O Quinze, um século após
Onaldo Queiroga |
Por
Onaldo Queiroga*
Um dos maiores períodos de seca vivida e
registrada no Nordeste Brasileiro foi o de 1915. A estiagem foi de tamanha
magnitude que embasou o livro intitulado “O Quinze”, autoria da cearense Rachel
de Queiroz.
Através de "O Quinze", Rachel
iniciou sua fase de escritora e consagrou-se na seara da literatura brasileira.
Publicado no estilo romance, em 1930, a obra retratou o sofrimento vivenciado
pelo povo nordestino para transpor a grande seca de 1915. O livro traz uma
narrativa crítica, mas, de descrição comovente da dura estiagem, da miséria
social e das dores do trajeto da forçada migração até a chegada e
estada de um povo em grandes centros
urbanos, tentando a todo custo sobreviver.Os que conseguiram vencer a rota da
miséria chegaram a Fortaleza-CE, uma das cidades do Nordeste que mais recebeu
os flagelados. Eram tantos que se formou um verdadeiro campo de concentração.
Esse triste episódio nos levou a
focalizar o número quinze como um fator de tristes recordações, de intenso
flagelo de um povo sem água, alimentos e sem políticas institucionais voltadas
para prevenir e dar suporte a situações dessa natureza.
Cem anos se passaram. O mundo é outro,
temos maior eficiência na comunicação, no transporte, na indústria, um número
bem maior de barragens, mas, a despeito de tudo isso, algo inaceitável, ainda,
perdura a ponto de fazer ressurgir cenários desoladores como o que se apresenta
atualmente, não só no Nordeste, mas, também, incrivelmente, no Sudeste do país.
Os mananciais, quase todos, estão com
pouca água ou já estão secos. São Paulo e Rio de Janeiro sofrem com a escassez
d'água. As barragens e próprio leito do Velho Chico preocupam, ante o pouco
volume d'água. Estamos em setembro. Como diz no meu sertão, começando os
“bros”, meses onde o sol castiga mais ainda esse chão. Quem vive nesse cenário
amanhece e anoitece com o céu aberto, sem nuvens e sob o causticante sol. Posso
estar enganado, mas agora é que começa o ponto maior da estiagem e do
sofrimento desse povo. Quem tem melhores condições financeiras, de mais sorte
desfrutará na travessia. Os desvalidos, ao revés, sofrerão intensamente. Que
Deus proteja nosso povo!
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB onaldoqueiroga@oi.com.br
O Quinze, um século após
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/11/2015 04:50:00 PM
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