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Aquele lencinho

Ricardo Ramalho
Ricardo Ramalho*                                                                                                                   
        O carnaval em Pombal. Que expectativa, que ansiedade! Dominados por uma cultura tradicional de comportamentos sociais rígidos, parece que no período momesco havia uma trégua e a liberalidade aflorava. É carnaval! A frase era repetida e soava como uma senha para os relacionamentos fortuitos. Poucos namoros de carnaval sobreviviam ao depois.
A orquestra, contratada para animar os bailes no Pombal Ideal Clube, ensaiava nas últimas semanas que antecediam a folia. Assim, sabia-se de antemão as marchas, frevos e
sambas que fariam o sucesso naqueles dias.
Nem sempre o repertório musical coincidia com dos outros centros culturais, especialmente, as capitais nordestinas. Já trabalhando e morando em Maceió e entusiasmado folião, participava das “prévias” e, naquele ano, trouxe “novidades” musicais para minha cidade natal. Luiz Ayrão, despretensiosamente, emplacou, um “meio samba” de fim de ano, que se transformou em um sucesso de carnaval: “Aquele lencinho”. Letra fácil, pueril, melodia atraente, relatava um namoro acabado que deixou apenas um “lencinho” como lembrança! Mas, a orquestra não havia selecionado aquela música.
Nos intervalos dos bailes do clube se formavam grupos que disputavam, aos brados, as músicas de sua preferência, geralmente, executadas pela orquestra que animava a festa. Essa animação espontânea fazia com que o ambiente não “esfriasse”. Nossa turma se fixou n’Aquele lencinho, desde o primeiro dia. Aos poucos arrebanhamos outros adeptos e o coro cresceu nos dias seguintes. Exigia-se dos músicos a execução daquela música, mas, não havia tempo para ensaiar. Mesmo assim, transformou-se em sucesso alternativo e muitos namorados cantavam, ao final dos quatro dias, seus versos. “Aquele lencinho/que você deixou/é um pedacinho/da saudade que ficou; era a felicidade/que acenava pra mim/hoje é bandeira da saudade/banhada num pranto sem fim”.
No decorrer e, sobretudo, nos últimos dias da festa, era comum o término de namoros. Os arroubos e a sensibilidade que reinava no período contribuíam para o aumento desses desfechos amorosos. Assim, o quadro descrito na canção, pelo menos similarmente, se repetiu naquele ano e muitos foliões puderam chorar e cantar ao som maravilhoso daquela canção.

*Cronista pombalense radicado em Maceió Alagoas
Aquele lencinho Aquele lencinho Reviewed by Clemildo Brunet on 2/01/2016 07:07:00 AM Rating: 5

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