TEMAS AFLITIVOS PARA UMA SOCIEDADE PASMA
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
As manifestações ocorridas nos últimos meses, iniciadas em junho último e
mantendo-se mais aceleradas nesse mês de outubro, tem a tendência de perder a
idiossincrasia da sociedade pela forma irresponsável de alguns elementos que
não tendo nenhum vínculo com as classes organizadas que se manifestam,
responsavelmente, em defesa das suas causas, mais que justas, introduzem uma
violência física com prejuízo ao patrimônio público e privado, com atos de
vandalismo nunca visto em nosso país, e em nenhum momento anterior da nossa
história política. Infelizmente, quando esses elementos são contidos e presos
pela polícia que procura manter a tranquilidade a população ordeira que sempre
se comportou o brasileiro, a justiça vem e
solta esses delinquentes, prestando
um desserviço à comunidade.
Essas atitudes ignóbeis, por parte desses elementos nocivos a construção
da nossa democracia, devem ser coibidas a qualquer custo pela nossa justiça,
principalmente pela força das leis existentes para esse fim e com a
determinação vigorosa das autoridades constituídas.
Inegavelmente, passamos por um momento de comoção social de muita reflexão,
é relevante afirmar a precariedade que se encontra alguns setores
governamentais, muitos por ausência de sentimento de sensibilidade com a causa
pública, outros provocados pela insensatez e o descaso com o dinheiro do
contribuinte, usado equivocadamente, sem a devida eficácia.
Um dos pontos mais cruciantes, devendo ser motivo de uma análise mais
profunda pela visão de especialistas da área, com tomadas de decisões a
curtíssimo prazo, é o caso da mobilidade urbana que tem acarretado transtornos
aos nossos trabalhadores nas suas locomoções diárias, nas idas e vidas aos seus
trabalhos; aos estudantes na busca do saber, quando na frequência dos
estabelecimentos de ensinos, e dos demais membros da comunidade urbana. Não há
um único meio de transporte coletivo que esteja operando, em nosso país, numa
margem de contentamento pelo menos considerado sofrível. Todos, sem exceção,
trabalham com péssimas condições de operação, levando aos usuários,
principalmente os das médias e grandes cidades, ao limite da exaustão.
A nossa segurança entrou em colapso, não há mais tranquilidade ao
brasileiro nem mesmo dentro da sua casa, a bandidagem chegou a tal ponto que
nos sentimos inseguros até mesmo na companhia dos nossos familiares, em eventos
festivos ou de congraçamentos, em qualquer lugar, praças, clubes, escolas,
restaurantes, bares, e tantos outros que muitas vezes deixamos de frequentar
por absoluto receio de que algo desastroso venha ocorrer àqueles ambientes. O
que efetivamente está ocorrendo é uma inversão de valores, quando o bandido
perambula pelas ruas das cidades, sem serem admoestados, em busca das suas
presas fáceis, na maioria das vezes por absoluta inoperância de um policiamento
mais ostensivo nas ruas das nossas cidades, dessa forma os cidadãos ficam recolhidos
e trancafiados em seus lares, cercados de um verdadeiro aparato de segurança,
composto de empresas especializadas, plataformas eletrônicas, animais treinados
para essa finalidade, dispondo de enormes valores, sem ao menos ter a certeza
da segurança absoluta, ela não existe mais.
No campo da educação ainda somos um país muito aquém daquilo que
deveríamos ser, é certo que crescemos muito, nos últimos 10 anos tivemos um
crescimento de 150% no setor, especificamente no terceiro grau, mas temos que
crescer mais 100%, nos próximos 10 anos para atingirmos um patamar próximo ao
recomendado, pelos levantamentos oficiais, mesmo assim, sem a qualificação desejada
no nosso universo acadêmico.
Tudo isso por conta da nossa educação básica que continua precária, quando
nossos estudantes não sabem ler nem escrever, sem a menor noção de
interpretação de textos. O que esperar de um estudante nesse estágio quando
projetamos seu futuro. Isso só ocorre porque imprimimos a pressa na sua
aprendizagem, quando deveríamos observar esse ritmo apenas para iniciarmos o
aprendizado, e a cautela no desenvolvimento do aluno.
Ao tratamos da saúde a situação fica mais embaraçosa e o proscênio é
desolador, o governo procura investir, com todo ufanismo que o marketing
político indica, no Programa Mais médico, sabidamente um projeto eleitoreiro,
quando devia se preocupar com o SUS (Sistema Único de Saúde), um sistema de
cunho social, brilhante, devia ser levado aos lugares mais longínquos dos
nossos Estados, no entorno das nossas cidades carentes de uma assistência
médica, pelo menos mais humanitária. Tudo é uma questão de prioridade e
planejamento, visão profissional, vontade e coragem política, esse projeto vem
atendendo aos mais necessitados, apesar da sua precariedade, falta de direção e
gerenciamento.
Infelizmente o setor médico hospitalar encontra-se sucateado, mesmo assim,
tentam-se criar uma ideia positiva dessa área, quando as imagens dos nossos
noticiários nos apresentam cenas arrepiantes, com pessoas em busca de
atendimento sem o mínimo conforto oferecido, ambulatórios muitas vezes em
avançado estado de precariedade, leitos em desconformidade com o que preconiza
a medicina mais elementar que se pratica em nações mais pobres que a nossa.
Quem conhece o setor sabe exatamente o que estou tentando passar, quem não o
conhece reconhece quão lôbrego é o caso.
A nossa economia encontra-se sacudida com o pedido de recuperação
judicial por parte da empresa OGX, do grupo empresarial pertencente ao empresário
Eike Fuhrken Batista, famoso por ter sido considerado pela presidente Dilma
Vana Rousseff, como o empresário modelo para a economia brasileira. Esse
investidor vem lutando desde 2012 na recuperação do seu grupo, sem sucesso, ver
agora seu sonho de se transformar no homem mais rico da terra, alimentado desde
2011 quando despontava em 8° lugar entre os mais afortunados, ser apontado como
um caloteiro internacional, com a desvalorização das ações das suas empresas,
vendo ainda, sua fortunada se evaporar, transformando-o num dos maiores fracassos
financeiros dos últimos tempos, podendo acarretar um prejuízo ao mercado
financeiro nacional, com um montando significado junto ao BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social), um dos muitos grupos favorecidos pelo
atual governo e que naufragaram no mar da incompetência; e a investidores
internacionais, portadores de ações da sua empresa. Mesmo que seja concedido o
direito de recuperação os credores dificilmente vão evitar prejuízos, se não
houver a recuperação dentro do prazo limite, sentimento tido pelo valor do
patrimônio da empresa que gira em torno de 30% da dívida existente e o
descrédito do empresário para conseguir aporte de capital, evitando
definitivamente a bancarrota.
Portanto, os fatos acima enumerados nos leva a perplexidade e a
incertezas no futuro que se aproximam, as reivindicações dos movimentos de ruas
são sobejamente justas e necessárias para que as autoridades competentes se
compadeçam da nossa calamidade, e das profundas necessidades de mudanças que
temos de ter nas políticas setoriais, são necessidades que só dependem de
tempo, e tempo é uma questão de prioridade também.
Encerro com um pensamento de Confúcio (K'ung
Ch'iu – 551/479 A.C), pensador e filósofo chinês, do Período
das Primaveras e Outonos – “Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por
reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e
terceiro, por experiência, que é o mais amargo”.
*Escritor e Poeta
TEMAS AFLITIVOS PARA UMA SOCIEDADE PASMA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/01/2013 06:14:00 AM
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