QUANDO A ARTE IMITA A VIDA
DOMINGUEIRA
Inaldo Leitão |
Por
Inaldo Leitão*
Vou
invocar Oscar Wilde: "A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a
vida." E inverter a assertiva, para afirmar que a arte imita a vida mais
do que o inverso - pelo menos nas hipóteses que vou mencionar a seguir.
Não sei se você já observou, mas é comum
que pessoas adotem os hábitos de outras pessoas. Isso acontece com frequência
entre chefes e subordinados. Tomemos como exemplo alguns Governadores da Paraíba e sua equipe de
auxiliares. Esse hábitos duram o tempo do governo e
depois permanecem. Ou não.
Wilson Braga (1983-1986), o tocador de
obras, era desbocado, informal e adepto do poder sem limites ("qual o
poder que não pode?", dizia-se à época). Os mais contidos secretários
assim passaram a se comportar. Braga deixou como marca do governo a realização
de muitas obras. Mas teve uma 'obra' que (acredito) ele jamais pensou em fazer:
tirar a vida de Paulo Brandão Cavalcanti. Coube a um de seus auxiliares tentar
calar a voz do Correio da Paraíba, na suposição de que estava agradando o
chefe.
Tarcísio Burity (1979-1982/1987-1991), o
intelectual, tocava piano, ouvia música clássica, não ingeria bebida alcóolica,
não fumava e era uma autoridade em filosofia do Direito. Os secretários
passaram a ouvir Bach, Vivaldi, Beethoven e alguns fizeram curso de piano.
Outros deixaram de beber e fumar. E ainda teve os da área jurídica que
enveredaram pela leitura da filosofia do Direito.
Ronaldo Cunha Lima (1990-1994), o
sorridente, tinha como companhia inseparável uma dose de Johnnie Walker Black
Label, fumava, contava piadas, cultivava a arte da poesia e fazia repente. Não
deu outra. Os secretários, antes abstêmios, não largavam uma garrafa de Black,
passaram a fumar, abriram o sorriso, descobriram sua veia poética e viraram
contadores de piadas.
Antônio Mariz (1995), o breve, era
contido no sorriso e na bebida e fumava inveteradamente. Secretários que nunca
fumaram aderiram ao cigarro e os que bebiam com frequência passaram a fazê-lo
moderadamente. Alguns confundiram a timidez de Mariz com chatice. Resolveram
trancar a cara e decretar o fim do próprio sorriso.
José Maranhão (1995-2002/2009-2010), o
austero, era obcecado por avião, não fumava, bebia socialmente e era
divorciado. Alguns secretários decidiram comprar livros sobre aviação,
reduziram o hábito de beber, largaram o cigarro e, acredite!, alguns resolveram
se divorciar.
Cássio Cunha Lima (2003-2009), o
incansável, alternava o humor: acordava Cunha Lima ou Rodrigues. Não exagerava
na bebida (só de vez em quando) e vivia brigando com ele próprio para não
fumar. Os secretários se acharam no direito de amanhecer bem humorados ou não -
dependia de como o chefe acordara. Seguiam o modelo etílico de Cássio e alguns
passaram a fumar no mesmo ritmo alternado: indo e voltando.
Ricardo Coutinho, o workaholic, adotou o
vinho como única bebida, tem a cara dura, o sorriso raro e não economiza um
esporro, público ou privado, quando um auxiliar não cumpre no tempo uma tarefa
delegada. Os secretários, antes tomadores de whisky ou cerveja, aderiram em
massa ao vinho (alguns se julgam sommeliers do chefe), aboliram o sorriso e
transportam o esporro que recebem do superior para os subordinados.
P.S.: alguns outros hábitos não foram
revelados aqui.
*Inaldo Leitão: Jurista, ex-Deputado
Federal e ex-Secretário de Estado
Extraído da rede
social Facebook
QUANDO A ARTE IMITA A VIDA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/30/2016 07:01:00 AM
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