O QUE PEDRO TEM QUE TELMA NÃO TEM?
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Aécio Cândido |
Aécio
Cândido*
Há milhares de motivos para se votar em
alguém. Há a mesma quantidade de razões para não se votar. De todos os motivos
possíveis, um será determinante. Ou dois. Dificilmente três. E este tipo de
comportamento, digamos epistemológico, é democrático, comanda as decisões
eleitorais de intelectuais e de analfabetos.
Há gente que dá preferência a um
candidato porque ele é simpático, outro porque é honesto, outro, ainda, porque
o acha empreendedor. Ter “bom coração” angaria votos, assim como ser
“corajoso”. Inteligente, bem relacionado, inovador, sensível ao ensino e
Muita gente acha que voto é uma questão
de gosto. E gosto não se discute, certo? Errado. Gosto se discute, sim. Pela
simples razão de que eles se formam, ninguém nasce com eles. Na comunidade
acadêmica, cada um tem seu ponto de vista formado a respeito das atribuições do
reitor e das qualidades necessárias ao postulante para que o cargo case bem com
a pessoa. Além do seu gosto pessoal, claro, de suas simpatias e antipatias, e
de suas afinidades ideológicas. Nada disso, lógico, é garantia de boa escolha.
É preciso questionar as atribuições idealizadas e as qualidades atribuídas. Há
quem ache que uma atribuição fundamental do(a) reitor(a) é “brigar com o
governo”. Acho estranha a concepção. Mas cabeça pensa o que quer: Trump acha
que governar os Estados Unidos é brigar com o resto do mundo.
Minha qualidade definidora do voto é
aquilo que muita gente chama de “capacidade de aprender”. Esta foi sempre uma
qualidade essencial ao ser humano, desde Sócrates, e mais ainda hoje, quando se
diz que vivemos numa “sociedade líquida”. O possuidor dessa capacidade revela,
ao possuí-la, outros atributos fundamentais a todo ser humano, sobretudo
àqueles que fazem do trabalho com o intelecto uma profissão. Só está aberto ao
aprendizado permanente quem humildemente reconhece suas limitações, valoriza a
escuta e respeita o interlocutor. O aprendizado permanente requer inteligência,
para compreender, e disposição para reelaborar conceitos e refazer
compreensões.
Isto eu acho que Pedro Fernandes tem de
sobra. E acho que falta em Telma Gurgel, apesar de seus títulos acadêmicos.
Porque a “capacidade de aprender” vai além da capacidade de absorver mensagens.
Ela é mais sutil e se expressa na forma de tratar a mensagem, de lidar com ela.
Quem aprende, de fato, quem se apropria do que aprende, é capaz de transformar
o conhecimento em sabedoria.
Alguns episódios na vida de Telma me
autorizam esta conclusão negativa: falta-lhe capacidade de aprendizado. Alguns
episódios na vida de Pedro me autorizam a conclusão inversa.
Um desses episódios: em meados dos anos
1990, Telma fez uma viagem a Europa, passando pela Holanda (acho que de retorno
da China). De volta a Mossoró, deu uma longa entrevista à Rádio Rural, falando
sobre a viagem. Acompanhei a entrevista pelo rádio e fiquei espantado. E o
espanto dura até hoje: tudo que ela enxergou nas ruas holandesas foi a luta de
classes, e somente a luta de classes. Nenhuma observação sobre o modo de vida
do povo, nenhuma informação sobre a arquitetura e a organização espacial da
cidade, sobre o funcionamento dos serviços públicos, enfim, sobre o jeito de
ser da cidade (acho que Amsterdã), apenas a luta de classe, presente em cada
esquina. As sociedades da Europa ocidental certamente têm seus conflitos e suas
exclusões, mas eles não são tão escancarados a ponto de serem visíveis a
qualquer olho estrangeiro. É difícil reconhecer um pobre na Europa. Ela
reconheceu todos com quem cruzou. Pra mim, este é um exemplo típico de
aprisionamento do raciocínio por um paradigma - ela viu o que desejou
ardentemente ver: que em qualquer país capitalista a desigualdade social é uma
só. Eu poderia ter apagado da memória esta lembrança negativa. Infelizmente, a
ela se somaram outras.
Diretora da FASSO, Telma estimulou as
alunas, durante uma greve, a retirarem as carteiras das salas de aula e a
colocá-las do lado de fora, sujeitas ao sol, à poeira e a possível chuva, como
estratégia para forçar a adesão ao movimento. Nesse mesmo período, seguidamente
fez campanha, junto às alunas, contra o ENADE, defendendo o boicote à
avaliação. Considero esses gestos irresponsáveis. Por que? Porque, como
diretora, ela estava obrigada, por força do Estatuto e do Regimento da UERN, a
zelar pelo patrimônio de sua faculdade. Ou estes são documentos institucionais
ilegítimos e ditatoriais, que só merecem o desprezo de uma santa desobediência
civil? O caso do ENADE expressa uma ética confusa, pra não dizer cínica: como
eu, já com a vida arrumada, com renda fixa e emprego estável, posso incentivar
jovens a atentarem contra seu próprio futuro? O risco que as alunas corriam, de
comprometerem o futuro, a professora Telma não corria. Não é moralmente
defensável expor alguém a um perigo que não me atinge.
Com Pedro é diferente. Diretor de
Pesquisa na PROPEG, lembro-me do entusiasmo de Carlos Ruiz com o trabalho
desenvolvido por ele. Carlos louvava sua disposição para o trabalho, sua
capacidade de aprender e de ousar, sua habilidade em resolver conflitos, em
aplainar diferenças e a grande reserva de paciência de que dispunha para
percorrer com bom humor corredores e salas de espera em Natal e em Brasília.
Mas eu próprio fui testemunha, em viagens com ele, dessas capacidades.
Impressionou-me, num dos debates da campanha passada, sua agilidade mental e
seu grau de conhecimento dos assuntos da UERN, seu manejo dos números do
orçamento, sua compreensão clara e larga das diretrizes pedagógicas e
organizacionais da Instituição. Não é sem razão que reitores de importantes
universidades, do Ceará e do Rio Grande do Norte, têm lhe prestado apoio. Eles
o conhecem de perto, dos contatos do trabalho conjunto, e estes são uma forma
bem segura de conhecer alguém.
Uma das desgraças que assolam hoje o
país é o acirramento das visões sectárias, de todos os matizes ideológicos.
Pedro está livre disso. Sua visão de mundo é ampla e, dono de uma personalidade
agregadora, dialoga com facilidade com todos os setores que mantêm relações com
a UERN, da comunidade interna ao governo do Estado e Federal.
Eu votaria em Pedro, se votasse. Com o
mesmo prazer com que já votei.
Em tempo, pra quem acha que esta é uma
informação importante: desde os 20 anos considero-me uma pessoa de esquerda.
Continuo achando, como princípio geral, que o Estado deve cuidar dos
socialmente mais fracos, que o mercado não pode ser visto como um ente
soberano, acima da sociedade, etc. Por outro lado, tenho um enorme apreço pelos
fatos, pelo aprendizado que eles proporcionam e pelas correções que podem
imprimir à teoria. O que me leva a concordar com os liberais quando asseguram
que não existe almoço grátis.
Por fim: é muito triste, acho a vida de
quem não aprende nada com ela. Aprender com a vida é a única vantagem de envelhecer.
E traz uma alegria imensa.
*Aécio Cândido.
Professor aposentado da UERN. Ex-Vice-Reitor. Um intelectual de primeira
grandeza.
O QUE PEDRO TEM QUE TELMA NÃO TEM?
Reviewed by Clemildo Brunet
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3/24/2017 08:54:00 AM
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