Velhos Temas Novos Rumos
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
A
Quaresma, conforme a tradição cristã é o período comemorado por várias igrejas,
dentre elas a Católica, a Ortodoxa, a Luterana e a Anglicana. Iniciado na
quarta-feira de cinzas, data flexível e após a terça-feira de carnaval, indo até
o Domingo de Páscoa, fechando as festividades, com o Pentecostes, 50 dias após,
ou seja, no décimo dia depois da Ascensão de Jesus.
A
semana Santa propriamente dita, de tantas lembranças para nós que nascemos
dentro dos conceitos e
preceitos da igreja católica, por influência dos nossos
pais, estudamos em colégio diocesano. Não tenha dúvida, essa é a semana que nos
remete a um passado não tão distante, mas impregnado de saudades de uma época
onde a conduta, o comportamento, a ética e a moral era condição Sine
qua non
para avaliação do ser humano dentro da sociedade em que ele participava, desde o
lar, a escola, o trabalho e toda sua extensão social.
Como
as festividades se concentravam principalmente no período entre o Domingo de
Ramos, lembrando a entrada de Jesus em Jerusalém com o desfecho no Domingo de
Páscoa que é a comemoração pela ressurreição de Jesus. Nesse espaço, entre um
domingo e outro, era ou é lembrado, pelas convicções, a segunda-feira, em
alguns locais, como o dia das trevas; a terça-feira representava ou representa
as Sete dores de Nossa Senhora Virgem Maria, o encontro de Jesus com Maria, no
caminho do Calvário, ou dia da penitência; quarta-feira é a procissão que
relembrava ou relembra, o encontro de Nosso Senhor dos Passos e Nossa Senhora
das Dores, e a partir desse dia já entrávamos no jejum, nos alimentávamos, nas
principais refeições, apenas de peixes, era terminantemente proibido o uso da
carne de gado, suíno ou mesmo o frango, a galinha como era mais tradicional à
nossa época, o sacrifício ira até à sexta-feira, passando antes pela
quinta-feira com o tradicional lava-pés, sempre lembrando, foi nesse dia que
Jesus é traído por Judas Iscariotes, por trinta moedas de prata, e Jesus é
preso; finalmente, sexta-feira é a morte de Jesus.
Lembro-me
perfeitamente do respeito que se tinha nesse período, nos idos dos anos 50/60
do século passado, principalmente entre a quarta-feira e a sexta-feira, os mais
antigos, à época, se privavam de banhos, muitas vezes não trocavam nem mesmo de
roupas, não penteavam os cabelos, os homens não faziam a barba, não se ligavam
o rádio, o equipamento eletrônico de comunicação direta com outros locais, que
fazia parte do lar, e muitas vezes não accessível a todos eles, pelo seu custo
material; correspondia a nossa televisão dos dias de hoje, mas sem as
facilidades de compras existentes; o Sábado de Aleluia era ou é o dia da espera
da ressurreição; finalmente o Domingo de Páscoa, o dia mais importante para o
mundo cristão quando Jesus, segundo as narrativas, vence a morte demonstrando o
valor da vida, na seqüência vem o Domingo de Pentecostes que é a comemoração da
descida do Espírito Santo.
Independente
de cunho religioso existia o respeito às tradições, comemorava-se a história de
um homem que nascido na cidade Belém, mas de família tradicional de Nazaré, e
dessa forma ficou conhecido como Jesus de Nazaré, depois Jesus Cristo, o
abençoado, o ungido. O homem que vindo do povo teve o poder, apenas com a
palavra sábia, de levar multidões para ouvi-lo e segui-lo, um dos homens mais
éticos que se tem notícia, o filósofo que, mesmo depois de dois milênios,
continuamos a admirar a sua integridade, sua moral, seus princípios, e tantos
valores que ele deixou para a eternidade e que foram se dissipando ao longo dos
séculos. Jesus se sentia pequeno, se agigantando com suas atitudes, ao
contrário dos homens pequenos que para crescer procuram pisar e humilhar os
outros semelhantes. 2400 anos (a.c) o filósofo grego, Platão, falava da ética
com seus fundamentos que eram interpretados muito mais pelas elites,
governantes e comerciantes. Jesus foi direito ao coração dos mais humildes com
suas pregações numa linguagem mais accessível.
Hoje
vivemos numa outra realidade, quando os valores materiais são mais buscados que
os espirituais e humanos. Procuramos capitalizar dinheiro, discórdia e
ingratidão, quando devíamos angariar amor, paz e justiça. Na antiga Grécia,
velha Europa, dizia-se que o homem idiota (grego: idiotes), era aquele que
olhava só para si, não se importando com os demais, com a comunidade (latim:
communitas), e o político (latim: politicis) era o que cuidava dos outros, dos
vizinhos e da comunidade. Em decorrência desses conceitos antigos, é de se
avaliar que Jesus foi sem dúvida um grande político na sua época, cuidava e
orientava para o bem todos os que o procuravam, o que nos faz crer, hoje o
Jesus Cristo, que aqui esteve como homem, se envergonharia dos políticos da
nossa época, a sua grande maioria não se importam com moral, ética, conduta,
postura, ou mesmo comportamento social. Para esses, o que vale é assegurar recursos,
nem que seja por meios ilícitos, levar vantagens com negócios escusos. Não
vamos negar que tivemos e temos na história contemporânea políticos com ética,
como por exemplo, os paraibanos já falecidos, Rui Carneiro (1906/1972) e Ronaldo José da Cunha Lima (1936/2012); os
senadores Pedro Jorge Simon (PMDB/RS), o
pernambucano Cristovam Ricardo Cavalcanti Buarque (PDT/DF), Eduardo Matarazzo
Suplicy (PT/SP) e o também pernambucano Randolph Frederich Rodrigues Alves
(PSOL/AP). São alguns políticos sérios, de siglas partidárias diferentes, mas
alinhados na coerência e a ética, praticando o que dizem, demonstrando dessa
forma que o carater está no homem e não fora dele, fundamentos de Jesus Cristo.
Precisamos
reavaliar nossos conceitos, a criança já vem deformada moralmente do berço, os
pais de hoje não ensinam o caminho da retidão, da honestidade, da sinceridade,
elas convivem com a mentira diariamente, quando os pais mandam dizer que não
estão, para algum cobrador ou mesmo para uma pessoa indesejável naquele
momento, trazem para dentro de casa produtos falsificados, comprados nos
camelódromos da vida. São exemplos que damos para os filhos que não vão ter
parâmetros para decidir o que certo ou errado.
Nessa
semana vamos reavaliar nosso comportamento, hábitos inconvenientes, atitudes
nocivas para os outros, vamos pensar um pouco nos que estão próximos e mesmo
longe, mas que precisam das nossas atitudes pontuais, na tentativa de melhor um
pouco o nosso mundo de hoje possibilitando um futuro de melhor qualidade para
as gerações futuras, precisamos fazer nossa parte, fazer o melhor nas condições
que temos, necessitamos sermos extremamente humildes, não vamos esperar que os
governos mudem de atitudes para seguir o exemplo, façamos nós. É preciso que
alguém tome uma posição, no momento que isso ocorrer, a corrente será formada,
e certamente começaremos a mudar as condições de um mundo que ainda tem
conserto, basta que acordemos para a nossa triste realidade.
Que
Jesus Cristo na sua infinita inteligência e bondade nos iluminem nesse momento
de extrema necessidade de ponderações e reajustes morais.
*Escritor e Poeta
Velhos Temas Novos Rumos
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/27/2013 07:19:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário