Questão de honra nacional
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
Vou abordar o assunto de hoje com muito
medo de estar certo. O caro leitor pensa que a crise no setor energético é a
mais séria dos últimos tempos?
O “apagão elétrico” provocado pela gana
demagógica (?) é fichinha perto da escassez (absurda) de professores no Ensino
Médio brasileiro.
Relatório recente da Câmara de Educação
Básica, do Conselho Nacional de Educação, calcula haver um déficit em torno de
235 mil professores (e crescendo), aqui no patropi, apenas no Ensino Médio.
Somente para a disciplina Física são necessários mais 55 mil novos docentes.
O que assusta é que, nos últimos dez
anos, as universidades brasileiras, todas reunidas, formaram pouco menos de 10
mil licenciados em Física. A situação é parecida também para Matemática,
Química e Biologia.
E
os concursos públicos não conseguem selecionar
novos docentes em quantidade suficiente, pela simples razão de que são poucos
os que ainda desejam ser professor. Não há motivação, ou atrativo, que estimule
a qualquer brasileiro a optar pela trilha da docência, nem mesmo no Ensino
Superior.
Perdemos o respeito pela nobre missão de
educar, professores são maltratados e agredidos em sala de aula, assim como
perdemos a capacidade de compreender que a causa verdadeira está na ausência de
um Projeto civilizatório de Nação.
Perdemos também a visão de estadista na
maioria de nossos governantes. Hoje, governa-se apenas com o objetivo da
reeleição ou do continuísmo. Por outro lado, em geral, as greves são
articuladas como estratégias político-eleitorais.
O alerta é o seguinte: caso não ocorra
uma revalorização dos nossos professores, emprestando dignidade à remuneração e
às condições de trabalho, e com um novo projeto político-pedagógico, o Brasil
estará em sério risco de um apagão educacional e, por consequência, de um
apagão de força de trabalho qualificada.
Por falta absurda de professores!
Tenho certeza que o caro leitor concorda
que é preciso compreender a questão educacional como parte de um Projeto de
Nação; urge partir para o enfrentamento das contradições que impedem a redução
da desigualdade histórica e cultural em nossa sociedade, expondo sua
diversidade enriquecedora, mobilizando as vanguardas intelectuais de toda a
sociedade civil e todos os níveis de poder.
É uma questão estratégica, de honra
nacional, resgatar o valor moral e de mercado da profissão de professor. Se
quisermos, de fato, inserir a maioria da população na economia moderna, é
essencial universalizar o Ensino Básico, com a qualidade adequada ao mundo
atual, mutante e inovador.
Hoje, também o empresário pede uma
escola básica de boa qualidade, não porque se tenha convertido às causas
sociais, mas porque o analfabeto já não dá lucro. Vivemos na sociedade da
informação.
Esta função da escola, principalmente da
escola pública - de desfazer a pobreza política - depende de sólida formação
básica, voltada para o empreendedorismo e para as tecnologias da informação.
Estou convicto de que a causa da pobreza
material é a pobreza política, a pobreza de espírito, pois, mais grave que não
ter é ainda não ser.
Do jeito que está hoje a situação, no
patropi, é muito difícil convencer um jovem de que ele será capaz de ganhar
mais dinheiro se continuar numa escola do que se entrar no circuito das drogas.
Para reverter essa tendência suicida, e
evitar a barbárie, é imprescindível eliminar a miséria e a fome, urbanizar os
espaços degradados, organizar as comunidades, federalizar e universalizar o
ensino fundamental e médio, valorizar a escola e resgatar o papel fundamental
do professor.
Bate uma tristeza imensa quando imagino
que seria possível nos apropriar da tecnologia da informação e comunicação para
construir redes solidárias, que articulem experiências e práticas testadas
historicamente, construindo para a nossa terra uma alternativa humanizadora,
inclusiva, democrática e cidadã. Todavia, a dura e sofrida realidade nos joga
na cara a possibilidade contrária: um soco no estômago! Resumo da ópera:
estamos na encruzilhada do labirinto e no limiar da ética histórica.
Uma questão de honra nacional!
*Rinaldo
Barros é professor – rb@opiniaopolitica.com
Questão de honra nacional
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/02/2015 04:50:00 AM
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