NATAL: O menino que veio para mudar o mundo!
Ignácio Tavares |
Ignácio
Tavares*
“O povo andava nas trevas
viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam a região tenebrosa resplandeceu
uma luz” (Is 9,10)
"
"Eis que chega a retribuição de Deus: Ele
mesmo vem salvar-vos. Então se abrirão os olhos dos cegos. Desimpedirão os
ouvidos dos surdos, então o coxo saltará como um cervo e a língua do mudo dará
gritos alegres” (Is 35, 5-6)
“Eis meu servo que eu amparo
meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre Ele o meu
espírito para que leve as nações a verdadeira religião” (Is 42, 1 a 3)
“Por isso o próprio Senhor vos dará um sinal
uma virgem conceberá e
dará a luz a um filho e o chamará “Deus Conosco”(Is
7,14)
Es tu Belém de Éfrata, tão pequena entre os
clãs de Judá é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar
Israel”(Mq 5,1)
Enfim,
Simeão, homem piedoso, guiado pelo Espírito Santo, pôs o Menino nos braços
elevou-o em louvou a Deus, depois agradeceu nestes termos: “agora Senhor deixai
o vosso servo ir em paz, segundo a Vossa Palavra. Porque os meus olhos viram
Vossa salvação que preparastes diante de todos os povos, como luz para iluminar
as nações e para gloria do Vosso povo de Israel”.(Lc 29, 30-32)
Estes foram os prenúncios
seguidos do nascimento do menino que veio a terra com a finalidade de mudar os
destinos da humanidade. Trato feito, promessa cumprida. Vejamos:
O mundo antigo há muito
estava a esperar a chegada do Messias que mudaria a vida no planeta Terra,
justo no prazo determinado, segundo as predições dos Profetas. Isso mesmo, os
profetas, Elias, Daniel, Jeremias, Isaias e tantos outros há muito estavam a
prever a chegada de um menino que, quando homem exerceria em toda terra a Sua
missão evangelizadora a fim de instalar o Reino do seu Pai aqui no nosso
conturbado meio.
Era um Ser iluminado, por
isso diferente dos demais humanos, porque a sua missão, em meio a instabilidade
política na terra onde nasceu, em razão da dominação romana, era divulgar,
preparar as bases para a construção de um novo mundo possível, fundamentado na
paz, na igualdade, bem como na harmonia entre os homens, respaldada na tríade
Amor, Fé e Esperança.
Assim aconteceu. A sua
presença aqui na terra impactou o mundo, principalmente a civilização
ocidental. É tanto que a história da humanidade passou a ser observada em dois
momentos: antes e depois Dele. Apesar de ser filho de Deus era dotado de duas
naturezas: divina e humana. Enquanto homem comum submeteu-se aos rigores das
leis terrenas, no mesmo pé de igualdade dos
demais habitantes da terra.
A sua visão política e
social do mundo não era diferente dos demais humanos. Era sábio, por isso, como
ninguém, entendia as maledicências dos poderosos da terra, principalmente no
lugar onde nasceu e viveu. Não obstante consciente da missão a ser cumprida, em
nenhum momento desviou-se do projeto de construir uma nova aliança com o
objetivo de transformar o homem, no seu modo de ser, pensar e agir.
Assim sendo, no exercício do
Seu Ministério, alem de pregar, ensinar a mensagem do Pai, fez incursões no
campo do ativismo político. Numa linguagem carregada de metáfora, falava de um
mundo onde todos fossem capazes de viver em regime de confraternização
universal. Falava sobre um mundo novo, de muita paz e harmonia, onde as
crianças pudessem conviver e brincar pacificamente com animais peçonhentos, da
mesma forma as ovelhas pudessem conviver com os lobos sem correr risco de vida.
Foi mestre, pois, transmitia
conhecimentos, até então desconhecidos por todos que o seguiam. Queria ver o
homem liberto dos grilhões da dominação do fanatismo da Lei Judaica. Não foi
nada fácil porque os seguidores da Lei eram rigorosos nas suas praticas
religiosas. Viviam em obediência a centenas de mandamentos, quando o Mestre
anunciava a existência de apenas um, qual seja: “Amas o Senhor teu Deus de todo
teu coração e ao próximo como a tí mesmo”.
Quis ver o homem de fronte
erguida, liberto da inveja, do ódio, da ira. Defendeu a divisão dos pães com os
que nada tinham para mitigar a fome. Falou sobre um mundo de paz onde não
houvesse espadas para subjulgar, dominar nações, bem como escravizar os fracos
e oprimidos. Enfim, falou do amor no sentido mais puro da sua essência. Com
certeza, era Santo, político e libertador.
Tinha seus momentos de
rejeição àquele que, política e militarmente, dominava a sua terra natal. Detestava o Petrarca Herodes, que vez por
outra o chamava de raposa esperta, perversa, principalmente quando Lhe disseram
que o dito cujo estava a fim de prendê-Lo. Neste momento quem falava era Jesus,
o homem com a mesma sensibilidade política que todos nós temos.
Por que Jesus detestava os usurpadores do
poder, da liberdade do povo judeu? Com certeza por razões estritamente
humanitária e política. O Poder romano além de cobrar pesados impostos, exercia
severa dominação sobre os menos favorecidos de toda Judeia. Infeliz daquele que contestasse o domínio
romano, pois era reprimido com a força bruta da repressão. Este foi o ambiente
que Jesus viveu antes e depois do inicio do seu apostolado.
Ademais, por uma questão de
conveniência política Herodes dividia o poder com os anciões, os doutores da
lei, os escribas, bem como os sumos sacerdotes, para poder exercitar a
dominação com mais segurança. Pois, cabia a elite da Lei realizar o controle
político/emocional, espiritual, do povo de Israel para evitar qualquer
manifestação de rebeldia.
O Mestre pagou caro por se opor a esse conluio de
dominadores. Era esse o Seu destino aqui
na terra, conforme as prefigurações dos profetas. Segundo a Bíblia, com certa
frequência Ele falava para os discípulos: “o Filho do Homem será condenado, bem
como martirizado e morto pelos poderosos, mas, ressuscitará no terceiro dia”.
Conforme os mais renomados
historiadores bíblicos, o Jesus político estava sempre a atanazar a vida de
Herodes, bem como dos sumos-sacerdotes, principalmente Caifás e Anás. Nas suas
pregações denunciava as injustiças praticadas pelos fariseus contra viúvas,
pobres, entre outros menos favorecidos. Denunciava ainda outras formas de
explorações em razão do afluxo de peregrinos por ocasião da páscoa judaica..
Nos dias da semana da
páscoa, centenas de milhares de devotos viajavam para Jerusalém, em busca do
Templo, onde faziam suas orações, oferendas como demonstração de fidelidade a
Javé. Anás e Caifás, em parceria com Herodes, aproveitavam este grande momento
para reforçarem seus respectivos patrimônios através de intermediários que
operavam na troca de moedas, bem como na venda de aves, animais, no adro do
templo.
Ademais cobrava dos
peregrinos um preço extorsivo pelo uso de uma rede de piscinas situadas na
periferia de Jerusalém, ditas públicos. Pela lei judaica, para ter acesso ao
templo, o peregrino teria que tomar banho para poder purificar o corpo, a alma,
bem como o espírito. Era um esquema de exploração que rendia milhares, em moeda
da época, para Herodes, assim como para seus asseclas travestidos de doutores
da lei.
Jesus opunha-se exigência do
banho para poder adentrar ao Templo. Nas suas pregações ensinava que a impureza
do homem estava na alma, no espírito e não no corpo. Assim sendo, não havia
necessidade de recorrer aos banheiros oficiais para se purificar. N’outras
palavras, o penitente podia usar qualquer fonte para se banhar ou até mesmo não
se banhar, porque mesmo assim podia adentrar ao templo sem nenhuma restrição de
ordem religiosa.
Diante desses
esclarecimentos a renda proveniente da venda de aves, entre outros animais, bem
como dos banhos purificadores diminuíram consideravelmente. A diminuição da
renda irritou o Herodes e comparsas. Assim sendo, em confabulações secretas a
trupe dominante decidiu que era necessário tirar o Mestre do caminho para que
os negócios voltassem a normalidade.
Para por em prática o projeto, Herodes, Caifás
e Anás precisavam de um fato que fosse considerado uma injuria aos princípios
da Lei judaica, já que não havia nenhuma ofensa, por parte de Jesus, a
dominação romana. Num primeiro momento este fato aconteceu quando o Mestre
expulsou os vendilhões do adro do Templo. Noutro momento, no ato do julgamento
de Jesus, quando interrogado, falou que o seu Reino não era da terra. Essa
afirmativa foi considerada um ato de blasfêmia que selou definitivamente a sua
condenação a morte. O resultado toda humanidade conhece: paixão e morte seguida
de ressurreição.
Cumprida a sua missão o
Filho do homem retorna a casa do Pai. Deixou-nos um legado político/espiritual
que nos permite trilhar por caminhos através dos quais, mais cedo ou mais
tarde, poderemos construir uma sociedade justa e humana. O Seu Reino como
projeto já está aqui entre nós, mas, o que nos falta é construí-lo.
São passados mais de dois
mil anos desse triste e doloroso acontecimento. Ainda hoje vez por outra alguém
está a perguntar: se Jesus, o justo, o
salvador, o libertador da humanidade, segundo a Bíblia, estivesse aqui entre
nós, qual seria a sua reação diante dos acontecimentos mais recentes que enojam
o meio político/administrativo brasileiro? Com certeza não seria diferente do
que fez no adro do templo quando
expulsou os aproveitadores, especuladores, agiotas, que infestavam o ambiente.
Que ambiente temos hoje? Não
há muita diferença, pois vivemos num mundo de mentiras, corrupção, drogas,
crimes hediondos, ademais dominado por políticos inescrupulosos que, com frieza
e crueldade se apropriam do dinheiro do povo para fortalecer cada vez mais seus
respectivos patrimônios. Seguramente Ele
expulsaria todos, sem exceção, da vida pública, assim como fez no templo em
Jerusalém, com os especuladores, agiotas, a serviço dos poderosos
Não é assim que vamos
construir um novo mundo à luz do que nos ensinou o jovem Galileu. Queremos um
mundo solidário, sem injustiças, sem fome, sem guerras, sem roubalheira, sem
destruição da natureza onde todos possam viver na plenitude da paz, do
amor e da dignidade.
Feliz natal, bem como Feliz
ano novo, para todos os sertanejos que acreditam na possibilidade de que um dia
construiremos este mundo, que nos parece ser utópico, mas aos olhos de Jesus é
mais do que real. Que assim seja hoje,
amanhã e sempre.
Pombal, 18 dezembro de 2012
*Economista
e escritor pombalense.
NATAL: O menino que veio para mudar o mundo!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/19/2012 06:18:00 AM
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