Goma de mandioca: importante produto incorporado à culinária nacional, fruto dos avanços tecnológicos implementados pelos colonizadores portugueses
J. Romero Araújo Cardoso |
José
Romero Araújo Cardoso*
Quando aportaram em costas brasileiras,
os colonizadores portugueses começaram a observar que um dos suportes da
alimentação indígena era a farinha obtida com o rudimentar beneficiamento da
mandioca.
O
processo de obtenção da farinha da mandioca era extremamente simples e pouco
sofisticado, constando da imersão das raízes em água, para amolecer, as quais
posteriormente eram raladas em pedras ou no arenito.
Para liberar o potente Ácido Cianídrico
presente nas raízes da planta, a qual provavelmente é originária do Brasil, os
indígenas inventaram um artefato que deram o nome de tipiti, o qual tinha por
função espremer a manipueira rica em ácido, evitando intoxicações nas tribos.
A fim de dinamizar a produção de farinha
de mandioca, os colonizadores introduziram equipamentos que revolucionaram o
processo de obtenção do produto herdado da cultura indígena, tendo em vista que
há mais de quatro mil anos os nativos brasileiros dedicavam-se à rudimentar
produção do que fez parte de forma indelével da culinária nacional nos dias de
hoje.
A
invenção de diversas bolandeiras, primeiro à tração humana, depois animal e
culminando nas movidas a óleo diesel e a eletricidade, também foram
responsáveis pela exponencialização da produção de farinha de mandioca.
O caititu e a prensa foram os dois
equipamentos que impulsionaram a produção de farinha de mandiocas, bem como de
beijus, resultando, através da observação empírica, no aproveitamento da fécula
despejada em gamelas colocadas abaixo das prensas.
A introdução do caititu, um cilindro de
metal dotado de hastes de aço em seu exterior, permitiu que a mandioca fosse
ralada com maior velocidade e precisão, aumentando extraordinariamente a
produção de farinha e, atendendo assim, a dinâmica da demanda pelo produto que
em determinado tempo tornou-se símbolo do semiárido brasileiro.
A compactação fenomenal, cuja pressão
faz escorrer o líquido leitoso riquíssimo em ácido cianídrico, deposita uma
massa fina que ficou conhecida por goma, a qual, tendo em vista que o ácido cianídrico
é volátil a altas temperaturas, depois
de submetida ao fogo, a fim de liberar quantidades ácidas exorbitantes, é a
matéria-prima para a produção de tapiocas,
as quais, juntamente com os beijus, transformaram-se no pão de cada dia
de boa parte da população das zonas ermas e esquecidas do Nordeste Brasileiro,
bem como de outras áreas marcadas pela presença de Casas de Farinha marcando a
formação das paisagens humanas.
Prato sofisticado e bastante requisitado
em Restaurantes e outros ambientes especializados em comida regional,
espalhados em inúmeras cidades pelo Brasil, a tapioca passou e vem passando por
inovações consideráveis, principalmente no que tange à oferta de múltiplos
recheios à disposição dos consumidores.
*José
Romero Araújo Cardoso. Geógrafo (UFPB). Escritor. Professor-adjunto do
Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da
Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e
Gestão Territorial (UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em
Desenvolvimento e Meio Ambiente (UERN). Membro do Instituto Cultural do Oeste
Potiguar (ICOP), da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e da
Associação do Escritores Mossoroenses (ASCRIM)
Goma de mandioca: importante produto incorporado à culinária nacional, fruto dos avanços tecnológicos implementados pelos colonizadores portugueses
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/21/2017 06:02:00 AM
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