O SÁBIO E O TOLO
Severino C. Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
Segundo o pensamento de
Platão que dizia: “um sábio fala porque tem alguma coisa a dizer; o tolo porque
tem que dizer alguma coisa”.
Existem pessoas que carregam
consigo um estigma que adquiriu quando criança no meio familiar ou ambiente em
que viveu. Mas, depois que assimilam conhecimento ou tenham estudado na melhor
universidade ou na Sorbonne, na vida prática, vez por outra aciona esta
ferramenta da ignorância que estava alocado na parte mais sutil da mente e, de
forma brusca, joga fora todo o resíduo, esquecendo a forma civilizada que fora
amoldada no campo educacional.
“O mal da ignorância é que
vai adquirindo confiança à medida que se prolonga.” (Autor desconhecido).
Atualmente, as facilidades
criadas pelos meios de comunicação (jornal, revista, rádio, televisão, sites,
blogs) as informações chegam rápido, logo retransmitidas para terceiros que não
receberam diretamente, às vezes aumentando ou mal interpretando o conteúdo. Por
conta dessas notícias, que se avolumam e
aumentam mais ainda o desejo dos falantes de esquinas, com as suas
interpretações indevidas que só alteram para pior o roteiro da notícia
verdadeira, chegando até mesmo a deformá-la na sua originalidade.
As fanfarrices de querer
saber tudo é uma grande ilusão, ninguém alcança a este patamar de sabedoria
universal. O campo de conhecimento é tão vasto que é melhor se considerar
pequeno para mostrar uma virtude de grandeza. Basta se sentir pequeno para ser
incorporado à universalidade das coisas. O universo é imenso demais.
E muitas vezes, nos pontos
estratégicos de discussão que cada cidade tem por referência, no meio dos
faladores plantonistas e conhecidos como sabem tudo, escutam-se vozes e
algazarras, com um toque de deboche e chacota. Os tolos somam barulho em cima
de barulho enquanto suas mentes são reprimidas, em silêncio. O negócio é falar,
tem que dizer alguma coisa, só não pode ficar calado.
O homem silencioso que
escuta um pouco distante o desenrolar das análises mirabolantes e pouco
consistentes ante a realidade dos fatos medita e cada vez mais aprofunda a sua
meditação. Reflete e cala-se. Segue os seus passos mais abastecido de conteúdo
porque o seu silêncio falou mais alto do que o barulho que estava ouvindo.
Esta é a constatação de que
permanece a vigência do pensamento de Platão, os tolos de tudo tem que dizer
alguma coisa, a única coisa que eles não sabem é ficar calado.
O velho homem que só fez
observar a patota de falantes caminhou pensando sobre a fábula da “Coruja e o
Tolo”:
Tolo pergunta: "Coruja
por que estes olhos tão grandes?"
Ela responde: "Para
enxergar melhor."
Tolo diz: " Para que
olhar tanto este mundo tão feio?"
Coruja: "Ele é feio
para você que só enxerga a superfície. Eu olho o profundo."
Tolo: "Se quer enxergar
tudo, por que prefere a noite ao dia?"
Coruja: "Porque na
noite há o silêncio e com ele percebo o mundo melhor. Olho, escuto, sinto e
experimento o que não seria possível em meio aos excessos do dia."
Tolo: "Mas a escuridão
não te assusta?"
Coruja: "O que me
assusta é a excessiva claridade do dia."
Tolo pensando: "Coitada
da Coruja, vive sempre tão sozinha!!!"
Coruja pensando: "Pobre
Tolo, acha que o barulho e as multidões evitarão sua solidão."
Falar pouco e correto é o
caminho:
São Thomas de Aquino
determinou sete características como inerentes ao orgulho:
Jactância - Ostentação,
vanglória, elevar-se acima do que se realmente é.
Pertinácia – Uma palavra
bonita para “cabeça-dura” e “teimosia”. É o defeito de achar que se está sempre
certo.
Hipocrisia - o ato de pregar
alguma coisa para “ficar bem entre os semelhantes” e, secretamente, fazer o
oposto do que prega. Muito comum nas Igrejas.
Desobediência – por orgulho,
a pessoa se recusa a trabalhar em equipe quando não tem suas vontades
reafirmadas. Tem relação com a Preguiça.
Presunção - achar que sabe
tudo. É um dos maiores defeitos encontrados nos céticos e adeptos do mundo
materialista. A máxima “tudo sei que nada sei” é muito sábia neste sentido. Tem
relação com a Gula.
Discórdia - criar a
desunião, a briga. Impondo a nossa vontade sobre os outros, podemos criar a
discórdia entre dois ou mais amigos. Tem relação com a Ira.
Contenda - é uma disputa
mais exacerbada e mais profunda, uma evolução da discórdia onde dois lados
passam não apenas a discordar, mas a brigar entre si. Tem relação com a Inveja.
A falta de humildade é que
leva ao excesso de arrogância. “Só sei que nada sei”, ninguém se lembra deste
pensamento na tomada de uma atitude rompante cuja premissa filosófica que
deveria estar guardada na mente. A capacidade de brilhar e iluminar os outros
ao seu redor. A virtude de brilhar pelo reto pensar, reto falar e reto agir.
Assim como o orgulho é o pior de todos os vícios, a magnanimidade é a maior de
todas as virtudes.
João
Pessoa PB, 20 de janeiro de 2014.
*Escritor e Promotor
de Justiça.
O SÁBIO E O TOLO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/20/2014 09:59:00 AM
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