Lourenço Menandro da Cruz: O "Padroeiro"
J. Romero Cardoso |
José
Romero Araújo Cardoso*
Extremamente afável, educado e sem gestos de
alarde, Lourenço Cruz era um verdadeiro diplomata, pois conhecia como ninguém
pormenores das relações públicas imbuídos em profundo respeito pelos
semelhantes, independente de classe social, credo ou raça.
Posso afirmar que entre os meus tios-avós,
irmãos de Francisca Martinha da Cruz Cardoso, foi com Lourenço com quem tive
maior convivência, tendo em vista que conheci Romeu Menandro da Cruz, residente
em São José de Piranhas (PB), em seu leito de morte, pois veio a falecer em
junho de 1976. Guardei na memória as bravuras de Romeu, contadas por Corinta
Cruz Cardoso. Muito tempo depois, no ano de 1988, Pedro Lins imortalizou as
façanhas do valente pombalense ao lançar opúsculo intitulado “Vida e
ações de
Romeu Menandro da Cruz”.
José Menandro da Cruz, outro irmão de
Lourenço, não conheci pessoalmente, apenas através de fotografias. Raramente
visitava os parentes em Pombal. Fixou-se em Jardim de Piranhas (RN), depois que
os jagunços do “Coronel” José Pereira Lima destruíram sua farmácia em Brejo do
Cruz (PB), quando dos formidáveis raids encetados pela milícia particular do
chefe princesense quando da guerra civil que encharcou o solo paraibano.
Quando das freqüentes visitas a Governador
Dix-sept Rosado sempre fui alvo da atenção do velho “padroeiro”. Conversava
bastante com ele na sala de sua moradia rural no sítio Santana, pois na zona urbana
era difícil ele ter tempo para parar e palestrar sobre as coisas interessantes
que vivenciou desde que aportou no Estado do Rio Grande do Norte no ano de
1925, vindo de Pombal (PB) a convite do seu tio Jerônimo Rosado.
Tio Lourenço me contava que chegando a
Mossoró foi residir no sítio Canto. Conforme Vingt-un Rosado, com quem
trabalhei e convivi durante oito anos a fio na inesquecível residência das
dezessete tamarineiras, Lourenço despertou de imediato a afeição dele e dos
irmãos em razão da forma calma e serena que sempre foi marca registrada do seu
comportamento. Vingt-un me contava que Lourenço consertava com a maior
paciência os brinquedos que ele e o irmão Vingt desgastavam com freqüência
devido à intensidade das brincadeiras lúicas dos dois filhos numerados em
francês do farmacêutico Jerônimo Rosado e de sua segunda esposa Isaura Rosado
Maia.
Lourenço contava com saudosismo sobre o
trabalho árduo a serviço da empresa do ramo ferroviário dirigida por Vicente
Sabóia Filho, o conhecido e popular “Saboinha”. Em treze de junho de 1927,
quando do ataque de Lampião à capital do oeste potiguar,foi um dos defensores
de Mossoró, entrincheirado na Estação do Trem.
Homem da extrema confiança dos Rosados, dos
quais fazia parte devido aos laços genealógicos com o português Jerônimo
Ribeiro Rosado, de quem era neto, Lourenço Cruz passou a freqüentar com ênfase
a vila de São Sebastião. Tornou-se figura proeminente da estrutura
administrativa da pedreira de gesso localizada na Espadilha, da qual era
tarefeiro.
Em São Sebastião conheceu a jovem Ismênia
Costa, filha do Sr. João Jacinto. Casaram-se e tiveram os segukntes filhos:
Hugo (In memorian), Hubenê, Hudson (In memorian), Hugnelson, Francisco e Hélio.
Hugnete, Hugnelma, Hugneide e Martinete.
O vínculo afetivo-familiar de Lourenço Cruz
era mais intenso com Dix-sept Rosado, de quem se tornou braço direito. Impressionava
o relato que o saudoso paraibano fazia sobre a confiança que o número 17 de seu
Rosado depositava nele, pois em todas as expansões da extração de gesso feitas
pelo grupo empresarial, Lourenço sempre esteve a frente dos empreendimentos,
coordenando tarefas em Trindade (PE), Paulistano (PI) e região do Crato (CE).
Meu tio Lourenço tornou-se referência no que
tange ao respeito desfrutado junto ao povo da antiga São Sebastião, tendo em
vista que devido á forma extremamente racional que sempre caracterizou suas
ações, era procurado por muito a fim de resolver problemas, dar conselhos e
solucionar impasses.
Em razão do prestígio desfrutado na terra que
o adotou, foi eleito prefeito do município de Governador Dix-sept Rosado, em
chapa composta com o grande amigo José Ferreira de Macedo.
Lourenço nunca esqueceu um minuto sequer do
primo e amigo Dix-sept Rosado. Os olhos dele ficavam marejados de lágrimas
quando recordava momentos vividos ao lado do empresário e político mossoroense
com raízes no Estado da Paraíba.
Certa vez indaguei-lhe sobre quais tinham
sido a maior alegria e a maior tristeza
da vida dele. Não titubeou em responder que subir os degraus do palácio Potengi
ladeando Dix-sept tinha sido a maior alegria, enquanto que a maior tristeza
fora receber a documentação referente à burocracia da liberação do corpo do
primo governador quando da chegada dos restos mortais das vítimas potiguares do
acidente aviatório do rio do sal ocorrido na capital sergipana em 12 de julho
de 1951.
Lourenço Cruz faleceu na segunda metade da
década de noventa do século passado, sendo enterrado no cemitério de Governador
Dix-sept Rosado, onde descansa eternamente lembrado como justo e honesto em
razão da forma correta como sempre se portou em vida.
*José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo. Professor-adjunto da UERN.
Lourenço Menandro da Cruz: O "Padroeiro"
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/06/2012 07:03:00 AM
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