Rebelião tributária, a “solução final”, a Arca de Noé e a sepse social grave batem à porta
João Costa |
João
Costa*
A greve dos caminhoneiros ou locaute dos
empresários de transportadoras – como queiram – é, para uns, um misto de
rebelião difusa e tributária, expondo câncer metástase corroendo a nação que
prenuncia a cura através de uma “Intervenção Militar”; os neofascistas
acreditam ser a “Solução Final”; para a maioria de néscios apoiadores, a tal
Intervenção se apresenta como a “Arca de Noé” que arrebatará o povo bom, pacato,
temente aos deuses; do bem e de bem, pois estes justos estariam seguros na Arca
capitaneada por um Noé de coturnos.
“Solução Final” nos moldes pensados pelo
nacional-socialismo do Cabo Adolfo. É o que pede essa gente que também
participa de “marchas para Jesus” sem dar uma olhada para aqueles que dormem na
calçada; as imagens que assistimos mostram as faces medievais fazendo selfies
com seus smartfones de última geração. Os que dormem nas calçadas podem descer
delas, e não há relatos de que as marchas encontrem Jesus.
Aqueles que vomitam por uma Intervenção
Militar, certamente acreditam ser as forças armadas uma carta na manga contra aquilo
que eles definem como o mal, ainda que uma carta sangrenta para ser jogada
contra civis desarmados – e que antes do último ato dessa tragédia, podem se
armar. Essas vivandeiras de quartel esquecem que o Brasil hoje, apesar de ser
apenas produtor e exportador de commodities e de espírito de colonizado
assumido, sua população não é mais rural.
A situação no Rio de Janeiro é
emblemática, uma miniatura de um país prestes à conflagração. O Rio hoje é
governado por bispos da Igreja Universal, gerenciado na prática pelo tráfico, e
os cidadãos comuns seguem orientação das milícias. Soldados do Exército
patrulham vielas, becos, alagados, morros e favelas revistando homens e
mulheres negras, como também mochilas de crianças. Os políticos corruptos estão
presos, mas a corrupção segue sem eles na cidade. Muitos
chamam apropriadamente de “intervenção tabajara”.
A mídia criminalizou a política de tal
forma nas últimas décadas que milhões acreditam que a solução só se dará por um
viés de coturnos e não politicamente via partidos com assentos no Congresso,
nas Assembleias e Câmaras. É certo que o universo político brasileiro hoje é de
criminosos, mas porque assim nós construímos a política. O povo não é vítima –
é cúmplice da sua tragédia.
O crime conduz a humanidade, política é
a decisão de apertar o gatilho.
Os que acreditam na Intervenção Militar
como a Arca de Noé, me fazem lembrar do profeta Roldão Mangueira, pregando em
Campina Grande o fim do mundo para maio de 1980, por força de um dilúvio que
não veio. Os “Borboletas Azuis” de hoje são de classe média pra baixo,
estocando comida e botijões de gás.
Há cinco anos desfrutaram das
oportunidades de consumo, apostaram na possibilidade do próprio crescimento,
compraram carros e apartamentos financiados e hoje, dois após o Golpe, muitos exercem a profissão de chofer,
que atende pelo charmoso nome de Uber.
Os caminhoneiros são apenas cavaleiros
do Apocalipse. O ato de revelar o que está oculto de João, talvez se aplique à
nossa realidade, pois vivemos de abalos sísmicos cíclicos, mas tendo a certeza
que ao longo de sua história, o povo brasileiro não pode se gabar de ter obtido
nenhuma conquista através de luta alguma – tudo que temos foram resultados de
concessões.
Deixem a pedra rolar na ribanceira –
Sepse social grave!
*João Costa é
Radialista, Jornalista e Diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Rebelião tributária, a “solução final”, a Arca de Noé e a sepse social grave batem à porta
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/05/2018 05:34:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário