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ATÊNCIO BEZERRA – A VITÓRIA

Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

A campanha do sucessor do prefeito Avelino Elias de Queiroga transcorreu num clima de agitação e agressividade. A agressividade partia dos ataques à administração municipal. No meio político, o jogo de tabuleiro as pedras se mexiam e davam contornos de divisão e união. Divisão quando houve o rompimento de parte da família Carneiro com Avelino Elias de Queiroga, formando-se a “Ala Garça”. Lembrando que o embrionário da Ala Garça surgiu já na eleição de 1963. No entanto, na eleição de 1968, a declaração de rompimento tornou-se pública e notória com o lançamento do candidato a prefeito – Francisco Juvenil de Assis, conhecido popularmente por Jovem Assis. Por seu turno, Avelino Elias de Queiroga se uniu ao Dr. Atêncio Bezerra Wanderley, lançando-o seu sucessor, que na eleição de 1963 tinha seguido a sua caminhada como terceira via, que não foi bem sucedida.
Na administração do Dr. Avelino Elias de Queiroga destacavam-se as seguintes obras realizadas: construção da Praça dos Pereiros, calçamento de várias ruas, primeira restauração do açougue público da cidade, que se encontrava em estado lastimável, construção de Praça no Distrito de São Domingos e
instalação da iluminação pública daquele Distrito, calçamento de obras nos Distrito de São Bentinho e Cajazeirinhas.
Atêncio Bezerra Wanderley era uma espécie de reserva moral e cultural da cidade. Sabia defender os assuntos com o máximo de polidez e civilidade e com muita ponderação. Homem sério, conduta ilibada, bom administrador. Já eram colegas na área médica, sem o menor atrito ou divergência de ordem pessoal. Dr. Avelino foi hábil e se recompôs muito bem, tornando-o um candidato imbatível. Seguia uma linhagem política de ordem moderada.
Após o golpe militar de 1964, nos anos que se seguiram, o cenário político brasileiro foi de constante ameaça de repressões, caracterizando-se como regime de força, uma ditadura militar. O clímax da repressão ocorreu em 1968, culminando com a decretação do Ato Institucional número Cinco, o famigerado AI-5.
O ano de 1968 é conhecido como "O ano que não terminou", e entrou para a história como um ano extremamente movimentado e cheio de acontecimentos importantes, como o assassinato de Martin Luther King e de Robert Kennedy, a Guerra do Vietnã, além de inúmeras manifestações, sobretudo estudantis contra os regimes autoritários vigentes em diversos países do mundo, particularmente na América Latina. No Brasil, o ano foi marcado pela instituição do AI-5, pelo então Presidente Costa e Silva.
Costa e Silva editou, em 13 de dezembro de 1968, o AI-5, que permitiu ao governo decretar o recesso do Legislativo e intervir nos estados sem as limitações da Constituição, cassar mandatos eletivos, decretar confiscos de bens “de todos quantos tenham enriquecido ilicitamente” e suspender por 10 anos os direitos políticos de qualquer cidadão.  Dessa forma, o AI-5 cancelou todos os dispositivos que ainda poderiam ser utilizados pelos parlamentares da Constituição de 1967. Pelo disposto, os militares tinham o direito de decretar o recesso do Congresso, das Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais a qualquer momento. A censura dos meios de comunicação, da expressão intelectual e artística estava agora funcionando a pleno vapor, tendo sido retirada toda a autoridade e independência do Poder Judiciário. A cassação dos direitos políticos poderia ser decretada com extrema rapidez e sem burocracia, o direito de defesa ampla do acusado foi eliminado, suspeitos poderiam ter prisão decretada imediatamente sem necessidade de ordem judicial.
Em 1968, em vigor o bipartidarismo com sublegendas, mesmo assim não foi possível a união no seio da congregação política, houve o rompimento da ala avelinista e de parte da família Carneiro. Os aliados avelinistas, cujo partido era o M.D.B. (Movimento Democrático Brasileiro), usando de seu poder de criatividade, apelidaram os carneiros de “ALA GARÇA”, e, consequentemente, chamavam de “garcianos”. Por seu turno, os carneiros se aliaram aos Pereristas, que pertenciam aos quadros da ARENA (Aliança Renovadora Nacional).
O impasse estava criado. O MDB-1 lançou para Prefeito: Dr. Atêncio Bezerra Wanderley e o vice: Cristóvão Amaro da Silva. O MDB-2 lançou para Prefeito: Epitácio Vieira de Queiroga e o vice: Antônio Olímpio de Queiroga (Totô Olímpio). O outro lado, ou seja, A Arena-1 lançou para Prefeito: Francisco Juvenil de Assis e o vice: Paulo Pereira Vieira. A Arena-2 lançou para Prefeito: Jurandy Urtiga de Queiroga e o vice: Inácio Pereira da Silva.
A eleição transcorreu num verdadeiro clima de festa cívica, salvo alguns discursos contundentes e as paródias políticas. A nossa família era toda avelinista de corpo e alma, não perdia nenhum comício. O Dr. Avelino, quando ia comprar a carne no açougue público, passava no Barraco de meu pai e logo avisava: __ compadre Biró, - hoje tem comício. Lembramo-nos de que eu e meu irmão éramos adolescentes, a nossa mãe não deixava ir ao comício, alegando que comício era somente para adulto e eleitor. À tardinha já éramos avisados da proibição. Na hora da saída para o comício, fechava a casa na rua: Manoel Cachoeira e levava a chave da porta. Nós fugíamos pela janela da cozinha, pulando o muro e íamos ao comício. Antes de o comício terminar, nós voltávamos fazendo o mesmo percurso da ida. Quando todos chegavam, nós fingíamos que estávamos dormindo, mas a nossa mãe adivinhava!
As músicas de sucesso daquela campanha eleitoral:
CASACA DE COURO –Uma paródia à MÚSICA DE JARCKSON DO PANDEIRO
Xô, xô, xô,
Casaca de couro
Paulo está couro
Paulo está no couro.

Passei pela usina
Vi um rato pendurado
Parecia com seu Paulo
Enfeitado de encarnado,
Dizendo para o povo
Eleitor estou lascado!

Repetia o refrão.

MAMÃE VOU SER SOLDADO DE ISRAEL – MÚSICA de Antônio Luiz.
A letra desta paródia mostrava a paixão desenfreada que o eleitor tinha pelo Dr. Avelino Elias de Queiroga e uma forma de gratidão aos serviços médicos prestados à população carente. Os adversários faziam suas passeatas e gritavam no meio da rua um para o outro: - OLHE O BURACO! Era uma crítica à administração municipal do Prefeito Avelino Elias de Queiroga. Pelo lado dos avelinistas faziam uma tremenda crítica ao período do Governo Estadual, João Agripino Filho, (governador de 31 de janeiro de 1966 a 15 de março de 1971) que à época da campanha eleitoral havia prometido água enganada, depois já Governador distribuiu silos, mas não deu a semente de feijão aos pobres e mantinha uma arrojada política de cobrança de impostos aos comerciantes que lhe eram adversários políticos, que se entendia como uma deslavada perseguição.
Doutor, eu vou
Vou cumprir minha obrigação
Vou votar com toda pobreza
E mostrar minha gratidão
Já que nós não temos água, Doutor,
Nós queremos é cacimbão.

Não adianta dinheiro
Nem os silos sem feijão.
Nós só temos com fartura, Doutor,
É o imposto em nossas mãos!
NÓS, OS CARECAS!
A letra da paródia foi uma exaltação a recomposição dos carecas (Dr. Avelino Elias de Queiroga e Dr. Atêncio Bezerra Wanderley) que se uniram e estavam no mesmo palanque eleitoral.
Emedebistas, nosso partido é o ideal
E na hora de votar
É dos carecas que elas gostam mais!
Mas, mais, mais!

Somos fortes e decididos
Não desprezamos nosso partido
Pra que dinheiro?
Não adianta gastar
Atêncio é quem vai governar
Vai, vai, vai!
MÚSICA PARA EPITÁCIO QUEIROGA – SUBLEGENDA
O nosso M.D.B.
Está lutando
Só pra vencer!
Se você é pombalense,
Será sua obrigação,
Só votar em Epitácio,
No dia da eleição!

Rapaz inteligente
E de grande ideal
Ficará na prefeitura
Na cidade de Pombal!
A apuração se dava na Sede Operária, à tardinha, saiu o resultado final. O espaço entre a Usina e a Sede Operária, o povo vibrava de euforia pela vitória obtida. O jipe do Dr. Avelino Elias de Queiroga, sem capota, encostado à escadaria do calçadão da sede, recebia em aplausos os líderes: Avelino Elias de Queiroga, Dep. Janduhy Carneiro e o prefeito eleito, Atêncio Bezerra Wanderley. Avelino pegou o microfone e falou a voz de comando de um líder:
__ A passeata siga em rumo ao meu querido bairro dos Pereiros.
A orquestra entoou os clarins da vitória. Todos aclamando entusiasticamente com as mãos levantadas fazendo o V da vitória.
A passeata passava pela Rua Nova estavam sentados na calçada da casa de Zé Maria as seguintes pessoas: Raphael Carneiro Arnaud, Geraldo Arnaud de Assis, Azuil Arruda de Assis, Hildo Arnaud de Assis, Chateaubriand Arnaud e outros que não nos lembramos. E no jipe, sem capota, vinham Janduhy Carneiro, Avelino Elias de Queiroga e Atêncio Bezerra Wanderley. O Dr. Janduhy Carneiro olhou para a calçada e de cima do jipe cumprimentou os seus parentes que tinham sido seus adversários. Um gesto de um grande democrático, o que foi realmente correspondido pelos familiares com os devidos cumprimentos de aceno de mãos.
Essa época podemos considerar que Dr. Avelino Elias de Queiroga estava no auge de sua liderança política no Município de Pombal, contando somente com o apoio extraordinário do Deputado Federal, Janduhy Carneiro, seu amigo fraterno, que não contou esforço para a sua imensurável solidariedade e fidelidade ao partido, vencendo a eleição municipal com uma maioria de 452 votos. Vejamos o resultado abaixo:
Atêncio Bezerra Wanderley
RESULTADO FORNECIDO PELO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL TRE – PB.
Nº Candidato Partido / Coligação Votação % Válidos Situação
MDB 4.395 Eleito
Atêncio Bezerra Wanderley
Vice Prefeito: Cristovão Amaro da Silva
46,65 %
ARENA1 3.991 Não Eleito
Francisco Juvenil de Assis
Vice Prefeito: Paulo Pereira Vieira
42,36 %
MDB2 542 Não Eleito
Epitácio Vieira de Queiroga
Vice Prefeito: Antônio Olímpio Queiroga
5,75 %
ARENA2 494 Não Eleito
Jurandy Urtiga de Queiroga
Vice Prefeito: Inácio Pereira da Silva
5,24 %
Votos Nulos 143
Votos Brancos 96
9.661
12.724
3.063 24,07 %
Legenda:
ARENA1 - Aliança Renovadora Nacional 1
MDB 1- Movimento Democrático Brasileiro
MDB2 - Movimento Democrático Brasileiro 2
ARENA2 - Aliança Renovadora Nacional 2 (Fonte: TRE-PB).
Com aclamação do resultado favorável, os avelinistas usando de ousadia e criatividade, que é uma característica do povo de Pombal, compuseram a “música da vitória”, fazendo uma paródia à marchinha de carnaval. Numa busca no you tube, localizamos a música de carnaval: “A Jardineira" é uma marchinha carnavalesca composta por Humberto Porto e Benedito Lacerda, em 1938, gravada por Orlando Silva no carnaval de 1939.
 “A Jardineira”, em forma de paródia, que abaixo transcrevemos:
Ô eleitor por que estás tão triste
Diz o que foi que aconteceu?

Foi ala garça que entrou pelo cano
Gastou dinheiro
E não venceu!                        Repetia o terceto.
Os garcianos devem saber:
Que aqui em Pombal
Pra ganhar a eleição
Tem que ser com Avelino
Sem falar mal criação!                       Repetia o quarteto.
É pura verdade, já não se faz política como antigamente.

João Pessoa, 15 de agosto de 2016.
*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa PB

ATÊNCIO BEZERRA – A VITÓRIA ATÊNCIO BEZERRA – A VITÓRIA Reviewed by Clemildo Brunet on 8/15/2016 09:23:00 AM Rating: 5

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