Histórias dos Cabarés de POMBAL
DE
FREJO A ROI COURO: EU ESTIVE LÁ E VOCÊ?
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Jerdivan Nóbrega de Araújo*
A maioria dos cabarés de cidades do
interior foi localizado depois da “linha do trem”: em Pombal essa regra não foi
diferente. A ideia era aproveitar os caixeiros viajantes que vinham de trem (a
estação de Pombal foi inaugurada em 1932) a cidade, oferecendo a estes um lugar
para o divertimento, e quanto mais próximo da estação de trem mais fácil seria
atrai-los.
Com a passagem da rede férrea,
esperava-se que a cidade tomasse um impulso, recebendo comerciantes
interessados em se instalar por aqui. Para tanto, era preciso esconder a sua
miséria, tangendo os desassistidos para as periferias. Assim foi criado o
Código de Postura Municipal em 1936 através do qual a cidade passou por algumas
transformações estruturais.
As casas do centro, não apenas as mais
humildes eram mal planejadas, conjugadas entre si, e sem janelas laterais, o
que prejudicava a ventilação, contribuindo para a proliferação de doenças: foi
o que escreveram no Código de Postura.
As edificações que fugiam aos padrões
estabelecidos pelo Código de Postura, as quais os proprietários não tinham
condições financeiras para reformá-las, foram demolidas mediante a indenização.
Outros proprietários preferiram vendê-las, cedendo os terrenos aos mais
afortunadas, surgindo nos locais casas modernas com mais janelas e melhor
ventilação.
Os antigos proprietários fugiram para as
periferias, formando um anel de pobreza em torno da cidade, onde
inevitavelmente surgiram os bares, casas de jogos e de prostituição.
Nesse período já existiam na cidade
alguns bares que funcionavam como bordéis, de forma discreta, além de casas de
prostituição situadas em locais isolados da periferia, isso antes da passagem
da linha férrea, a exemplo da Casa de Recurso de Zé Vitalino, que abriu o seu
cabaré em mil novecentos e trinta, fechando em mil novecentos e quarenta e
sete. Ele antecedeu Love no Casarão da Rua da Rodagem. Love explorou essa
atividade no Casarão de mil novecentos e quarenta e sete até mil novecentos e
setenta e três.
Havia ainda os cabarés de Mulherzinha, o
de Mocinha e o de dona Dodóia.
Com a inauguração da Estação
Ferroviária, que passou a ser o principal local de encontro dos jovens da
cidade, as casas de prostituições se concentraram mais próximos da rede férrea,
com atrações como forró ao vivo e cassinos.
Os seus proprietários passaram a
utilizar o trem para recrutar prostitutas de outras regiões, como Crato,
Campina Grande e até de Fortaleza, para melhor atender aos caixeiros viajantes
que pernoitavam na cidade, vindos nos trens para negociar em Pombal.
O Bairro dos Pereiros, que já existia
antes da instalação da linha do trem, era habitado por famílias de operários
que, muito embora sofressem preconceitos por residirem nos limites dos cabarés,
não tinham nenhuma relação com aquele ambiente.
Depois da seca de mil setecentos e
setenta e sete, a cidade foi acometida por uma epidemia do cólera-morbo,
vitimando centenas de almas, ao ponto de ser necessário construir um cemitério
somente para sepultarem as pessoas vitimadas pela terrível epidemia, que para
ali eram levadas em redes, e enterradas em covas rasas, sem cerimoniais ou
quaisquer rituais cristãos, o que lhes valeu o nome de Cemitério do Cólera.
As terras daqueles arredores do
Cemitério do Cólera eram consideradas malditas e foram completamente
abandonadas, já que ninguém se atrevia a violar os escombros, temendo novo
surto epidêmico ou, como muitos diziam, por ser um lugar amaldiçoado e de
aparições de assombrações. Mas, para quem não tinha onde cair morto, pouco
essas histórias lhes interessavam ou lhes amedrontavam. Foi nessas terras
insalubres que surgiram os pequenos casebres, que aos poucos se transformaram
em casa de recurso, surgindo na sua periferia os cabarés, casas de jogos e
bares. Aos poucos, a área mais além do Bairro dos Pereiros passou a ser definida
e delimitada como Rua dos Cabarés e, mais tarde, de Rua do Rói-Couro.
Antes da decadência os principais
cabarés de Pombal foram os seguintes: Cabaré de Maria do Menino, Cabaré Nega de
Côca, Cabaré Mulherzinha, Cabaré Mocinha, Cabaré Dodóia, Tiquinha, Cabaré
Palmira, Cabaré de Nomemi Cabaré Chico Novo, Cabaré de Love e Cabaré de Anaia .
Nos dias atuais ainda resiste o Cabaré das Casa dos SSolteiros , Cabaré bar das
Meninas e o Bataclan.
A denominação Cabaré não era muito
utilizada na cidade de Pombal. O nosso povo costumava denominar os bares do
baixo meretrício de “Frejo”.
Porém a denominação de “ROI-COURO para
cabaré teve origem em nossa cidade, isso na década de 1960.
O batismo foi do Zé Bezerra, bancário
escritor autor do livro que deu origem ao filme “Fogo, o Salário da Morte”. Era
comum na década de 1960, os frequentadores do “frejo” serem acometidos de
doenças venéreas. Dizia-se que muitos deles tinham o couro do pênis corroído de
tantas doenças. Dai a associação do lugar ao “ROI-COURO” que é a junção de
“roer” mais “couro”
Sabendo que filólogo Aurelio Buarque de
Holanda estava prospectando palavras novas para a atualização do seu famoso
dicionário, Ze Bezerra, inquieto que era, enviou para o professor o neologismo
“RÓI COURO”, que passou a constar no “Aurélio” da seguinte maneira:
“Rói-couro na definição do Dicionário
Aurélio
Rói-couro: De roer + couro; var. de
rói-coiro) S. m. Bras., PB. Pop. Rua ou bairro onde se localiza o meretrício;
zona (Pl.: rói-couros)”
E esse um resumo da história do rói -
couro de Pombal
*Escritor e pesquisador
pombalense
Histórias dos Cabarés de POMBAL
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/05/2018 07:48:00 PM
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