase toda noite comumente / Eu pretendia de você / Somente uma
palavra de ternura cheia / Aquela benção protetora creia / Que só a mãe derrama
sobre a gente / Mas não ouvi a benção que queria / E nunca mais pude ouvir /
Pois desde o dia / Daquele dia em que você se foi / Espero sempre nas minhas
noites insones / Ouvir você dizer por telefone:/ A benção, meu filho; Deus te
abençoe / Que tua casa continue como antes / Seus retratos, seus móveis,
seu missal / As coisas para você mais importantes / Os santos, o altar e o
castiçal / Mas ali uma tristeza tal / De lembranças tão profundas e cortantes /
Que se nota tristeza nas estantes / E se sente tristeza no quintal / Vê-se
tristeza no gemer da porta / A própria casa é uma paisagem morta / Onde apenas
saudades a gente vê / Sua casa fechada é muito triste / Porque ali, mamãe,
somente existe saudade de você”.
Hoje, nos jardins da eternidade, o
poeta, certamente em versos, abraça dona Nenzinha e seu Demóstenes.
*Escritor pombalense e Juiz da 5ª Vara Cível na capital João Pessoa - PB.
VERSOS PARA NENZINHA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/08/2012 10:24:00 AM
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