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SENTENÇA DA ALMA

PEÇA TEATRAL
Autor: Francisco Alves Cardoso
Severino Coelho Viana

Por Severino Coelho Viana

Recebemos uma gratificante surpresa para fazer uma análise literária da peça teatral, intitulada de “SENTENÇA DA ALMA”, de autoria do baluarte dramaturgo, escritor, cronista, comentarista, radialista, jornalista e teatrólogo, FRANCISCO ALVES CARDOSO, conhecido carinhosamente por Chico Cardoso. Brevemente o sertão paraibano terá a oportunidade de assistir uma bela dramatização e esperamos que o elenco seja escolhido a dedo. Não podíamos negar ao seu chamamento para a prática de um ato envolvente à cultura paraibana. Agradecemos o tamanho da confiança que foi depositada em nossas mãos, e,
consequentemente, tentaremos corresponder a este ato de prestimosidade. A princípio, vimos uma incumbência que consideramos como uma árdua tarefa, mas, de cara, sentimos uma facilidade e o desejo de terminar a leitura de um só fôlego pela clareza dos diálogos, a leveza do texto e a ilustração do cenário que nos fizeram reviver à época dos antigos cabarés, que constituíam uma forma de lazer noturno nas pequenas cidades do sertão paraibano, chegando à sua decadência no final dos anos 1970, sendo palco de lasciva e luxúria que a juventude desfrutava para o despojamento dos desejos sexuais.
A peça teatral divide-se em três atos desenvolvidos pelo casal protagonista e mais cinco personagens, retratando o sentimento humano e denunciando os males sociais com puro realismo. A narrativa dos acontecimentos desenrola-se no início da década de 1960, no espaço promíscuo de um cabaré, cujo cenário o autor descreve com a maestria de renomado produtor cultural quando a agilidade de sua pena de ouro mostra riqueza de detalhes com o devido conhecimento de causa. Soube perfeitamente concatenar as ideias e aproveitou bem a mímica dos personagens, que despertará grande curiosidade na mente do assistente. Louvamos a brilhante ideia do autor quando na montagem do cenário realça o som da radiola tocando uma música de Valdik Soriano, o ídolo das prostitutas, dando animação ao ambiente. Cabaré sem música de Valdik Soriano não era cabaré de verdade. Na realidade, ritmo e estilo de música constavam como uma obrigação aos donos e frequentadores assíduos de prostíbulos.
O texto, em si, captamos o recheio de dualidade: o bem e mal, o feio e o bonito, o autoritário e o subordinado, o rico e o pobre, periferia e centro da cidade. A narrativa faz o assistente ter o discernimento de condição social entre a prostituta rica e a prostituta pobre; o poder de mando da autoridade autoritária e o cidadão submisso; o conflito existente entre a convivência de riqueza e pobreza. O autor não esqueceu a oportunidade de inserir o tom crítico no uso da mensagem de protesto contra os desmandos dos políticos corruptos e aproveitadores do patrimônio público. Mostra de maneira cristalina a corrupção do passado que se combina com a corrupção do presente, destacando que o pobre, vivendo num rancho de miséria, não perde o seu caráter de honestidade e não se sujeita cair no mundo da roubalheira. É um retrato de verdade a mensagem deixada pelo autor no sentido de que o político, na sua maioria, só pensa no pobre na hora do voto e não tem a menor responsabilidade e cuidado com o bem-estar coletivo. Por conta dessa situação desrespeitosa termina trazendo um sentimento de revolta no coração do cidadão comum.
O relato vai desenvolvendo-se e atinge o ápice de forma dramática quando todos anseiam ver o resultado final. De toda vida de sofrimento passada pelo casal protagonista culmina com a morte de uma criança, pagando com sua inocência angelical, pelo o desregramento do pai, a fraqueza psicológica da mãe, o desprezo, o descaso e a falta de sensibilidade das autoridades e a marca de um tempo que não foi apagada da memória de quem alcançou àquela época.
É uma pena! Mas, os cabarés do passado já não existem mais e acabaram-se pela ação de modernidade. Mudaram para os espaços públicos localizados no centro da cidade, cujos prostíbulos se ornamentam com as folhas do vício das drogas.
A linguagem textual, comparando-se os diálogos e o cenário previamente montado, leva o espectador ás gargalhadas e faz chegar às lágrimas nos olhos, dependendo da habilidade de atuação do elenco, que sabe usar uma caricatura de sério e cômico. Comicidade e tristeza e a junção de palco/plateia são fórmulas mágicas do reconhecimento de grandeza do teatrólogo. Pois, o autor conseguiu esta proeza, que na nossa humilde interpretação de análise dos fatos, só enobrece a destreza de escrever do autor. Ri e chora! Chora e ri! Conseguiu perfeitamente o seu intento. Fez gol de placa!
Ao renomado teatrólogo, CHICO CARDOSO, com toda lealdade que nasce da nossa interpretação individual que fizemos do seu esmerado texto, deixamos os nossos parabéns.
E confiamos no nosso ideal de esperança, que no dia da estreia desta Peça Teatral, “SENTENÇA DA ALMA” estaremos presentes para aplaudi-lo de pé.
Valeu!
João Pessoa - PB, 23 novembro de 2015.
SEVERINO COELHO VIANA

scoelho@globo.com
SENTENÇA DA ALMA SENTENÇA DA ALMA Reviewed by Clemildo Brunet on 11/23/2015 04:40:00 PM Rating: 5

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