Areia no Coturno do Capitão
Genival Torres
Dantas*
Passei
por vários planos econômicos, alguns governos e sistemas que se sucederam todos
com a demagogia de sempre, promessas tiradas do arco da velha, tramadas na
bacia das almas, modelos rebuscadas no cafundó do Judas e foram parar na baixa
da égua. Não fora o meu aspecto físico e o avançado da idade diria que no
espaço entre os anos de 1950 até os dias atuais tudo não passava de pesadelos,
devaneios, dos sonhos sonhados e desejos descartados.
As
pessoas não têm mais primado pela tolerância e bem estar tanto delas como seus
pares, há uma intolerância mundial. Os números têm nos mostrado o quanto
decrescemos nas últimas décadas, considerando vários aspectos, mas,
primordialmente como gente, parceiros, companheiros e tantas formas diferentes
que temos de comensurar nossos valores. Existe uma preocupação obsessiva em
formar uma condição material, portanto subjetiva, nem que para esse intento
tenhamos que relevar o segundo plano, outros valores até de maior relevância
para a formação do caráter e a sobrevivência no atual estágio de vida.
Observamos
que a vida, efetivamente, só tem o seu real valor quando não temos a
necessidade de termos pressa para acabarmos nossas tarefas, nossos estudos, a
nossa aula, nosso dia, e que a noite passe rapidamente para muito mais rápido o
sol se levanta para apressadamente corremos em busca de novas tarefas, uma
verdadeira cruzada contra o tempo. Esse mesmo tempo que não temos tempo de
espera-lo, na sombra de uma árvore, no banco de uma praça, ou mesmo na mesa de
um café, enquanto lemos as notícias, pois, as notícias da manhã já são velhas a
essa altura do dia.
O café
se transformou numa perda de tempo para quem a celeridade é muito mais
importante, lembrando ainda, o jornal vendido pelo jornaleiro da esquina já não
existe, lembrei que a maioria das coisas se transformou eletronicamente para o
conforto de todos e desinformação da maioria. Espaços vagos são espaços
preenchidos, até que a novidade ali oferecida fique velha, portanto, superada,
nos próximos dias ou horas, caminhamos desatentos e desleixados, estamos nos
transformando em verdadeiras almas penadas todas em busca de reza sem saber
qual porta entrar, são tantas portas oferecidas em nome das religiões, muito
embora lhes falte o principal, a presença de Deus.
Finalmente,
após mais um dia de correria vamos ao descanso que nos propomos, recostamos
nosso corpo e nos deparamos com os noticiários noturnos. O Brasil é tragado
pelas chamas das labaredas no Norte do País, a seca perdura por muito tempo, as
queimadas são desastrosas, as autoridades reclamam que não há recursos para
resolvermos essa situação de penúria para os nativos que sempre sofreram nessa
época do ano. Os opositores ao Governo alegam que isso é um absurdo e carregam
o coturno do Capitão Bolsonaro de areia para que ele possa claudicar com mais
constância e que ele é o responsável pelo descaso para com as ONGs que
trabalham na região dos transtornos ecológicos.
Os
cuidadores da vida na selva, reconhecidamente os europeus, em maior escala,
levantam suas vozes e põem mais fogo na selva, como retaliação ao Presidente
Bolsonaro que no inicio do seu mandato escaramuçou com o Presidente Frances,
Emmanuel Macron, se volta contra o nosso País, alegando até proprietário da
nossa Amazônia, portanto, no direito de se impor criando obstáculos às nossas
exportações, sendo seguido por outros, dentre o Grupo do G-7, a Irlanda, as
duas seguindo para a difamação, textualmente falando, junto aos demais membros
que estão reunidos no território francês.
Por
conta desse incidente o mundo volta suas metralhadoras críticas em nossa
direção, nos acusando de responsáveis pela desgraça ambiental, para isso,
mostram ao mundo, fotos de incêndios provocados até mesmo em outras décadas e
outros locais, como se essas fossem reais e atuais tiradas onde os focos de
incêndios se transformam em chamas incontroláveis, no norte brasileiro. É uma
pena que a canalhice virtual tome conta do mundo real, o mais constrangedor é
que outras autoridades internacionais e mesmo nacionais trilhem por caminhos
tão abjetos,
Para
nós brasileiros, que amamos a nossa terra, independente de quem esteja no
controle da Nação, temos que renuir qualquer iniciativa de menosprezo com o
nosso País, sabemos que o Presidente da República tem agido com desacertos,
atuando como um juvenil arengueiro, de certa forma e em determinados momentos,
atuando destrambelhada e jocosamente, regimento críticas contrárias a sua
administração, principalmente quando incita usando despropérios a Polícia e
Justiça Federal, além do Coaf, hoje ex-órgão controlador, atingindo diretamente
o Ministro Sergio Moro da Justiça e Segurança Nacional, tão dedicado ao atual
Governo.
Essas
peripécias não se justificam, nem se coadunam dentro de um Governo que se diz
sério e por quem o povo brasileiro ainda lhe dedica respeito. Caso o Governo
Bolsonaro se estrangule e se desfaça, o único culpado do malogro será do
próprio Presidente que não soube, até agora, governar para todos, tento se
dedicado a uma restrita classe, priorizando sua própria família em detrimento
ao povo como o todo. Fica uma lição antiga, não se administra por exclusão,
somos irmãos da mesma Pátria, nesse caso, não há castas, nem credos, nem mesmo
ideologias, a Nação é a meta.
*Poeta e Escritor
Areia no Coturno do Capitão
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/25/2019 07:41:00 AM
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Um comentário
Texto maravilhoso, bem escrito e acima de tudo sensato...Arrepiou mesmo ...Genival de parabéns
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