Inseparável monark
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Numa aurora inalcançável havia um menino
que acordava ao som do apito da Brasil Oiticica e logo que pulava da rede,
montava em sua Monark vermelha e pedalava pelo mundo dos sonhos. Subia e descia
ruas, calçadas e praças, sentindo em seu rosto o vento das primeiras aventuras.
Da casa dos avós, guiava sua bicicleta
para a Rua do Roque, onde parava na torrefação do Café Dácio. Pedia a bênção do
avô Antônio Rocha, ganhava umas moedas e seguia em seu roteiro. Passava pela
rua estreita e
De lá, o menino ia ao estúdio do Lord
Amplificador, difusoras que marcaram época, pois todos os dias ele ouvia aquele
sistema de comunicação acordar Pombal, com uma programação recheada de
propagandas, recados diversos e sob a égide do forró nostalgicamente
entardeciam o Sertão. A noite chegava, lá estava novamente o Lord falando com
seu povo, agora, suavemente.
Com sua bicicleta, o menino seguia até
bodega de Cazuza. Falava com Zé Valdo, comia uma mariola e saía rumo à Rua
Nova, parando na casa de Hildebrando. Conversa vai, conversa vem, descia até ao
armazém do seu Dantinha, onde o amigo Neudo sentado num tamborete, com uma bola
de futebol na mão, já escalava seu time para o jogo da tarde, no muro de dona
Raimunda.
Com sua inseparável bicicleta transitava
livre pelas veredas sertanejas. A cada esquina, descortinava um pedaço novo da
vida. O menino não sentia o tempo passar, pois tudo era belo e inocente. Mas se
foi o tempo-menino. Hoje adulto, os anos antigos só são vistos no crepúsculo de
uma lágrima alegre da memória, desenhada pela saudade de um eterno menino.
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito
onaldorqueiroga@gmail.com
Inseparável monark
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/18/2016 04:24:00 PM
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