Poeta, Poesia e a Imortalidade
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Com o transcurso do
aniversário do Vinícius de Moraes, 100 anos, que seria no último dia 19 e o dia
do poeta, comemorado no Brasil no dia 20, próximos passados, resolvi fazer um
trabalho lembrando aqueles, que considero como os maiores, entre os grandes, poetas
da nossa língua. A poesia tem sua origem que antecede a escrita e é uma forma
de comunicação que se distingue não como uma ramificação da arte, mas, para os
mais entusiastas dessa forma de expressão, como a própria arte, dentro da
cultura milenar. Muitos foram aqueles que se destacaram na defesa da poesia no
decorrer da evolução das comunicações exercida pela humanidade. A língua portuguesa
foi feliz com seus escritores tendo esses, sequenciado os fragmentos poéticos
encontrados em cavernas e
outros instrumentos de anotações que merecem nosso
respeito, mesmo que rudimentar, principalmente pelo registro histórico dos
nossos ancestrais.
Evidentemente que não podemos fazer
um registro de todos aqueles que efetivamente enriqueceram a arte da poesia com
suas segmentações e valores na nossa história. Assim sendo, fiz um apanhado
daqueles que reputo serem os 7 maiores poetas na contribuição dessa arte em
nossa língua, e sobejamente enriquecida com a sabedoria vinda do além mar, na
cooperação dada pelos nossos irmãos lusos:
O português Fernando António Nogueira Pessoa,
mais conhecido como Fernando Pessoal (1888/1935), com seus múltiplos
heterônimos, sendo os mais famosos, Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto
Caieiro, tido como o maior poeta da língua portuguesa, nos deixou uma obra,
muito embora não seja vasta, de uma profundidade impar, cultuada até hoje pelos
seus admiradores.
O poeta baiano Antônio Frederico de Castro Alves, marcou a
história da nossa literatura como Castro Alves (1847/1871), vivendo apenas 24
anos é reverenciado como o poeta dos escravos pela luta incessante e obstinada
que trovou contra o sistema da época em apoio à libertação daquela classe e seu
tráfico.
Foi no Rio Grande do Sul que nasceu Mário de Miranda Quintana, ficando
conhecido em todo território nacional como Mário Quintana (1906/1994).
Jornalista e poeta levou uma vida de desencontros, não tendo casado e por isso
ele tem uma frase fantástica: “preferi deixar muitas mulheres esperançosas e
fazer uma única desiludida”. Solteiro, viveu em hotéis, sendo despejado do
Hotel Majestic, centro histórico de Porto Alegre, por falta de pagamento, sendo
acolhido no Hotel Royal, na mesma cidade e de propriedade do ex-jogador da
seleção brasileira, Paulo Roberto Falcão. Ali, ocupando um pequeno quarto
desabafou a uma amiga: “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja
pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas”. Foi um
extraordinário escritor e poeta, mas como a maioria, não teve seu valor
reconhecido em vida. Terminou seus dias em um apart-hotel, solitariamente.
O maior de todos os poetas paraibano sem dúvida é Augusto de Carvalho
Rodrigues dos Anjos, o idolatrado Augusto dos Anjos (1884/1914),
reconhecidamente o poeta do impossível. Teve como causa morte pneumonia, mas
pelas suas poesias que tratava de assuntos tétricos ligados à morte, muitos
foram as pessoas que associaram sua causa morte com tuberculose, doença tida
largamente como surto epidemiológica à época. Sua genialidade estava na
permeabilidade de sua obra com termos tais como: escarro, miséria, horrenda,
verme, evangelho da podridão; a facilidade que ele tinha de juntar o idealismo
e materialismo, heterogeneidade e homogeneidade, vida e morte. Conciliar os
opostos em perfeita harmonia nos versos constantes da sua obra completa que se
resumia num único livro, EU. Entretanto, um dos poetas mais editados da língua
portuguesa.
Um dos maiores cantadores e poeta do Nordeste brasileiro foi sem dúvida Antônio Gonçalves da Silva,
ou
simplesmente Patativa do Assaré
(1909/2002). Ele que nasceu em Assaré, Ceará, vindo desse fato o apelido que
imortalizou esse genial improvisador, foi também poeta popular, compositor e
cantor, sendo laureado por cinco vezes Doutor Honoris Causa. Um dos mais
consagrados compositores, fazendo verdadeiras crônicas da seca e da fome que
sempre imperou no seu cariri e todo sertão nordestino, tendo em Luiz ‘Lua’
Gonzaga ‘Gonzagão’ do Nascimento, um dos mais constantes interpretes das suas
músicas, interpretações que representava um grito de dor daquela gente sofrida
do nordeste.
O interprete e compositor Francisco Buarque de Hollanda, o famoso Chico Buarque, premiado em inúmeros festivais
dos anos 1960, com suas músicas de protestos, como a Banda, Roda Viva, Calabar,
Apesar de Você, além de outras canções imortais que fazem parte do cancioneiro
popular, e clássico como Januária, Carolina, Olhos nos Olhos, Folhetim, e
tantos sucessos, interpretados pela elite de cantores nacionais. Chico Buarque
hoje faz parte de uma constelação de astros da nossa literatura com sucesso de
peças montadas e livros lançados, premiados com justiça; apenas para ilustrar
cito o Estorvo, Budapeste e o Leite Derramado. É realmente uma referência
cultural em nosso país, e muito tem contribuído, com sua versatilidade, para o
desempenho da arte em suas múltiplas formas de apresentação.
Finalmente, Marcus
Vinicius de Moraes, ou apenas Vinícius de Moraes (1913/1980), o carioca que faria
100 anos, esse mês, foi um grande intelectual, tendo renunciado a vida
diplomata para seguir escrevendo seus livros, compondo suas músicas e fazendo
seus versos em homenagem, principalmente, a mulher brasileira. Vinícius de
Moraes foi sem dúvida um artista completo, nos seus poemas e letras musicais
além de homenagear a mulher com as músicas “Poemas dos Olhos da Amada, Rancho
das Namoradas, Se todos fossem iguais a você, e muitas outras”. Teve uma
relação muito íntima com o amor nas composições de “Insensatez, Canto de
Ossanha, Amei Tanto, primavera, Modinha e Samba em Prelúdio”. Não se esqueceu
das flores, objeto de inspiração dos poetas e românticos, compondo canções como
“Rancho das Flores, Serenata do Adeus, Soneto da Separação e Morena Flor”. O
poetinha, como carinhosamente era conhecido pelos seus amigos e parceiros de
tantas canções imortais. Seus parceiros mais constantes em composições musicais
foram: Toquinho, Chico Buarque, Tom Jobim, Carlos Lyra e João Gilberto.
Assim, termino o relato dos mestres que marcaram as suas e
as nossas vidas com peças inapagáveis, trabalhos que falam do amor, da dor, do
desterro, da paixão, da fome, da miséria, da terra inóspita pela sequidão, da
morte macabra, e dos interstícios que fazem da vida um fenômeno fantástico. Não
foram apenas os citados que merecem nossos reconhecimentos, mas todos aqueles
que renunciaram muitas vezes a projetos de vida mais mirabolantes ou não, porém
de efeito espetaculoso, quem sabe até submergido no oceano da simplicidade do
viver modesto.
Escreveu um dia o mineiro Carlos Drummond de Andrade
(1902/1987), com todo seu poder de síntese e capacidade de expressão: “A
cada dia que vivo mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor
que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada
arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade”.
*Escritor e Poeta
Poeta, Poesia e a Imortalidade
Reviewed by Clemildo Brunet
on
10/25/2013 06:49:00 AM
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