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A natureza, o homem e a insensatez


 Genival Torres Dantas*


A mídia tem nos trazido informações, as mais diversas possíveis, sobre o que anda acontecendo com o nosso clima nos últimos tempos, inicialmente foi o fogo que destruiu pedaço das nossas matas nativas dentro da Amazônia Legal com grande alarde por parte da comunidade internacional. Na Austrália situação pior ocorreu por lá, entretanto a repercussão não foi nada comparável ao que ocorreu por aqui. 


Nos últimos dias e a partir de Janeiro o Sudeste brasileiro tem sido castigado pelas chuvas que têm caído principalmente entre o Espírito Santo, Minas Gerais e o Rio de Janeiro, tem trazido prejuízos com perdas de vidas e ocasionado prejuízos irreparáveis às cidades afetadas. No Espírito Santo várias foram as mortes contabilizadas tanto na sua Capital, Vitória como no seu entorno e o interior. As imagens geradas a partir das áreas atingidas foram fortes e desesperadoras, quem mais sofreu foi a população mais carente que normalmente moram em locais de encostas ou baixadas, lugares de preços mais acessíveis também de maior risco apresentado.

 

Belo Horizonte segue a mesma ritualística ficando a população mais carente bem próxima das localidades cujos terrenos apresentam custos inferiores e mais expostos às catástrofes da natureza, lá também o índice pluviométrico não foi menor que no Espírito Santo, e com a concentração das chuvas praticamente dentro de prazos curtos, dificultando o escoamento das águas e facilitando o maior número de ocorrências de desastres, com queda de árvores, imóveis e pontes, dificultando inclusive o acesso aos socorristas e voluntários na hora do salvamento das vítimas envolvidas.

 

No Rio de Janeiro a situação crítica não foi menor, vítimas fatais, queda de barreiras, pontes e imóveis com as mesmas características de possibilidades e falta de acuidade por parte da população que insistem em morar em locais de alto risco. Tanto no Rio de Janeiro como nos outros Estados envolvidos nesses fatos lamentáveis têm características bem próximas, a população não tem muito cuidado com o lixo urbano, em muitas situações exposto e jogados ao longo das avenidas e ruas, provocando o entupimento das galerias de esgotos que são tomados pelo grande volume de lixo acumulado nos seus canais de escoamento, estrangulando a passagem das águas das chuvas.

 

Principalmente nas cidades maiores, a administração pública tem o hábito de canalizar os pequenos rios e córregos que correm em seu subsolo e escondidos por entre canalizações projetadas para o escoamento das águas previstas sem adicionar nenhuma margem de segurança, quando ocorre o excesso fatalmente há o refluxo, natural nessas horas, as águas pedem passagem e quando não há espaço suficiente à situação que parecia simples vira tragédia. Convém ressaltar que essa é uma situação inerente às cidades brasileiras e em todos os Estados. O resultado é essa triste página que temos acompanhado no nosso dia a dia.

 

O Jornal O Estado de São Paulo fez uma série de reportagens sobre a Guerra das águas, elucidativa e oportuna, contando sobre o mal estar provocado sobre a situação das águas em várias regiões do Brasil e a dificuldade de se administrar esses recursos hídricos, chegando até mesmo a ocasionar guerra entre os membros das comunidades que necessitam desses recursos para sobreviverem. Em muitos casos viram assunto policial e de difícil solução.

 

Foi levantado que em São Paulo há seis conflitos por água a cada dia, principalmente quando há irrigação no uso da água para a lavoura e os mananciais são usados inadvertidamente, formando até mesmo cidades sem rio, uma calamidade, pois o homem é um animal que para sobreviver o uso da água é de suma importância.

 

No Centro-Oeste e com a construção de hidroelétricas a situação não é diferente, os rios tendem a se desviarem do seu leito natural, entre a escassez das águas, estação das secas, e o inverno, ou estação das águas, muitas vezes os ribeirinhos são deslocados para áreas sem acesso a esse líquido tão precioso, é uma situação nova que vem se transformando num problemas constante, não escapando nem mesmo os Estados de Goiás e Tocantins.

 

No Norte e Nordeste a situação não difere das demais regiões, o conflito pelo uso da água potável, para uso humano, tornou-se uma luta diária, entre fazendeiros, índios e até mesmo animais que precisam do uso desse recurso para também sobreviver em seu habitat. Já há até mesmo segurança armada em determinadas circunstancias, está se transformando na lei do mais forte e mais poderoso, contra o mais fraco.

 

A água que devia ser um recurso natural de alcance geral e irrestrito, principalmente pela sua necessidade extrema ao ser humano, aos outros animais e manutenção da agricultura como um todo. O que se tem percebido é até mesmo a reserva de mercado, desse produto, pelos grandes usuários, ficando restrito aos mais carentes apenas o resto, quando há resto, ou o produto encontrado no subsolo e de qualidade duvidosa pela alta concentração de salubridade. O que é mais intrigante é que a água canalizada por obras do Poder Público está ficando seletiva e direcionada a determinadas classes. É bom ficar claro que o dinheiro investido pelo Poder Público e coletado pelo governo, em nome do povo é para benefício do próprio povo, sem diferenciação e nem preconceitos.

 

O mais assustador é que até mesmo o Rio São Francisco, ou o velho Chico, como ele é carinhosamente tratado pelos seus ribeirinhos, esses merecem o respeito e a dignidade de todos, sem seletividade. No semiárido pernambucano foi constatado, para fazer uso das águas daquele rio para irrigação é necessário que se pague uma licença de R$ 3 mil, o controle é feito por câmeras. É de conhecimento público e notório que esses projetos, naquela região e explorado a partir do Rio São Francisco é de financiamento do Governo, dinheiro do povo, portanto uma situação condenável, se efetivamente isso estiver ocorrendo com o povo carente do nordeste.


Genival Torres Dantas

*Poeta, Escritor e Jornalista

genivaldantasrp@gmail.com
A natureza, o homem e a insensatez A natureza, o homem e a insensatez Reviewed by Clemildo Brunet on 2/06/2020 04:22:00 PM Rating: 5

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