Deixemos de conversa
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Adolescente, em tempo de maré seca, eu
costumava caminhar pelas areias da praia do Cabo Branco. Saía do Busto de
Tamandaré indo até a ponta mais extrema.
Pelo trajeto, a água do mar molhava meus
pés. Eu ia contemplando a beleza infinita da natureza. Um mar de águas verdes,
ondas serenas, um oceano que mais parecia uma enorme piscina. O vento soprava o
balé das palhas dos coqueirais. Não havia barracas, apenas a barreira
exuberante no horizonte, e,
Algumas vezes subi até o farol. A visão
nos levava ao infinito mar. Víamos toda orla do Cabo Branco, passando pela de
Tambaú, onde o olhar findava-se numa outra ponta de mar, onde se visualizava o
Hotel Tambaú, uma construção em formato de disco.
O tempo passou. Voltei a caminhar pelas
mesmas areias, outrora adolescentes. Fui até a Ponta do Cabo Branco. O
amanhecer ainda em ouro se torna. Mas, o homem, não cuidou da praia e nem muito
menos da barreira. Pelo trajeto, deparo-me com inúmeros e imensos espigões. O
mar avançou engolindo areia, coqueiros e passou a consumir a barreira.
O homem discute projetos, soluções em
desenhos, argumentos e licitações. Enquanto não saem do papel, o barulho das
ondas sacode a barreira, sua pele desce, mistura-se com a água do oceano e o
verde das águas se torna turvo. A barreira chora e clama por solução. Não há
mais tempo para muito pensar. É preciso agir, atuar de forma rápida, planejada,
com soluções eficientes e definitivas. Remédio existe, contudo, há projetos
demais e pouca ação.
Deixemos de conversa, antes que seja
tarde demais. Desejamos vê-la exuberante, com seu amanhecer de céu dourado e de
águas que, aos poucos, tornam-se prata até surgir o verde, que "chega a
doer", como bem declama Katia de França, em sua consagrada canção
"Ponta dos Seixas".
*Escritor
pombalense e Juiz de direito da 5ª Vara cível de João Pessoa PB.
onaldoqueiroga@oi.com.br
Deixemos de conversa
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/17/2015 06:11:00 PM
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