Presidente João Pessoas...x..Adv. João Dantas../..Anayde Beiriz...x..Revolução de 1930.. Anayde Beiriz “olhos de pantera dormente”
Lidiana Justo |
Por:
Lidiana Justo*
Ao longo da história, vemos surgir
grandes vultos femininos que deixaram seu legado de luta, de ruptura, de
desafios à moral machista e burguesa. Seja na luta pelo voto feminino, num
corte de cabelo, no uso de uma mini-saia ou por recusar-se a não se casar, ter
filhos, enfim, atitudes aparentemente simples, mas que repercutiram no tempo
delas.
Anayde Beiriz nasceu na Parahyba, no dia
18 de fevereiro de 1905. Terminou seus estudos na Escola Normal, e participou
em 1925 de um concurso de beleza patrocinado pelo Correio da Manhã. Lecionou em
Cabedelo numa aldeia de pescadores.
Foi uma mulher que quebrou tabus na
provinciana cidade parahybana, professora, poetisa, uma mente brilhante e
inquieta. Usava cabelos curtos a La garçonne, pintava suas madeixas,usava batom
fumava, numa época em que as mulheres de recato não podiam sair às ruas, ela
ousava e
Possuía idéias progressistas para época,
estava sempre envolvida em saraus literários, além disso, defendia o voto
feminino
Não se prendia a convenções. No que
tange aos relacionamentos amorosos, teve um caso de amor nada convencional em
1928, com João Dantas, advogado e jornalista, que criticava a atuação de João
Pessoa, então governador da Parahyba em seus escritos, e que era simpático ao
coronel José Pereira de Princesa Isabel.
Veja o que ela escreveu sobre o
matrimônio, em pleno anos 20 ela utilizou-se de sua arguta criatividade,para criticar
a “escravidão” no lar:
““Nasci
Nasceu
Cresceu
Namorou
Noivou
Casou
Noite nupcial
As telhas viram tudo
Se as moças fossem telhas não se
casariam...”
Anayde teve sua vida marcada
tragicamente, por uma desavença política de seu amante, com o então governador
da Parahyba. A polícia do estado invadiu a casa de João Dantas em busca de
armas ou algo que o incriminasse, queimaram arquivos pessoais, destruíram
móveis e arrombaram um cofre, onde era guardada correspondências entre ele e
Anayde Beiriz.
Em mãos desse “achado”, o jornal do
estado, A UNIÃO, publicou nas páginas principais as cartas íntimas do casal, um
golpe baixo que manchou a reputação já questionada de Anayde Beiriz, sua vida
foi atingida em cheio por esse ato. Fora isso, o Jornal que pertencia ao
estado, vinha fazendo por seu turno, uma campanha para denegrir a imagem de
João Dantas.
Durante dias ficaram expostas as cartas
que envolviam amigos, clientes, parentes e fotografias íntimas do casal, aberto
ao público para visitações.
Inconformado, João Dantas com seu
orgulho ferido aproveitou-se da presença de seu inimigo, João Pessoa, em Recife
(ao que tudo indica, o mesmo foi encontrar-se com sua amante, a cantora lírica
Cristina Maristany, pois esteve na joalheria Krause, de acordo com historiadores
como Horácio de Almeida e Amarylio de Albuquerque) no dia 26 de julho (até hoje
comemoramos essa data, “a morte de João pessoa”), para o acerto de contas.
João Pessoa encontrava-se na
"Confeitaria Glória", na companhia de 3 amigos, João Dantas armado,
aproximou-se se apresentando: “Eu sou João Dantas”, e em seguida, disparou 3
tiros. Esse acontecimento repercutiu a nível nacional, pois o governador
compunha a chapa da AL, a vice presidência, sua morte foi utilizada como álibi
pela AL, para fazer a “revolução ”, que na verdade não foi revolução, e sim, um
rearranjo de oligarquias, episódica Revolução de 1930!!
A morte do governador acirrou os ânimos
na capital, comoção geral, luto, bandeiras vermelha e preta nas janelas das
casas.
João Dantas foi preso, e posteriormente
morto, sua morte até hoje é um mistério, foi encontrado degolado em sua cela,
mas paira uma dúvida no ar: Terá sido realmente suicídio? Pois existe uma
distância muito grande entre o real e o oficial.
Em meio a tudo isso, a nossa heroína
teve sua vida abalada em todos os sentidos. Profissionalmente, pois qual
família deixaria seus filhos em mãos de uma “indecente”? Seu nome durante muito
tempo sequer podia ser pronunciado.
Ela escapou de um apedrejamento, e
acabou refugiando-se no Asilo Bom Pastor, em Recife. Sua morte foi no dia 22 de
outubro, aos 25 anos de idade. Ela suicidou-se e foi sepultada no mesmo dia,
como indigente.
Mas aqui está a escrita da história,
dando-lhe a merecida homenagem ainda que morta, mas está em nossa memória, como
ícone de mulher guerreira e amante do amor.
Uma vida efêmera, com muitos
significados, viveu uma grande paixão, amou sem convenções, sem regras, um amor
livre, autônomo e intenso. Simplesmente e atrevidamente, Anayde Beiriz!!!
Numa época em que o sonho de toda moça
recatada, era ser uma esposa-mãe-dona-de casa, Anayde não se enquadrou nesse
segmento, era limitá-la demais.
Portanto, ela sim, uma revolucionária!!
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Referências bibliográficas:
Ribeiro, Flávio Eduardo Maroja. PARAHYBA
1930: A verdade omitida. João Pessoa: Sal da terra, 2008.
*Professora,
pesquisadora, historiadora, um ser pensante, em mutação, completamente
inacabada.
Presidente João Pessoas...x..Adv. João Dantas../..Anayde Beiriz...x..Revolução de 1930.. Anayde Beiriz “olhos de pantera dormente”
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/18/2016 11:16:00 AM
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