LEMBRANDO PADRE SOLON
Ignácio Tavares |
Ignácio Tavares*
Nasceu em 04/05/1935
Faleceu em 03/06/2006
Pe. Solon Dantas de França |
Quando Padre Solon chegou a Pombal,
pra mim não passava de um ilustre desconhecido. Foi através de pessoas amigas
que o conheci num encontro casual no adro da Igreja Rosário, justo no domingo
antes da celebração da missa. O encontro
foi rápido, portanto, não foi possível criar um elo que nos pudesse estabelecer
uma relação de amizade. Outras vezes nos encontramos, noutros ambientes, da
mesma forma, nada aconteceu.
Dessa forma, o meu casamento aconteceu às cinco da
manhã do dia 21 de dezembro de 1971.
A cerimônia esteve por um fio para não acontecer. Depois
de fazer aquelas perguntas de praxe, Padre Solon indagou se a noiva havia
passado pelo confessionário, condição necessária para a consumação do
matrimonio. Claro que sim, respondeu a noiva.
Depois olhou
pra mim, com um olhar desconfiado, de quem já sabia a resposta, perguntou: e
você? Ora, senhor Padre, claro que não. De imediato, olhou pra mim e disse:
este casamento não se consumará se o senhor não for ao confessionário.
Calmamente, expliquei que não tinha o hábito de confessar-me, assim sendo
gostaria de ser respeitado o meu modo de ser Cristão. Fez um breve sermão
falando sobre a importância da confissão, mas terminou por aceitar a minha
posição.
Passei
alguns anos longe de Pombal por conta de afazeres noutros Estados. Em 1975,
quando retornei da Bahia, depois de cumprir compromissos assumidos com uma
empresa de pesquisa e planejamento naquele estado, reassumi as minhas funções
docentes na UFPB e ao mesmo tempo fui contratado pelo governo do estado, para
fazer parte da equipe que estava a elaborar o plano de governo.
Concluído o
Plano, fiquei definitivamente como assessor do Secretário do Planejamento. O
Padre Solon sabedor das minhas funções, com certa frequência, me procurava na
busca de favores para o município de Paulista. O que estava ao meu alcance, não
havia problema, desse modo, os seus pedidos, na medida do possível, eram
atendidos a tempo e a hora.
Daí por
diante o nosso relacionamento passou a ser de bons amigos mutuamente
confiáveis. Um belo dia, quando estava de férias em Pombal, quase sempre me
hospedava na casa da minha sogra, ele me aparece sorridente e fagueiro com a
cara de quem desejava pedir-me alguma coisa. Ora, ora, os meus pressentimentos
estavam corretos. Isso aconteceu lá pelos idos do fim da década de setenta, ou
talvez antes, não me lembro bem. O amigo foi logo direto ao assunto: eu quero
que você faça um projeto para a instalação de uma Agência do Banco do Brasil em
Paulista. Pode ser? Claro que sim padre...
Arrematou, é
pra logo, viu? Realmente naquela época a direção do Banco do Brasil estava
pondo em prática políticas de interiorização e expansão de agências bancárias,
mas, exigia que fosse feito um projeto, para conhecer as potencialidades
econômicas e sociais do município. Por sinal, já havia feito alguns projetos e todos
haviam sido aprovados.
Na sequência
da nossa conversa fiz algumas perguntas sobre a infraestrutura educacional e de
serviços de saúde em Paulista. De pronto me deu todas as informações, pois
conhecia bem o quadro sócio-econômico do seu município. Fiz as anotações de
tudo que ele me informou. Levantei outras informações nas publicações do IBGE e
em pouco mais de trinta dias, entreguei-lhe o projeto pronto e acabado. Em
pouco tempo sou surpreendido quando o amigo me telefonou certificando de que o
projeto havia sido aprovado e em breve seria instalada a tão sonhada Agência de
Paulista. Com certeza, também fiquei muito feliz, por haver contribuído com
aquela grande conquista do Padre Solon.
Noutra
ocasião esteve em minha casa, no ano 2.000. Conversamos sobre a situação dos
bens patrimoniais da Igreja e outros projetos em andamento, como as faculdades
de Contabilidade e Agronomia. Lá para tantas fez- um convite para assumir o gerenciamento
dos bens da Igreja. Confesso que fiquei assustado diante de tão grande
surpresa. Pedi tempo para pensar. Pensei e não aceitei, por razões diversas que
não as quero cita-las neste texto. O informei da minha decisão e expliquei o
porquê, ele entendeu e a nossa amizade continuou firme e inabalável.
Foi a partir
desse momento que me veio a confirmação de que o Padre Solon estava dividido
entre o Púlpito e o Palanque. Fez-se político, embora Padre. No exercício das
atividades políticas não fez nada diferente daquilo que os políticos
tradicionais costumam fazer em busca dos votos de cada eleição.
No exercício
das atividades sacerdotais, chegou às vezes misturar Deus e política. Submeteu-se
a chacotas e humilhações, às vezes que o candidato da sua preferência foi
derrotado. Nessas ocasiões, seu coração partia-se, seu corpo se contraia com as
dores da decepção, sua alma chorava aos prantos, por conta da ingratidão do seu
povo, que tanta amava.
Foi
explorado por alguns oportunistas que o cercavam. Resultado, perdeu o
patrimônio legado do seu pai, a tranquilidade, a saúde e até mesmo os falsos
amigos que o cercavam. Ficou só sem ter a que se apegar nos momentos difíceis
que estava a viver. Morreu na solidão e esquecido por aqueles (bajuladores) em
que tanto confiava.
Por outro lado,
os verdadeiros amigos, ainda hoje pranteiam sua partida e seguramente sentem a
sua ausência. Mas fica uma dúvida no ar: realmente, foi um padre que se fez
político ou foi um político que se fez padre? Infelizmente nosso amigo não se
encontra mais aqui para nos responder. Mas, com certeza se aqui estivesse, ao
ouvir esta pergunta, daria boa gargalhada e baixinha, talvez dissesse: os dois.
Descanse em paz meu amigo, na casa do Senhor Jesus.
João Pessoa, 04 de Maio de 2014
*Economista
e Escritor
LEMBRANDO PADRE SOLON
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/03/2014 07:08:00 PM
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