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LEMBRANÇAS DE ROSIL CAVALCANTI, O CAPITÃO ZÉ LAGOA

Maciel (Foto)
MACIEL GONZAGA*
Neste dia 10 julho completam-se 41 anos da morte de Rosil Cavalcanti, um dos maiores compositores de seu tempo. Autor de sucessos como “Sebastiana”, “Na base da chinela” “Coco social”, “Coco do Norte”, todas gravadas por Jackson do Pandeiro, seu maior intérprete. Poucas pessoas sabem hoje que Rosil Cavalcanti residiu em Pombal por alguns anos e, em 1947, instalou em nossa cidade o Serviço de Alto-Faltantes Tupã, que durou três anos, até 1950. Ignácio Tavares, em artigo intitulado “No Tempo da Rádio Difusora Tupã”, publicado em 6 de junho de 2007, aqui mesmo neste Blog, faz referência a presença de Rosil Cavalcanti em Pombal.
Diz Inácio que “..em pouco tempo a Rádio Difusora Tupã, passou a ser o centro das atenções e logo conquistou corações e mentes do povo da terrinha..”. “...de forma engenhosa e inteligente, o jovem empresário implantou um tipo de jornalismo até então desconhecido pelo povo. As noticias, que eram garimpadas e catalogadas pela sua secretaria e esposa, abrangiam todos os recantos do Brasil, do Estado, afora o noticiário local. As informações eram repassadas através de auto-falantes localizados em pontos estratégicos da cidade...”. “...dessa forma, a questão do desrespeito a pessoa humana, passou a ser a âncora do jornal diário da Rádio Difusora Tupã. Centenas de pessoas acotovelavam-se em frente ao estúdio, para escutar os editoriais, que eram lidos antes do inicio do jornal de cada dia, escritos caprichosamente pelo editor do jornal. Rosil sabia muito bem o risco que estava correndo, diante das posições assumidas contra grupo em questão. Corajoso e destemido, em nenhum momento curvou-se à pressão da força repressora udenista, em assim sendo, continuou a deitar falação e denunciar firmemente os atos de barbárie cometidos contra as pessoas indefesos. O seu propósito era o de acabar, de uma vez por todas, com esse tipo de agressão perversa e gratuita. Não tardou, numa certa noite, quando encerrou a sua programação foi atacado por desconhecidos de forma brutal e humilhante. Diante do quadro de terror que se instalou na cidade, resolveu definitivamente sair de Pombal e decidiu fixar residência em Campina Grande”.
De família tradicional na política de Pernambuco, Rosil de Assis Cavalcanti, que nasceu no dia 20 de dezembro de 1915, em Macaparana-PE, trabalhou durante toda sua vida como funcionário público – era fiscal de renda. Seu primo de segundo grau, Joaquim Francisco chegou a ser governador do estado. Mas a paixão de Rosil era outra: compositor, ator, radialista. Ao deixar Pombal e se fixar em Campina Grande, em 1951 Rosil Cavalcanti entra definitivamente para o rádio como redator na Rádio Caturité, recém inaugurada por Drault Ernani, onde lançou o programa Rádio Atrações. Culto e talentoso, dono de uma forma poética típica da nossa “nordestinidade”, que se algum crítico, algum dia procurar caracterizar, rotular, necessariamente falará de um “realismo nordestino”, Rosil não conseguia conter o seu impulso artístico.
Dupla Café com Leite Jakson e Rosil (Foto)
Chegou a formar a dupla caipira “Café com Leite” com um rapaz conhecido como Jack, que mais tarde seria o famoso Jackson do Pandeiro. Logo depois foi trabalhar na Rádio Borborema, onde criou um programa de noticiário policial “Radar”, ancestral de qualidade desses folhetins que se tornaram os boletins policias das emissoras de rádio de hoje em dia.
Mas, o grande sucesso de Rosil foi o “Forró do Zé Lagoa”. Programa de forró que animava as noites da Rainha da Borborema, do Cariri ao Brejo, onde chegavam as ondas sonoras da emissora dos Diários Associados. As pessoas paravam para ouvir o Zé Lagoa. A Rádio Borborema tinha auditório e o programa era transmitido do auditório, ao vivo. Ali se fez concurso de sanfoneiro, de dançarino, de beleza, de teatro, etc. Na realidade era uma rádio-teatro. Rosil tinha um carisma impressionante e cativava todos e todas. Os artistas famosos da Rainha da Borborema e de todo o Nordeste tinham presença garantida nos finais de semana. Muitos cantores passaram por lá ainda como calouros, como Genival Lacerda, Zé Calixto, Marinês e Abdias. Como compositor Rosil Cavalcanti é inigualável. Teve dezenas músicas gravadas por Jackson do Pandeiro, como “Cabo Tenório”, “Lei da Compensação”, “Quadro Negro”, “Forró na Gafieira”, “Na Base da Chinela”, “Aquarela Nordestina”, o clássico “Sebastiana”, entre outros. A ainda teve canções gravadas pelo Trio Nordestino, Zé Calixto, Genival Lacerda, Anastácia, Ary Lobo, Luiz Gonzaga, entre muitos outros. O Capitão "Zé Lagoa" (Foto)
Tinha um grande defeito: era birrento, pegava ar por qualquer coisa. Em 1978, durante um almoço no Restaurante Manuel da Carne de Sol, em Campina Grande, o Rei do Baião – Luiz Gonzaga – me contou essa história: havia se desentendido com Rosil por conta da uma alteração que a gravadora RCA Victor exigiu que fosse feita em uma música de Rosil. Ele não gostou e deixou de falar com o “velho Lua”. Ficaram quase um ano sem se falar. Eis que Gonzagão vem a Campina e pede a Zé Bezerra para intermediar uma conversa com Rosil. Os dois se encontram, mas a conversa foi pouco produtiva. Luiz Gonzaga se encarregou de cumprimenta-lo, perguntar como estava a patroa, dizer que estava com saudades de notícias suas, etc. e tal. Rosil pouco falou, pediu licença, disse que ia ter que trabalhar e se retirou. Trancou-se em uma sala e poucos minutos depois entregou a Luiz Gonzaga um papel datilografado com esta, que considero uma das músicas mais bonitas de sua autoria (“Amigo Velho), gravada em 1963 por Gonzaga: “Ô amigo velho, como vai, como passou? / Pedi notícia sua, porém você não mandou / Me diga como vai sua distinta família / Como vai aquela jóia que é sua linda filha / Como vai seu filho, tipo do rapaz perfeito / E sua senhora, lhe transmito meu respeito / Amigo velho foi prazer ter lhe encontrado / Eis aqui um forte abraço desse seu menor criado / Você está mais forte, bem disposto e humorado / Parece vender saúde, deve andar bem sossegado / Logo que cheguei, pretendia lhe avistar / Porém lhe vendo agora, quero lhe cumprimentar / Amigo velho depois eu falo consigo / Dê licença a seu amigo, que vou ter que trabalhar. Esta letra retrata simplesmente o encontro dos dois, que fizeram as pazes, se abraçaram e choraram muito.
Rosil Cavacanti, no auge da Carreira 1955 (Foto)
No dia 10 de julho de 1968, no início da tarde, Rosil se sentiu mal quando descansava sob a sombra de uma Quixabeira em uma fazenda próxima a Campina Grande. Pediu um chá para “desempachar”, reclamou mais uma vez do mal-estar e anunciou: vou pra Campina, não estou bem. Na noite daquele dia, como em todos os outros, moradores, trabalhadores rurais, fazendeiros e a população daquela área em geral se aglutinava nas casas onde havia um Rádio, daqueles grandes, para ouvir o Forró de Zé Lagoa.
Em vez da música introdutória, se ouviu uma voz fúnebre anunciando o falecimento do poeta da caatinga, dos cariris, do Nordeste. Campina Grande assistiu a mais profunda comoção que a atingira. Desaparecera subitamente sua síntese poética, suas alegrias e suas tristezas. Nesse dia, macambiras e xiquexiques murcharam. Juritis, asas brancas, ribaçãs arribaram. O povo, a população simples e pobre das periferias de Campina e dos municípios vizinhos se encerrou em luto. Campina Grande não comportou a quantidade de pessoas para o último adeus ao poeta que a cidade adotou. Rosil Cavalcanti não pode ser esquecido.
*Pombalense, Jornalista, Advogado e Professor – Natal RN.
LEMBRANÇAS DE ROSIL CAVALCANTI, O CAPITÃO ZÉ LAGOA LEMBRANÇAS DE ROSIL CAVALCANTI, O CAPITÃO ZÉ LAGOA Reviewed by Clemildo Brunet on 7/09/2009 02:19:00 AM Rating: 5

2 comentários

Unknown disse...

Muito oportuno o artigo sobre o nosso Rosil Cavalcanti, um dos maiores ícones da música popular brasileira, dos ritmos nordestinos como coco, baião, xote dentre outros.

Pombal é privilegiada por contar em sua rica história, a participação de Rosil Cavalcanti, quando morou nessa cidade por alguns anos, chegando a se integrar, a se envolver com a sociedade pombalense, a ponto de participar de apresentações culturais e até a compor gilgle político para candidato em eleição na época.

Parabens pelo artigo.

Rômulo C. Nóbrega

Unknown disse...

Tive o grande privilégio de assistir alguns de seus programas ao vivo,
no auditório da rádio Borborema.

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