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A vida continua depois dos detalhes amorfos

Genival Torres Dantas*

Os paradoxos e compadrios nem sempre impedem que o ritmo da vida continue livre e soberano, no esporte tivemos um encerramento das Olimpíadas dignas de todos os bons carnavais brasileiros, uma verdadeira epopeia de encontros e desencontros entre jovens que vivem no momento mais fértil de suas vidas, quando as aventuras e sagas são apenas detalhes de um hiato sendo arremessado ao futuro, sem compromissos maiores com o comprometimento das ações geradas no calor das palmas febris dos corações embriagados pelo aroma doce da juventude com todo seu
vigor.
Muito embora tivéssemos um crescimento em números de medalhas conquistadas, não foi nada excepcional comparativamente ao número de atletas inscritos, agora em 2016, participamos com 474 atletas com 19 medalhas, das quais 07 ouros. Enquanto em nossa primeira participação, na Bélgica/ Antuérpia, 1920, com 29 países na disputa, ficamos em 15º com 03 medalhas, a de ouro ficou com o Tenente Guilherme Paraense, portanto, o primeiro medalhista de ouro de nosso país, naquele ano foi apenas com 21 atletas inscritos.
Tivemos muitas decepções com atletas e equipes, esse sentimento faz parte do processo, acreditávamos muito em determinadas categorias e menoscabamos outras que nos foram gratas e reconfortantes. O canoísta Isaquias Queiroz, de apenas 22 anos, foi a surpresa agradável entre nossos atletas, tendo conquistado três medalhas, sendo duas de pratas e uma de bronze, um feito nunca antes ocorrido em nosso país e na canoagem, sem nenhuma tradição por aqui. Quem ficou encortinado foi o menos valoroso, o paulista Thiago Braz que tentou e conseguiu o salto com vara, mostrando toda sua coragem e ficando com o ouro em sua companhia. Fomos agraciados com medalhas de ouro no futebol e vôlei de quadra masculino, com grande honra para o vôlei de praia masculino, com Alison e Bruno Schmidt. O que dizer do Judô feminino tão bem representado com Rafaela Silva e sua valentia. Fomos surpreendidos ainda com Robson Conceição, um bravo atleta que honrou grandiosamente o Box e nos presenteou com outra medalha de ouro. Finalmente, tivemos a honra da participação dourada de Martine Grael e Kahena Kunze, mantendo a hegemonia da Vela na família Grael em nossa terra.
Esses feitos não foram suficientes para acharmos que fomos suficientes, pelo contrário, deixamos muito a desejar, precisamos aprender com os erros e procurarmos evoluir usando nossas falhas como alavanca para o futuro. A hora de comemorarmos já passou, a bandeira já foi dobrada e levado em destino a Tokio/Japão, lá, quando ocorrer a nova Olimpíada, 2020, for anunciada, outros ídolos certamente virão, novos recordes serão batidos e assim vamos levando a vida olímpica de quatro em quatro anos. O Japão já anda anunciando sua preocupação com os custos que terão que arcar, mesmo contando com uma estrutura montada em meados dos anos 1974 para patrocinar sua primeira Olimpíada, nas terras do Sol Nascente.
Enquanto saímos de uma empreitada árdua, porém vitoriosa, tanto na organização como na segurança, não medimos esforços para garantirmos o financiamento dos seus custos, absurdamente altos e impraticáveis para um país da nossa estirpe e com nossos vícios de comportamentos políticos arraigados no nosso DNA. Fizemos nosso papel, o legado que ficou será comensurado daqui algum tempo com o aproveitamento dos esqueletos físicos que ficaram de toda estrutura da engenharia civil e mobilidade urbana para a cidade do Rio de Janeiro.
É hora de aproveitarmos o calor das ruas com o contentamento pelos nossos feitos e investirmos nos atletas que certamente levaremos para os próximos jogos Olímpicos, esse será o investimento maior que teremos retorno no futuro, com a criação de mentalidade de competição, criando o desejo em cada brasileiro atleta, de retornar de suas competições com suas medalhas brilhantes no peito, como símbolo de coragem, bravura e heroísmo. Esse é o país que queremos como formação para o futuro bem próximo.
*Escritor e Poeta

Genival_dantas@hotmail.com
A vida continua depois dos detalhes amorfos A vida continua depois dos detalhes amorfos Reviewed by Clemildo Brunet on 8/24/2016 06:09:00 AM Rating: 5

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