Locaute, a cólera; o ressentimento são ferramentas do parto fórceps do que sacode a Nação
João Costa |
João
Costa*
O locaute promovido pelos setores de
transporte de cargas que paralisa o país e prenuncia abalos sísmicos futuros é
o retrato mais fiel da nossa realidade. Os “caminhoneiros” prenunciam o
apocalipse que nos aguarda através de uma greve política de fundo essencialmente
econômico. Política porque não tem há solução à vista sem a derrubada do
governo Temer – ilegítimo desde a sua origem, e econômica porque pretende
extinguir esse modelo perverso, proposital, de indexação dos preços de
combustíveis para atender interesses internacionais.
O títere que ocupa o Palácio do
Planalto, propositadamente – uns acham que por incompetência - , aposta no
caos: não apresenta solução para a crise, ao mesmo tempo em que se esconde o
uso das Forças Armadas, claramente apostando no recrudescimento e na previsível
suspensão das eleições de outubro.
Sete governadores da região da SUDENE,
já entenderam a senha, pois os estados que governam serão os mais atingidos
pela redução de impostos sobres os combustíveis e prejudicados pelo mimo que o
governo do Golpe quer dar aos empresários donos das transportadores: subsídio
ao diesel. Mimo este que deverá ser coberto pelos preços altíssimos da gasolina
e do gás de cozinha.
Isto define rasteiramente o locaute.
O momento político desnuda a cólera que
domina o sentimento da população e é visível como um surto de esquizofrenia
coletiva. Até porque a situação que vivemos é mesmo surreal. A estupidez aflora
no ódio aos políticos, como se existisse solução fora da política. Daí a
insanidade estampada em faixas nos caminhões pedindo “intervenção militar” que,
se ocorrer, apenas ressaltará o estado medieval da sociedade.
O país segue economicamente a passos da
lesma reumática, ao tempo em que o ressentimento da classe média que se
proletariza, a embrutece afogada em ódio por conta da ignorância, inclusive
cultural. Se colocássemos numa mesma cena de teatro imagens de um juiz dando
carteirada em beira de estrada do Sertão paraibano como se capitão-do-mato
fosse; um caminhoneiro dando passinhos eróticos à beira da estrada e diálogos
de donas-de-casa nas filas de supermercados ainda abastecidos, teríamos um
clássico da nossa ópera-bufa.
Os “idos de junho” de 2013 enfrentados pela presidente
Dilma, promete repetir-se agora sob o comando do títere e com tropas militares
nas ruas. Não custa lembrar que depois de atravessar o Rubicão, militares
custam a voltar para caserna; sabem do custo moral de uma derrota, pois não há
vitória digna desse nome quando se enfrenta a população civil desarmada, e a
serviços de interesses estrangeiros que nocauteiam a soberania nacional.
“A esperança não é causa da ação. Pode-se agir
por várias razões, inclusive cólera, indignação, ressentimentos, mas mediante a
ação”, diz o filósofo Roberto Mangabeira Unger, que já foi ministro e
conselheiro dos governos Lula e Dilma Rousssef e, no presente momento, ajuda a
elaborar o programa de governo do pré-candidato Ciro Governo a presidente do
Brasil, se tivermos eleições – é claro.
Desnorteadas estão as forças de
esquerdas. Presentemente teimam em demonizar
a categoria dos caminhoneiros por conta do seu primitivismo político e
por terem sido atores principais na derrubada do governo do PT. É um erro.
Esse locaute vai render ganhos para os
barões do transporte de carga. Mas é bom não esquecer que nesta companhia,
existem os caminhoneiros “autônomos”. São “tropeiros” donos de seus cavalos
mecânicos que se oferecem às indústrias e ao comércio para o transporte fechado
de um lado a outro do Brasil, correndo riscos, enfrentando o imponderável na
infernal e precária infraestrutura de logística e estão endividados.
São trabalhadores que recebem por
viagem, cumprem prazos loucos, devem à financeiras e o que faturam apenas os
mantém na roda-viva. Estes não podem nem merecem ser demonizados, embora
estejam atrelados e dependentes dos barões do setor – estes sim uma ameaça à
democracia.
A todo indignação moral neste momento
parece e é hipócrita – pois a sociedade brasileira, embora reivindique ser
pudica, jamais conquistou nada ao longo de sua história, e seus avanços
resultaram e ainda resultam de negociatas dignas de bordel, movidas por
corrupção e poucas untadas em sangue patriótico.
E qual a solução?
Não há. Pois o que começou em junho de 2013
não acabou e o sangue ainda esguichou nas calçadas!
*João Costa é
Radialista, Jornalista e Diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Locaute, a cólera; o ressentimento são ferramentas do parto fórceps do que sacode a Nação
Reviewed by Clemildo Brunet
on
5/27/2018 05:14:00 AM
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