ÉTICA PRIVADA

Severino Coelho Viana

Por Severino Coelho Viana*

A nossa lógica toma por base para dissertar sobre o tema da ética privada a democracia, símbolo do pleno exercício da cidadania, evidentemente respeitando-se os limites da lei.

Ante esta situação de vivência pessoal e comportamento social, inicialmente, cabe-nos fazer uma ligeira distinção entre ética e moral. Pois bem! A ética são as regras de conduta aplicadas a alguma organização, sociedade ou grupo social para definir sobre o certo e o errado, e, geralmente, ela é explicitada em uma norma do direito positivo. Enquanto que a moral se refere aos princípios de comportamento sobre certo ou errado, porém definido por cada indivíduo no campo da subjetividade.

Na verdade não existe um padrão retilíneo do que seja o exercício regular do viver no âmbito da ética privada, uma vez que a forma de pensar e agir diferencia de pessoa para pessoa, quando no campo existencial cada ser traz consigo o que fora assimilado individualmente no âmbito filosófico, religioso, ideologia política, fator cultural, comportamento social, orientação sexual, atitude grupal, vivência familiar e tirocínio intelectual.

A arte do viver e estar de bem consigo mesmo só diz respeito a cada pessoa e ninguém tem o direito de impor regras de conduta baseado tão só na individualidade subjetiva e tente mostrar que o seu viver é o ideal para todos. Neste caso, nós não viveríamos num democracia, mas no absolutismo.

Analisemos um pouco a história da humanidade e captamos que, desde a antiguidade, os filósofos, pensadores natos, líderes religiosos tentaram compreender os princípios e os valores de uma sociedade e como estes princípios aconteciam no dia-a-dia. A ética, a moral, o caráter, a personalidade, o direito, a liberdade, a educação sempre mereceram considerações particulares dos grandes pensadores universais. E esta análise comportamental ocorreu em distintas épocas e refletiram sobre a ética: os pré-socráticos, os sofistas, Sócrates, Platão, Aristóteles, os estoicos, Kant, Spinoza, Nietzsche, dentre outros, cujo fim seria o alcance da justiça social.

A ética, por si só, busca o alcance de preceitos sociais e maneiras virtuosas de vivência, ou seja, é a arte do viver bem, o dever do bem, a vontade de agir pelo dever e pelo bem de todos. É o alcance da aclamada JUSTIÇA!

Por isso, a dignidade, a ética e a moral andam de mãos dadas, no individual e no universal; na sociedade e na política; no público e no privado.

A dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos contidos na nossa norma Constitucional, e, um povo digno não aceita as teses de ‘levar vantagem em tudo’, ‘dar um jeitinho’ ‘o oferecer qualquer coisa para conseguir isso’. A nosso sentir, essas máximas que soam mínimas das vantagens e do jeitinho brasileiro são produtos antigos, com data de validade vencida, daquele tempo do povo colonizado. A nossa sociedade moderna exige igualdade, respeito, solidariedade, direitos e deveres, ética, moral, liberdade e uma educação de qualidade.

De outra ponta, as mudanças na busca do ridículo se projetaram de tal forma que falta seriedade nas questões relativas à ética, a desconfiança passou a ser uma regra geral, ninguém confia em ninguém. Todos estão achando que o outro está pronto a lesar, a puxar o tapete, a enganar e não ser enganado; a levar vantagem em tudo e pensar unicamente em si próprio. O fingimento e a hipocrisia dominam. O probo é chamado de trouxa, de almofadinha, todo direitinho e incapaz de se aproveitar das oportunidades que levam ao sucesso e à riqueza.

Observando-se por outro ângulo, percebemos que a dignidade da pessoa humana está acima de qualquer preço e não pode ser comprada ou trocada por coisa parecida.

Nosso artigo anterior nós falamos sobre a Ética Pública. E agora dissertamos sobre o que seja Ética Privada, pois, assim, concebemos que o ponto de equilíbrio é a tolerância, ou seja, é o ponto fundamental para o fator de divisor entre a ética pública e a ética privada consistente no respeito mútuo.

Ser tolerante é entender que cada um tem a sua própria identidade, o seu próprio caminho e maneira de pensar para achar uma solução.

Imaginemos que o tolerante fique no lugar de dois motoristas que dirigem na mesma estrada contanto em posições diferentes, logo ele vai entender que cada motorista chegará ao lugar desejado, e, talvez, encontre os mesmo empecilhos e supere os mesmos obstáculos, mas cada uma na sua posição diferente que o levará ao caminho que escolheu. Portanto, compreender a escolha e a atitude de cada um, esta é a missão sensata do tolerante.

Não queremos dizer que ser tolerante seja fazer a mesma coisa que uma pessoa está fazendo, se for assim, logo se verifica que a outra pessoa está agindo e pensando por você. Podemos e devemos tolerar os outros e suas ações, todavia isso não quer dizer que para concordar seja preciso fazer o que ele(a) faz. Para demonstrar que você está sendo tolerante, você pode respeitar, por exemplo, a escolha de alguém que fuma e conversar com essa pessoa, ou até uma convivência normal, sem ter de apegar-se ao vício do fumo.

Uma perguntinha muito interessante que não quer calar, por exemplo, nós devemos ser tolerante com uma pessoa que fala da vida alheia, vive fazendo fofoca, acorda para fazer fuxico e vive de mexerico? A resposta é bem simples: a pessoa que fala da vida alheia, vive de fofoca e faz fuxico com todo mundo, esta pessoa NÃO É ETICA! Se falta o principal como podemos entregar o acessório!

A tolerância é qualidade e virtude necessárias para qualquer ser humano, tanto para o que tolera, como para quem é tolerado nas atitudes e opiniões. O grande mal é aquela pessoa que vive balbuciando os versículos da Bíblia que falam do amor ao próximo e o seu olhar está cobiçando o laço da cabeça da mulher que está sentada no banco da frente da Igreja.

Nós não vemos outro caminho para o encontro triunfal da ética privada basta nós encontrarmos e vivermos no estado de tolerância!

João Pessoa – PB, 26 de março de 2018.

*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa - PB

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